Matemático prevê mil casos na próxima semana

Medidas agora tomadas só vão repercutir-se no abrandamento de casos dentro de oito a dez dias, diz Óscar Felgueiras.

Matemático prevê mil casos na próxima semana

É possível prever a evolução da epidemia? O exercício tem estado a ser feito por matemáticos e epidemiologistas. Óscar Felgueiras, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, tem estado a acompanhar os dados estatísticos do coronavírus e a projetar o aumento de casos para Portugal.  Ao SOL, o investigador que trabalha no estudo estatístico de doenças infecciosas, como tuberculose, estima que Portugal passe a barreira dos mil casos confirmados no final da próxima semana.

As medidas agora tomadas como encerramento de escolas deverão começar a repercutir-se no abrandamento de novos casos oito a dez dias após entrarem em vigor, explica, dado o período médio de incubação do vírus (cinco dias) e o desfasamento entre início de sintomas e diagnóstico, uma janela temporal de aproximadamente oito dias. Assim, é provável que Portugal já tenha atualmente mil pessoas infectadas, que nos próximos dias poderão procurar os cuidados de saúde, e é expectável que Portugal passe os 2 mil casos confirmados com o aumento diário de doentes antes de haver um abrandamento na propagação da doença. (Ver gráfico)

Óscar Felgueiras explica que as previsões têm por base uma média do crescimento diário de casos até esta sexta-feira, de 45%, que coincide com a trajetória da epidemia noutros países. «Tendo em conta que nos últimos oito dias não houve aparentemente medidas fortes de restrição à propagação do vírus é de esperar que os valores para já se mantenham dentro dos intervalos apresentados», diz Óscar Felgueiras, admitindo também que Portugal ter iniciado a epidemia mais tarde do que outros países enquanto se manteve a circulação de pessoas pode levar a uma expansão mais rápida. Tudo vai depender das medidas tomadas e da adesão da população. O matemático junta-se ao apelo para que as pessoas fiquem em casa e só saiam para o «estritamente necessário», considerando que o fecho das escolas não será suficiente e que o teletrabalho será vital nesta fase. «Neste momento é tecnicamente impossível controlar todos os casos que aparecem. Ligar para a Saúde 24 agora pode demorar horas até que se seja atendido. E não estamos ainda na fase pior, longe disso. Tem de se fechar tudo o que é possível fechar no mínimo por duas semanas. E aguardar que os efeitos dessa medida sejam visíveis ao fim de cerca de 10 dias para reavaliar a situação. Não se espere efeitos imediatos. Veja-se Itália com número recorde de 2651 novos casos na quinta-feira apesar de já terem fechado tudo».