O que aconteceu aos primeiros 425 doentes infetados com o novo coronavírus? Novo estudo revela

Investigadores calculam que a transmissão entre pessoas terá começado mais cedo do que se pensava e que cada doente infetado contagiou pelo menos duas pessoas.

Um estudo publicado esta quinta-feira no “New England Journal of Medicine” revela o historial dos primeiros 425 casos confirmados em Wuhan para o novo coronavírus. Ao contrário do que se pensava até aqui, a equipa de peritos chineses acredita que a transmissão entre humanos terá começado ainda em dezembro. Recorde-se que o contágio de pessoas que tiveram contacto direto com doentes, nomeadamente profissionais de saúde, veio a público apenas a 15 de janeiro. Até aqui pensava-se que se tratava de um surto ligado sobretudo ao contágio a partir de animais infetados. Os peritos acreditam que a transmissão na comunidade terá começado mais cedo e que foi isso que determinou a propagação do surto.

Os investigadores, entre os quais elementos do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da província de Hubei, revelam que a média de idades dos primeiros 425 doentes confirmados foi de 59 anos e 56% eram homens. A maioria dos doentes que manifestaram sintomas antes de 1 de janeiro (55%) tinham ligação ao mercado de Huanan, encerrado neste mesmo dia, mas a partir daí apenas 8,6% dos doentes tinham estado recentemente no mercado. O tempo médio de incubação do vírus, antes de aparecerem sintomas, foi de 5,3 dias, com alguns casos a estenderem-se a 12,5 dias. A equipa revela que na fase inicial do surto, a epidemia duplicou a cada sete dias, considerando que a capacidade de reprodução do vírus nas primeiras semanas foi de 2,2, ou seja, que cada pessoa infetada infetou pelo menos outras duas. “Tendo por base esta informação, há evidência de que a transmissão entre pessoas ocorreu entre contactos próximos desde meados de dezembro. Serão precisos esforços consideráveis para controlar surtos semelhantes se esta dinâmica se aplicar noutros locais”, alertam.

Uma agulha no palheiro

A publicação revela que a 29 de dezembro tinham sido reportados em Wuhan quatro casos de “pneumonia de etiologia desconhecida”, uma classificação estabelecida depois da epidemia de SARS em 2003 no sentido de permitir o alerta precoce para novos patogéneos. Foi isso que fez ativar a investigação epidemiológica. A partir daí foram feitas entrevistas a doentes, familiares e profissionais de saúde. Os investigadores assinalam que neste primeiro grupo de doentes não havia crianças com menos de 15 anos e que a maioria dos doentes tinha mais de 60 anos. “As crianças podem ter menos probabilidade de ser infetadas ou, no caso de infeção, apresentar sintomas ligeiros”, acrescentam. “Apesar de terem sido detetadas infeções em profissionais de saúde, a proporção não é tão elevada como na epidemia de SARS”.

Os investigadores dizem que o período entre o aparecimento de sintomas e a procura de cuidados médicos foi curto, com 27% dos doentes a procurar o médico dois dias depois do aparecimento da doença, mas a maioria só foi hospitalizada cinco dias depois, o que aponta para dificuldades em isolar os doentes na fase inicial da epidemia. A equipa considera que, com base no período de incubação destes doentes, faz sentido recomendar um período de 14 dias de observação médica ou quarentena para pessoas que possam ter estado expostas ao vírus. Os investigadores concluem dizendo que são necessárias medidas urgentes para identificar as medidas mais eficazes para reduzir a transmissão na comunidade.

 

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