Laboratórios privados já estão a fazer testes de imunidade pedidos por médicos

Principais laboratórios pedem receita médica para despistar anticorpos ao novo coronavírus. Resultados permitem perceber quem esteve exposto à doença mas não dão certezas sobre risco de reinfeção. Infarmed diz que testes rápidos devem ser usados por profissionais de saúde mas não existe uma norma específica.

Os maiores laboratórios privados já estão a fazer análises que permitem detetar anticorpos contra o novo coronavírus em quem possa ter sido infectado mesmo sem ter tido sintomas ou que não tenha feito o teste de diagnóstico. O grupo Germano de Sousa começou a fazer a análise há duas semanas e a Joaquim Chaves Saúde lançou o serviço na última segunda-feira. Em ambos os centros clínicos estão a ser feitas análises laboratoriais e não os chamados testes rápidos e apenas por prescrição médica.

Germano de Sousa, médico e antigo bastonário, disse ao i que tem estado a aumentar as requisições e até à data foram feitas cerca de 80 análises nos seus laboratórios. A maioria dos pedidos chega de médicos que têm suspeitas de que os doentes possam ter sido infectados e a análise permite também despistar situações que as pessoas desenvolveram quadros de infeção respiratória antes de serem detetados casos de covid-19 no país ou quando as orientações para testes eram ainda restritas a casos com ligação epidemiológica a outros doentes ou ao estrangeiro. “Há muitas pessoas que tiveram uma constipação e não ligaram”, exemplifica o médico, explicando que teve também o pedido de um médico que quis fazer a análise para saber se o seu plasma poderia ser usado para ajudar um colega infectado – o uso de plasma convalescente em tratamentos experimentais é uma das medidas que tem estado em estudo em vários países. O médico sublinha que as análises permitem perceber se existem anticorpos para o novo vírus mas não dão garantias de uma imunidade duradoura contra a covid-19, embora exista a perspetiva a partir do coronavírus que causou a epidemia de SARS há 20 anos é que seja conferido algum grau de defesa contra a doença. Germano de Sousa defende que nesta fase a deteção laboratorial é mais fiável do que os testes rápidos já no mercado nacional e que existem alguns relatos de estarem a chegar a algumas farmácias, o que aumenta a preocupação de que possam ser usados sem aconselhamento. Farmacêuticos ouvidos pelo i disseram que os testes não estão à venda.

“Existem dois tipos de anticorpos, IgM e IgG. Os primeiros podem ser detetados cinco a seis dias após o início de sintomas e são uma primeira resposta do organismo, o doente ainda pode estar com a infeção ativa. Os outros surgem após 14 dias, que são os que em teoria conferem defesas contra a doença”, explica Germano de Sousa.

“Quando a doença passa, ficamos com níveis mais altos destes IgG e ficamos com algumas defesas contra o vírus. É o mesmo princípio das vacinas, neste caso ocorre uma imunização natural. A limitação atual é que a quantidade de anticorpos que o organismo desenvolve depende do indíviduo e do sistema imunológico e no caso desta doença não se sabe ainda qual é o patamar para se ter defesas contra uma segunda infeção e por quanto tempo. Por exemplo na China já houve estudos a demonstrar que 54 doentes foram reinfetados e avaliou-se que tinham valores de IgG baixos”, continua o médico, considerando que é aqui que reside uma das limitações dos testes rápidos: “Para se obter mais resultados, baixa-se o nível de sensibilidade e quando existe um resultado positivo ou negativo não se sabe se é muito positivo ou qual o nível de anticorpos.”

Nesta fase, no entanto, nem uns nem outros são carta branca para sair de casa. “Começamos a ter maior procura mas as pessoas estão cientes das limitações”, diz o médico, que acrescenta que, podendo vir a fazer sentido, não existe evidência científica para, a partir destes testes, emitir certificados de imunidade que permitissem às pessoas sair de casa com menos restrições, uma proposta lançada na Alemanha. Já para perceber o nível de exposição à doença na população são uma instrumento válido e nessa altura o médico admite que os preços possam vir a baixar: atualmente a análise laboratorial custa no grupo Germano de Sousa 25 euros para cada um dos anticorpos.

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