Tudo suspenso: Do turismo às grandes obras

A necessidade do novo aeroporto de Lisboa deverá, para já, ficar suspensa. O mesmo acontece com o turismo e com a compra de casas. A culpa é do impacto da pandemia. Leia também a opinião de António Bagão Félix, António Saraiva, Ferraz da Costa, Filipe Pinhal, Eugénio Rosa, e Arménio Carlos.

Obras paradas, indústria também. O mercado imobiliário está suspenso. É este o retrato do país em consequência da pandemia da covid-19. E os dados não são animadores. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) foi ‘obrigada’ a rever em baixa o crescimento económico mundial este ano em 0,5 pontos percentuais, para 2,4% – face aos 2,9% previstos há quatro meses. Ao mesmo tempo vão surgindo múltiplos apelos para se concretizarem várias ajudas financeiras.

Também a Moody’s lembrou «que a disseminação global do coronavírus está a resultar num choque simultâneo na oferta e na procura», acrescentando esperar que «estes choques desacelerem materialmente a atividade económica, particularmente na primeira metade do ano».

Todas estas incertezas já levaram o ministro das Finanças a acenar com a necessidade de levar a cabo um Orçamento Retificativo (ver págs. 58 e 59). O que é certo é que as grandes obras públicas vão ficar em suspenso. Uma das obras mais emblemáticas é o novo aeroporto do Montijo. ‘Guerras’ à parte, em torno da localização desta infraestrutura, a redução do número de voos que tem sido anunciada pelas várias companhias aéreas deixa para segundo plano a necessidade urgente de criar um novo aeroporto – que teria o objetivo de fazer face ao esgotamento da Portela.

A par disso há que contar também com a interrupção de outro tipo de obras. E, de acordo com os responsáveis do setor, os números falam por si: a paralisação da atividade irá gerar uma redução de 1,77 mil milhões de euros no volume de negócios, mantendo-se uma despesa mensal a suportar de 435 milhões de euros – relativos aos encargos com salários e remunerações dos 306 mil trabalhadores atualmente registados ao serviço das empresas – e a que acrescem 58 milhões de euros de encargos mensais de financiamento destas empresas junto do setor financeiro. «A tesouraria das empresas de construção sofre um impacto direto estimado em 493 milhões de euros, gerando uma crise de liquidez imediata, com impacto transversal que seria um verdadeiro desastre económico e social», refere a AICCOPN e a AECOPS.

 

Turismo: outro lesado

A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) já tinha avançado projeções a nível nacional, apontando que os hotéis iriam perder, no espaço de quatro meses (de 1 de março a final de junho) cerca de 4,4 milhões de dormidas, o equivalente a receitas de 500 milhões de euros, num cenário de queda de 30% face a 2019.

Mas num cenário de queda de dormidas na ordem dos 50%, as perdas para os hotéis nacionais poderá rondar 7,3 milhões de março a junho, equivalente a menos 800 milhões de receitas.

Já a Neoturis, consultora especializada em turismo, apresenta um cenário mais negro, ao garantir que as perdas neste setor poderão atingir cerca de 2,2 milhões de euros por dia, contando a partir de 1 de março até 31 de dezembro de 2020.

De acordo com a mesma, a taxa de ocupação por quarto nos hotéis da região de Lisboa, que em 2019 se situou nos 76,1%, deverá cair mais de 30 pontos percentuais, ficando-se nos 45,6% em 2020. E os proveitos totais por quarto ocupado na hotelaria de Lisboa, que se situaram nos 182 euros em 2019, baixarão para 146,8 euros em 2002, significando uma queda de 19,3%.

 

A opinião de seis personalidades sobre o impacto na economia. Clique na omagem para ler na íntegra.

A ameaça e o desafio, por António Bagão Félix

"Assistimos a uma Europa sem alma, sem comando, cheia de tiques de correcção política, palavrosa e convertida em euros. Deixámos de ter estadistas que viam longe, para dar lugar à política que não enxerga para além do curtíssimo prazo".

 

Lições a aprender, por António Saraiva

"Ninguém passa incólume por uma crise destas dimensões. O endividamento terá aumentado, assim como os seus custos. Nem todas as empresas resistirão".

 

Vamos estar em queda livre sem saber muito bem até quando, por Ferraz da Costa

"Acho que as medidas que foram lançadas são muito pequenas. E se formos realistas, percebemos que podiam ser muito maiores. Mas estar a manter emprego artificialmente em atividades onde o emprego deixou de haver clientes não é possível. E um país a viver sem qualquer orientação estratégica – e é nisso que Portugal vive há 20, 30 ou 40 anos".

 

Uma nova ordem? Pois claro!, por Filipe Pinhal

"Para o bem e para o mal, a economia está globalizada, o que faz com que todos dependam de todos, embora, como sempre acontece… uns sejam mais iguais que outros".

 

Esta pandemia obriga a repensar a globalização, por Eugénio Rosa

"Esta pandemia mostrou que a solidariedade entre países é uma mera palavra. Quando surge uma crise cada um preocupa-se apenas consigo".

 

Tempo de salvar vidas e impedir a recessão económica, por Arménio Carlos

"Nesta ‘guerra’ que é de todos e para todos não se podem proteger os ‘generais’ deixando os ‘soldados’ entregues à sua sorte".