Morreu a matemática negra que alcançou o espaço

Katherine Johnson foi essencial para calcular a trajetória das primeiras missões espaciais. O seu contributo esteve esquecido durante décadas.

A matemática Katherine Johnson era conhecida por ter a precisão de um “computador humano” – uma característica essencial para que calculasse a trajetória das primeiras missões espaciais da NASA, bem como para mapear a superfície da Lua antes da aterragem da Apollo 13, em 1969. Também era mulher e negra, em plena segregação: só se tornou publicamente conhecida pelos seus feitos décadas depois, com o lançamento do livro Elementos Secretos, adaptado a filme em 2016, contando a sua história. “Algumas coisas saem da vista do público e desaparecem, mas haverá sempre ciência, engenharia e tecnologia. E haverá sempre, sempre, matemática”, disse certa vez Johnson, conforme se lê no post da NASA que anunciou a sua morte.

Johnson, nascida numa pequena cidade na Virgínia Ocidental, em 1918, desde cedo mostrou o seu intelecto – acabou o ensino secundário aos 14 anos e licenciou-se aos 18. “Contava tudo. Contava os passos na rua, os passos na igreja, a loiça que lavava… tudo o que podia ser contado, eu contava”, contou a pioneira do espaço. Depois de trabalhar como professora e de ser dona de casa, foi recrutada como matemática pelo antecessor da NASA, o Comité Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica (NACA em inglês), em 1953: os tempos eram de Guerra Fria e a corrida ao espaço entre a União Soviética e os Estados Unidos estava a aquecer.

Mesmo quando recebeu a tarefa de analisar a trajetória da missão de Alan Shepard, o primeiro norte-americano a chegar ao espaço, em 1961, Johnson continuou a trabalhar numa área em que negros e mulheres eram segregados: a matemática e as suas colegas eram apelidadas de “computadores de saias”. Quando se reformou, em 1986, o contributo da matemática já fora essencial em programas como Mercury e Apollo. 

“O seu legado de excelência derrubou barreiras raciais e sociais”, escreveu no Twitter a NASA. Johnson acabou por receber a Medalha Presidencial para a Liberdade em 2015, pelo então Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que a citou no seu discurso do Estado da União desse ano como exemplo de espírito de descoberta.