Biqueirada no presidente!

O treinador quase abençoou Luís. Mandou-o equipar-se e perguntou-lhe se era capaz de fazer o lugar de ponta esquerda. O miúdo encolheu os ombros: «Acho que sim». Marcou três golos.

Ao contrário de todos os outros garotos lá do bairro, a paixão de Luís não era o futebol, era o jogo da bocha. O bocha, que os italianos chamam de boccia, é aquela coisa que consiste em atirar bolas para que fiquem o mais perto possível de uma bola ligeiramente mais pequena. Houve um fulano chamado Roger Nelson Steiger que teve o descaramento de escrever um livro sobre táticas de bocha: O Emocionante e Espectacular Desporto da Bocha. Para mim, desculpem lá, não passa de uma grandessíssima estucha.

Luís nascera no mais fascinante bairro de São Paulo: o Bairro do Bixiga, com as sua lojinhas de calabreses, quitandeiras vendendo bolinhos de queijo e gnocchi – que já foi transformado em nhoque – os bares noturnos de chorinho, as festas de Nossa Senhora de Aquiropita. E com os seus jogos de bocha, trazidos pelos italianos, como se está mesmo a ver. Luís tinha dezasseis anos naquele domingo em que saiu de casa após o almoço de macarrão, como fazia todos os domingos, para empurrar uma bolinha. As quadras do bocha do sr. Manuel estavam fechadas respeitando o luto pela morte de um figurão qualquer. Resolveu dar uma saltada ali perto para ver jogar o Jaceguai, clube de futebol dos seus amigos. Encontrou-os numa aflição: só tinham dez, precisavam de mais um para completar a equipa. O treinador quase abençoou Luís. Mandou-o equipar-se e perguntou-lhe se era capaz de fazer o lugar de ponta esquerda. O miúdo encolheu os ombros: «Acho que sim». Marcou três golos.

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