Alguns serviços do Hospital de Faro têm estado com falhas de material que dificultam a gestão dos internamentos e cirurgias. Ao que o SOL apurou, a sobrelotação do serviço de urgência levou a que passasse a ser feito um levantamento diário da disponibilidade dos serviços cirúrgicos para admitirem doentes, mas além da falta de camas os profissionais têm reportado falhas ao nível do material. Num dos serviços não havia esta semana lençóis para fazer as camas e no bloco operatório estiveram em falta compressas de maior dimensão, necessárias para algumas operações. Uma avaria na esterilização terá também condicionado a disponibilidade de material para operação, tendo numa ocasião o médico recorrido a material seu para proceder à esterilização e assim permitir que o doente fosse operado. O SOL teve conhecimento de pelo menos um caso em que a operação foi adiada por falta de material para operar. Houve também serviços que reportaram a falta de resguardos descartáveis, de vestuário para doentes e de fardas para o pessoal.
Questionado pelo SOL, o conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, que integra os hospitais de Faro e de Portimão, esclareceu que tem havido neste início de ano nota de algumas «dificuldades pontuais», por parte de alguns fornecedores, em abastecer com a regularidade normal.
O centro hospitalar salienta que esta é uma dificuldade alheia à instituição e que tem sido ultrapassada com a «partilha de recursos e trabalho conjunto» entre os armazéns de logística dos dois hospitais, garantindo que o fornecimento aos serviços ocorre sem falhas. A unidade garantiu também não ter registo de adiamento de cirurgias por falta de material.
No que diz respeito à sobrelotação, o centro hospitalar adianta que a afluência ao serviço de urgência é «a expectável para esta altura do ano», semelhante à registada em anos anteriores. E informa que estão a ser cumpridos os tempos de observação recomendados pelo sistema de triagem de Manchester. Para responder a eventuais picos de pressão, a unidade assegura ainda que tem acionado o plano de contingência para ocupação elevada.
O SOL apurou que perante a falta de camas, mesmo com a abertura de camas suplementares no âmbito do plano de contingência, alguns doentes têm permanecido internados em macas – sendo que o hospital regista por esta altura camas ocupadas com doentes já referenciados para a Rede Nacional de Cuidados Continuados ou a guardar resposta da Segurança Social. A administração do centro hospitalar não adiantou ao SOL quantos doentes ao todo estão nesta situação.
Nos últimos anos tem havido alertas dos administradores hospitalares para que seja garantida uma resposta mais célere aos chamados internamentos sociais, que nas alturas em que se verifica um pico de procura dificultam ainda mais a gestão dos internamentos.
Segundo o último Barómetro de Internamentos Sociais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, este ano no dia de fevereiro que serviu de base ao estudo havia no SNS 829 camas ocupadas com internamentos inapropriados, o que corresponde a 5% das camas disponíveis no Serviço Nacional de Saúde. O estudo estimou um impacto financeiro de cerca de 83 milhões de euros por ano com estes internamentos de doentes a quem não é possível dar alta quando existe indicação clínica por motivos sociais.