O insulto racista ao jogador Marega, do Futebol Clube do Porto, foi ‘apenas’ mais uma expressão de um fenómeno crescente de violência no futebol, mas que acontece com frequência, também crescente, nos mais diversos aspetos da vida em sociedade. Os jogos de futebol há muito que são ambientes de agressividade entre os jogadores, no público e até entre os comentadores televisivos. Na sociedade assiste-se a relatos de atos violência contra médicos, professores e até contra a polícia. A reação a estes fenómenos tem sido a indiferença ou a indignação inconsequente.
Quem assiste a jogos de futebol nos estádios confronta-se invariavelmente com insultos racistas ou outros, com atos de vandalismo e de violência num ambiente de agressividade que começa ainda fora do estádio. Ir ao futebol em família tornou-se uma prática arriscada. A insólita imagem das ‘caixas de segurança’ das ‘claques’ passou a fazer parte de qualquer jogo de futebol sem que as pessoas se questionem sobre quão contraditório é este ambiente num espetáculo que deveria ser de convívio e de celebração.
A televisão transmite, em todos os canais, quase todos os dias, programas, ditos desportivos, com comentadores que passam parte do tempo a discutir os ‘casos’ do futebol, a pôr em causa a ‘verdade desportiva’ em debates agressivos, com facciosismo e com acusações mutuas que acabam, por vezes, por ser inspiração para o ambiente de agressividade em torno dos jogos de futebol.
Nos jogos entre equipas de crianças e jovens é frequente observar os pais a injuriar árbitros e adversários, dando exemplos inadmissíveis de comportamento aos seus filhos.
O futebol, que atrai a atenção de milhões e que poderia ser uma expressão prática dos princípios saudáveis do desporto e do convívio social, transformou-se num ambiente de violência preocupante.
Muitos assistem, todos conhecem, mas parece que estas más práticas são tidas como inevitáveis ou até ‘normais’.
Enquanto noutros países foram tomadas medidas radicais mas que se revelaram eficazes no combate à violência no desporto, especialmente no futebol, em Portugal continua a assistir-se a atos inadmissíveis sem que sejam tomadas medidas eficazes para pôr cobro a comportamentos marginais.
O ‘caso Marega’ serviu para denunciar a violência e, no caso, o racismo no futebol e permitiu reunir um consenso de repulsa por estas atitudes. Mas não basta a censura com palavras. Importa que se criem as condições legais e de autoridade da polícia para que as sansões à violência em recintos desportivos sejam efetivas, exemplares e dissuasoras destas atitudes.
Outros atos de violência particularmente censuráveis que vêm sendo notícia, como alunos ou pais de alunos que agridem professores ou pacientes que agridem médicos, são sintomáticos de uma sociedade doente e devem merecer uma atitude enérgica por parte das autoridades.
A violência na sociedade tem de ser contida e exemplarmente punida. Os atuais mecanismos, a par com a atitude perante os mesmos revelam não serem adequados para os contrariar. Além da responsabilidade na educação e na formação, importa manter a capacidade de indignação, a exigência na ação e a criação de condições para a punição adequada.