João Bento dá reviravolta aos correios

Desde a privatização, os CTT perderam 48 milhões. Em termos de trabalhadores, a empresa tem mais 209 colaboradores. Quanto à rede, tem menos 84 lojas, mas mais 137 postos.

Nova liderança, novos resultados. Os Correios fecharam 2019 com lucros de 29,2 milhões de euros, o que representa um crescimento de 35,8% face ao ano anterior. Parra o seu presidente executivo,  João Bento, estes resultados «confirmam que os CTT estão a seguir a estratégia acertada, diversificando as áreas de negócio e sem perder de vista o correio tradicional». Bento lembra que 2019 foi um ano de transição, «com um novo impulso e um novo rumo para os CTT, que resultou num aumento do resultado líquido». Uma alteração face à liderança anterior de Francisco Lacerda, sendo que o contrato de concessão do serviço universal postal termina dentro de meses (acaba em dezembro).

O Governo não tem descartado a hipótese de voltar a entrar no capital dos Correios. O ministro das Infraestruturas e da Habitação tem vindo a garantir que a entrada do Estado no capital dos CTT «não está excluída», embora não admita que seja para já. Pedro Nuno Santos frisou também que «só há quatro países que têm empresas de correios totalmente privatizadas» – Holanda, Reino Unido, Malta e Portugal – e, como tal, não está excluído «nenhum cenário». 

O certo é que, sob a liderança de João Bento, temos vindo a assistir a um reversão em termos de fecho de balcões. Nos últimos meses, os Correios anunciaram a abertura de estações. Já em junho do ano passado, o atual CEO tinha garantido que a prioridade dos Correios é a aproximação aos clientes. «A minha primeira prioridade é a aproximação dos CTT aos nossos clientes e os nossos clientes são o povo português». disse o responsável, garantindo que «está decidido que não vai haver mais encerramentos de lojas».

Uma garantia que foi agora reforçada durante a apresentação de resultados referentes ao ano passado, já que o «plano de reabertura de lojas está em curso» e a empresa vai «continuar a investir na melhoria da nossa operação e na implementação do plano de modernização e investimento», o que, no entender da empresa, irá permitir «dotar os CTT dos recursos necessários para a modernização da rede postal e logística, reforçando a qualidade do serviço e melhorando as condições de trabalho dos nossos colaboradores» – palavras de João Bento.

Uma estratégia  que, entretanto, está a sofrer com o impacto da pandemia covid-19. Ainda esta semana, a empresa anunciou que vai implementar o atendimento à porta fechada e encerrar 18 lojas devido à ausência de colaboradores. Assim, as lojas CTT vão ter no interior apenas os clientes que estão a ser atendidos, mantendo no exterior os que estão em fila de espera, «de forma a minimizar a permanência de clientes em loja e para garantir o distanciamento entre cada cliente». Além disso, as lojas dos CTT vão sofrer reduções de horário e 18 delas serão encerradas: Buarcos (Vila), Boavista (Oaz), Cesar, Espargo, Travessa (São João da Madeira), Arcozelo (Vila Nova de Gaia), Mesão Frio, São Pedro da Cova (Gondomar), Vila Nova Foz Côa, Cantarias (Bragança), Santa Tecla (Braga), Caxinas (Vila do Conde), Parque (Matosinhos), Praia (Póvoa de Varzim), Gil Eanes (Portimão), Olhos de Água, Sines e Santo António dos Cavaleiros.

 

Quebra no correio tradicional

Segundo a empresa, os principais indicadores económico-financeiros mostram um crescimento sólido. «A 321 Crédito está a dar um importante contributo para os resultados do Banco CTT», diz o responsável dos Correios, confiante que irá ter bons resultados com as alterações implementadas em Espanha. «Apesar da queda prevista no correio tradicional estimamos um crescimento nos rendimentos operacionais em 2020, sustentado por desenvolvimentos orgânicos das alavancas de crescimento e pelo contributo da 321 Crédito», salienta.

Os rendimentos operacionais registaram um aumento de 4,6% em 2019 face a 2018, para 740,3 milhões de euros. «De destacar o forte crescimento no quarto trimestre de 2019, aumentando 9,6% face ao período homólogo, para 200,7 milhões de euros», diz a empresa.

O EBITDA dos CTT aumentou 12,2% face a 2018, para 101,5 milhões de euros, sobretudo devido ao crescimento orgânico e inorgânico do Banco CTT e também dos serviços financeiros.

Os rendimentos operacionais de correio no quarto trimestre de 2019 ficaram praticamente em linha com o período homólogo de 2018 (-0,2%), totalizando 125,7 milhões de euros. Em 2019, situaram-se em 484,6 milhões de euros, (-2,1%) face a 2018. «Esta redução resulta fundamentalmente do efeito conjugado da queda dos rendimentos do correio endereçado (-2,1%) e da filatelia (-17,3%), atenuado pelo forte crescimento dos rendimentos do correio internacional de chegada (+20,4%) e do correio internacional de saída (+9,3%) que foi influenciado positivamente pelos envios associados ao processo das eleições legislativas no terceiro trimestre de 2019», salienta a empresa.

No expresso e encomendas, os rendimentos operacionais atingiram os 152,4 milhões de euros, mais 2,4% do que em 2018.

Já os rendimentos do Banco CTT atingiram 62,9 milhões de euros em 2019, um crescimento de 29,3 milhões de euros (+87,2%) face ao ano anterior. Para estes rendimentos contribuíram 21 milhões de euros da 321 Crédito, adquirida em maio.  Excluindo o efeito inorgânico da aquisição da 321 Crédito, os rendimentos ascenderam a 41,9 milhões de euros, (+24,5%).

O Banco CTT registou um crescimento de contas abertas para 461 mil contas (+113 mil que no final de 2018), o que no entender da empresa «evidencia a forte capacidade de angariação de mais de 450 contas por dia, a par com a continuação do crescimento dos depósitos de clientes para 1.283,6 milhões de euros (+45,2%) e do crescimento da carteira de crédito habitação líquida de imparidades para 405,1 milhões de euros (+69,9%)», refere.

 

O que mudou

Um dos dos dados que salta mais à vista diz respeito aos resultados. No ano em que a empresa foi alienada – e que coincidiu com o fim da ajuda da troika, em 2014 – fechou com lucros de 77,2 milhões de euros, ou seja, bem longe dos 29,2 milhões de euros registados agora.

Mas, em termos de números de trabalhadores, assistiu-se a um aumento. Se, em 2014, os CTT contavam com 12.523 trabalhadores (uma redução de 2,9% face ao ano anterior), agora acenam com 12.732 trabalhadores (um aumento de 0,8%) face ao ano anterior.

Já em termos de números de lojas, se no ano da privatização a empresa contava com 623 redes de lojas e 1.694 postos de correio, no passado os CTT contavam com 539 redes de lojas (uma subida de 0,2% face a 2018) e 1.831 postos de correio (um decréscimo de 08% face ano ano anterior).

Desde a privatização, a empresa liderada por João Bento perdeu 48 milhões de euros (em cinco anos). Já em termos de números de trabalhadores, a empresa assistiu a aumento de 209 colaboradores. Quanto à rede de lojas, a empresa conta com menos 84 espaços, mas aumentou em 137 os postos de correios.

No ano da privatização, os Correios apresentaram um pagamento de dividendos aos acionistas de 40 cêntimos por ação, um valor bem acima dos 0,11 cêntimos que agora são propostos relativos ao exercício de 2019. Ainda assim, representa um aumento de 10% relativamente ao ano anterior e que será pago maio de 2020.

 

Ano de mudanças

A empresa lembra ainda que 2019 foi um ano de mudanças , nomeadamente «em termos de transição e de reforço das nossas operações core, sendo também um ano de significativa diversificação de negócios», lembrando que se assistiu a uma «considerável renovação da equipa de gestão executiva».

A primeira baixa foi o ex-CEO Francisco Lacerda, que saiu da liderança da empresa em maio do ano passado – na altura, os Correios admitiram que esta saída iria permitir à nova gestão «focar-se na preparação dos desafios que os CTT enfrentarão no mandato 2020-2022, com destaque para o quadro contratual e regulatório da concessão do serviço postal universal» –, mas quatro meses foi a vez de Dionizia Ferreira, um dos braços direitos do antigo presidente. No final do ano passado, foi a vez de Francisco Simão renunciar ao cargo de vogal do conselho de administração e da comissão executiva dos CTT. Simão garantiu que  «assumiu, entretanto, compromissos pessoais e profissionais» e, como tal, considerou «ser do interesse da sociedade não se manter em funções até à data da próxima assembleia geral eletiva, a ocorrer em 2020».