Campanha aquece no CDS e João Almeida soma apoios

Magalhães, Mesquita Nunes e Francisco Mendes da Silva declararam apoio a João Almeida. Mas o Congresso é soberano.

A campanha para a eleição do substituto de Assunção Cristas começa a aquecer. Depois da troca de galhardetes entre membros do partido na rede social Facebook, há quem apele a um maior entendimento entre as partes. A verdade é que enquanto alguns candidatos dedicam o seu tempo ao Facebook, João Almeida soma apoiantes: só esta semana, três figuras com peso no partido manifestaram-lhe o seu apoio.

Nuno Magalhães, líder parlamentar durante quase dez anos, revelou, esta semana, que apoia João Almeida. «Quer do ponto de vista da moção em si, quer do perfil – sendo suficientemente novo para se falar de renovação, mas ao mesmo tempo suficientemente experiente para se poder falar em experiência de governação – considero que João Almeida reúne as melhores condições» para liderar o CDS-PP, diz o antigo líder da bancada parlamentar ao SOL.

Apesar de apoiar João Almeida, Nuno Magalhães reconhece qualidades nos seus adversários, admitindo que se revê em algumas ideias das outras duas candidaturas mais fortes. «O Francisco Rodrigues dos Santos é um quadro que o CDS deve acarinhar e o Filipe Lobo D’Ávila é um valor já afirmado com experiência governativa», descreve o ex-deputado.

João Almeida também recebeu, esta semana, o apoio de Adolfo Mesquita Nunes e Franscisco Mendes da Silva. Este último escreveu até uma crónica no Jornal de Negócios a explicar o porquê de apoiar esta candidatura. «Conheço e aprendo há vinte anos com as qualidades de João Almeida: a inteligência, a sensatez, a cultura política, o espírito convicto mas nunca dogmático. Mas a razão fundamental do meu apoio é outra: de todos os candidatos, é ele o que quer com mais clareza um CDS alinhado com a sua vocação de abrangência», lê-se na crónica publicada na quarta-feira.

Mas a crónica gerou alguma tensão dentro do partido. A certa altura, Mendes da Silva descreve a intenção dos outros candidatos de quererem «encostar o CDS o mais possível à direta». O presidente da distrital de Viseu vai mais longe e acusa Francisco Rodrigues dos Santos (conhecido como Chicão) de querer «reposicionar (palavra do próprio) o partido ao lado da ‘nova direita’ – assim precisamente chamada – de Trump, Bolsonaro, Salvini, Abascal ou Orbán».

Ora, esta crítica não caiu bem ao líder da JP, que usou a caixa de comentários da publicação de Mendes da Silva – que partilhou a sua crónica com os seus seguidores – para contrapor o autor do texto, acusando-o de estar cada vez mais próximo dos seus «colegas de painel à esquerda», numa referência ao programa do Canal Q Sem Moderação. «Francisco, assusta-me pensar que este artigo poderia ter sido escrito exatamente nos mesmos termos e recorrendo ao mesmo nível (baixo) de argumentos por qualquer um dos teus colegas de painel à esquerda. Colares a nova direita aos personagens que elencas, quando nunca os citámos nem apresentámos como referência, demonstra bem que a tua capacidade de crítica está mais ao nível da Isabel do que do Professor Adriano», critica. 

Mendes da Silva não se ficou e acusou o candidato de lançar «acusações típicas dos sectários».

Quem também não gostou da crónica de Francisco Mendes da Silva foi Filipe Lobo d’Ávila. O candidato não gostou que o presidente da distrital de Viseu o ignorasse na sua crónica e acusou o autor do texto de querer centrar a disputa entre João Almeida e Francisco Rodrigues dos Santos.

«As razões do teu apoio são em grande parte as razões da minha candidatura, que intencionalmente ignoras. Dá jeito, faz parte da cartilha, mas esta disputa não é a dois», escreveu Lobo d’Ávila nos comentários da publicação. Mendes da Silva explicou que o artigo foca-se, sim, no apoio a João Almeida e não nos restantes candidatos, garantindo que nutre «muito respeito» pela sua candidatura. Quem não se pronunciou na caixa de comentários foi João Almeida, que continua a usar as redes sociais apenas para promover iniciativas ligadas à campanha.

 

Limpar a casa

O CDS deve deixar as guerras para trás e aproveitar o congresso do próximo fim de semana para pôr tudo em pratos limpos e organizar a casa. Até porque, como alerta Nuno Magalhães, não se pode esquecer que o país vai estar atento e que há uma imagem a manter. O antigo líder parlamentar acredita que este congresso será «um congresso vivo, com debate», mas alerta para a necessidade de existir alguma contenção nos temas discutidos e na forma como o debate flui: «temos de ter todos a consciência de que é necessário salvaguardar a imagem do partido. O país vai estar a ver. Creio que as pessoas estão mais interessadas nas propostas do CDS do que propriamente na vida interna do partido ou na discussão sobre a pureza ideológica do CDS», diz ao SOL.