Costa e os ciganos

Recentemente interrogado no parlamento a esse propósito, Costa garantiu não ter qualquer problema com ciganos. Desta vez estou tentado a acreditar nele. Na verdade, não consta que alguma comunidade cigana resida nas imediações de S. Bento, daí a inexistência de preocupações por parte dos moradores da zona.

E é este, exactamente, o busílis da questão. Aqueles que mais se exaltam quando são reivindicadas a adopção de medidas eficazes de controlo dos excessos praticados por determinados núcleos da etnia cigana, acusando os seus promotores de racismo e xenofobismo, são os que se constituem numa burguesia citadina e cujo contacto directo com ciganos se limita à feira de Carcavelos, aonde se deslocam para comprar roupas contrafeitas e não sujeitas a impostos.

Fenómeno semelhante ao observado com o PAN, que sobrevive graças a um eleitorado urbano cuja única vivência com animais se resume aos gatinhos e cãezinhos que se passeiam lá por casa e a que orgulhosamente nomeiam como fazendo parte da família, reclamando direitos praticamente iguais aos que pretendem para os próprios filhos.

E para quem a terra é aquela coisa com que enchem os vasos e depois os colocam na varanda da habitação, a desabrochar flores.

Gente que não faz a mínima ideia do que é o mundo rural, mas que se considera detentora de inteligência suficiente para decidir sobre questões das quais são ignorantes absolutos, impondo os seus pontos de vista aos que, verdadeiramente, vivem da terra e de tudo quanto ela proporciona.

Minorias a quem uma maioria silenciosa tudo permite, em nome do politicamente correcto, submetendo-se, com inusitada estupidez, aos seus delírios e caprichos.

Quem não consegue vislumbrar conflitos sociais, muitos de gravidade extrema, no seio de populações que convivem de perto com comunidades ciganas, é porque vive em completa cegueira, rodeada do conforto que a vida de benesses lhe proporciona e revelando-se indiferente às adversidades daqueles a quem as vicissitudes de uma existência menos confortável não lhes permitiu escolher uma vizinhança de acordo com os seus padrões de vivência em sociedade.

Trata-se da esquerda de caviar, aquela mesma que se alimenta de prazeres opostos aos princípios que alega respirar e que finge preocupar-se com o destino dos mais desfavorecidos, mas que, na prática, apenas tem o sonho de ver consolidado o empobrecimento destes, condição indispensável para que possa continuar a abraçar uma suposta causa que, na verdade, lhe passa ao lado.

Uma esquerda utópica que se encanta com as declarações ditas de repúdio do Ricardo Quaresma, nas quais este resolveu ensaiar um número de vitimização, mas que parece esquecer que esse mesmo futebolista disse, numa entrevista ao Expresso em 2016, que “se não fosse o futebol, podia ser traficante, podia estar preso, podia estar morto”.

Afirmações que se proferidas por quem quer que não tenha nascido cigano teriam sido alvo de aceso debate, com a exigência de punição exemplar para o seu autor, sob a acusação de fomentar o ódio racial.

No fundo, há que o reconhecer, Quaresma não é o único cigano que se evidenciou pelo exercício de uma profissão de mérito. É injusto que toda uma comunidade seja depositada no mesmo prato da balança, mas também não é menos verdade que são poucos os elementos dessa minoria étnica que cumprem com as obrigações inerentes a todos os cidadãos de bem.

Enquanto o comum dos mortais se estafa para ter as suas contribuições fiscais em dia, oferecendo ao Estado uma parte bem considerável do seu ganha-pão, a comunidade cigana dá-se ao luxo de vender os seus produtos, livremente, por essas feiras fora, sem que parte dos rendimentos daí auferidos revertam para o bem comum.

Muitos dos seus membros, sem dúvida uma taxa percentual bastante elevada, fazem do seu modo de vida o recurso a comportamentos criminosos, nomeadamente o tráfico de drogas, o roubo e os furtos, desprezando ostensivamente o valor da vida humana.

Com uma frequência demasiado permissiva, grupos de ciganos, organizados em turbas desafiadoras da ordem instituída, provocam desacatos na via pública, em estabelecimentos comerciais e também em edifícios estatais, como o ocorrido recentemente numa localidade alentejana, em que invadiram um quartel de bombeiros, acções que, regra geral, se pautam pela impunidade.

É contra estes sucessivos abusos que as populações locais, fortemente penalizadas por estes flagelos, se revoltam, exigindo das autoridades uma firme resposta aos atropelos à lei e à ordem, que teimam em persistir, e procurando junto da classe política uma acrescida compreensão pelos seus anseios, sistematicamente ignorados por influência de quem se escuda na capa do anti-racismo.

Naturalmente que condutas delituosas da natureza das acima descritas não são um exclusivo de quem nasceu cigano, sendo transversais a todas as raças que constituem a diversidade dos portugueses, mas ao Estado não se pode tolerar que se demita das suas responsabilidades, quando actua com autoridade perante os devaneios de determinadas faixas populacionais e, simultaneamente, assobia  para o lado se tiver que confrontar certas minorias raciais.

Os ciganos gozam exactamente dos mesmos direitos com que são agraciados os demais cidadãos, mas deles exige-se que cumpram os mesmos deveres a que todos os portugueses estão vinculados. 

Não há direitos sem deveres. Trata-se de uma regra basilar para a construção de uma sociedade justa e equilibrada.