Itália e Espanha apelam à União Europeia

Para o primeiro-ministro espanhol, este “é o momento mais difícil para a UE desde a sua fundação”. Para o seu homólogo italiano, é “uma chamada histórica”, a que Bruxelas faz ouvidos moucos. 

Desesperados, Itália e Espanha, os países europeus mais afetados pela pandemia de covid-19 têm pedido ajuda à União Europeia, sem grande sucesso até agora. A economia global afunda-se a pique, mas Bruxelas hesita aos pedidos de um sistema de empréstimos com baixos juros, concedidos pelos países europeus mais ricos aos mais pobres – a ideia está no ar desde o crash de 2007-2008, mas Bruxelas recusou a toda a linha. Agora, já foi recusada pelos Países Baixos, algo apelidado de “repugnante” pelo primeiro-ministro português, António Costa, salientando que “ninguém está disponível para voltar a ouvir ministros das finanças como aqueles que já ouvimos em 2008, 2009, 2010 e anos consecutivos".

 "Vou lutar até à última gota de suor, a última grama de energia, para obter uma forte, vigorosa e coesa resposta europeia", declarou o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte. O seu país já tem mais de 92 mil casos registados do novo coronavírus, que causaram mais de dez mil mortes. "A Europa tem de demonstrar que é capaz de responder a esta chamada histórica", exigiu Conté no sábado, à semelhança do seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez. "É o momento mais difícil para a UE desde a sua fundação e esta tem de estar pronta a enfrentar o desafio", apelou Sánchez. Espanha caminha para um cenário tão complicado como o italiano: tem quase 80 mil infeções registadas e mais de 3300 mortes.

Além da economia, os sistemas de saúde italiano e espanhol estão sobrecarregados ao ponto de rutura. A saúde francesa segue na mesma direção – o país já começou a evacuar doentes com covid-19 de Paris, Nancy e Mulhouse, no este do país, para o oeste, menos atingido pela pandemia. Entretanto, está em curso uma corrida aos equipamentos médicos, mas muitos países europeus, menos afetados, hesitam em ceder as suas reservas, temendo precisar delas mais adiante. Cada vez mais países europeus se viram para a China, que já conteve o seu surto e se desdobra em apoio a outros países, uma diplomacia médica que poderá aumentar a sua influência global.  

“Foi um teste à capacidade de coordenação da UE e uma oportunidade perdida para solidariedade intra-europeia”, lamentou à Forbes Marga Gual Soler, ex-conselheira do antigo comissário europeu para a Ciência, o português Carlos Moedas. Mesmo assim, há alguns, poucos, passos positivos: hospitais alemães começaram a tratar pacientes vindos de Itália, esta semana, tendo sido aprovado um fundo de quase 900 milhões de euros para os países membros mais atingidos, bem como 54 milhões de euros para hospitais por toda a Europa.