“Hoje dei a santa unção a uma doente infetada”. Capelão de Santa Maria diz que não há impedimento dos sacramentos

Coordenador nacional das capelanias hospitalares reconhece , no entanto, que há menos facilidade em circular entre serviços e que muitas das intervenções resultam dos pedidos feitos por doentes, que também estão com visitas restritas e menos apoio das famílias. 

Não há impedimento à assistência espiritual e religiosa nos hospitais mas os planos de contingência e regras de segurança levam a que os capelães tenham de estar mais distantes dos doentes e não possam deslocar-se da mesma forma nos serviços, onde por vezes era essa presença que permitia a alguns doentes conversar. Fernando Sampaio esclarece assim a interpretação inicial da preocupação que tornou pública há alguns dias e que levou a que fosse criada uma petição a pedir que fosse permitido o acesso livre a assistência religiosa nos hospitais, sob o mote “O SNS é laico mas eu não”.  Ao i, o coordenador nacional das capelanias hospitalares diz que estão a viver momentos de grande angústia nos hospitais, uma situação a que se estão também a adaptar. Com menos facilidade em circular entre serviços, muitas das intervenções resultam dos pedidos feitos por doentes, que também estão com visitas restritas e menos apoio das famílias. Mas os sacerdotes continuam a ministrar sacramentos, sublinha, e esse pedido pode ser sempre feito, não havendo qualquer impedimento por parte das administrações hospitalares. “Hoje dei a santa unção a uma doente infetada. Fui chamado ao serviço onde estavam outros doentes e depois outro doente também o pediu”, diz Fernando Sampaio, que é capelão no Hospital de Santa Maria. Baptizou também uma criança, hospitalizada por outro motivo.

Até ao momento, Fernando Sampaio não foi chamado a assistir doentes de covid-19 em cuidados intensivos e admite que são situações em que  o pedido  terá depender da chamada da família ou dos profissionais. “O que notamos no geral é que existem menos chamadas, as famílias não podem estar presentes, algumas pessoas são mais idosas e não estão habituadas a chamar e algumas sentem-se mais sozinhas. Ainda ontem me perguntavam: quando é que a minha família me vem visitar?”.

Fernando Sampaio diz que os receios causados pela epidemia se sentem também nos outros doentes internados no hospital. “Estão ansiosos e a angústia pode dominar a pessoa, interfere com tudo o resto”. Para o capelão, seria importante perceber como daqui para a frente se poderá responder às necessidades emocionais e espirituais dos doentes, mesmo num contexto de limitações. “Estamos todos a aprender, mas penso que terá de se fazer alguma coisa. É importante preservar a vida mas também é importante ajudar as pessoas nestas circunstâncias a manterem a esperança  na vida”.