Um espectáculo com 2000 pessoas em Lisboa é um problema?

Campo Pequeno seguiu orientações, mas espectáculo de Bruno Nogueira gerou críticas.

Houve distanciamento de cadeiras entre espectadores ou duplas, já que só coabitantes têm luz verde para sentarem-se juntos, e os lugares marcados eram desencontrados para assegurar espaço. “Para entrar, tínhamos de esperar que alguém nos levasse ao lugar e, para sair, foi o mesmo, o Bruno Nogueira até brincou que, ao contrário de outros espectáculos, ele ia sair e nós tínhamos de ficar sentados à espera”, relatou ao i um dos espectadores que assistiu ao espectáculo e se sentiu sempre seguro.

A máscara também foi obrigatória, mas era possível comprar e consumir bebidas no recinto – e para isso é preciso tirá-la. E a regra dos coabitantes depende de adesão voluntária.

Apesar da lotação reduzida para menos de metade e das orientações da DGS terem sido seguidas, a imagem da sala lisboeta composta com 2000 pessoas nos dois dias de espectáculo fez correr críticas – do setor trauromáquico, impedido de fazer espectáculos, aos que, sobretudo nas redes sociais, questionaram o ajuntamento.

Bruno Nogueira pronunciou-se ontem, também nas redes sociais, satisfeito com o resultado que permitiu o equilíbrio entre “as ganas e o cuidado” do público. “Só aceitei fazer este espectáculo porque isso me foi assegurado e porque as novas regras da DGS e do Governo assim o permitem”, escreveu no Instagram.

Mesmo com regras, será aconselhável um espectáculo com 2000 pessoas dada a situação epidemiológica de Lisboa?

Para Ricardo Mexia, é preciso ter em conta o contexto e faltam dados públicos para fazer essa análise. “Se os casos que temos estão enquadrados em cadeias de transmissão conhecidas, temos um cenário em que podemos intervir de forma mais cirúrgica nos pontos vulneráveis. Outra situação é termos uma disseminação da doença mais abrangente em que não conseguimos descortinar quais são as cadeias de transmissão”, explica. Em todo o caso, admite alguma apreensão com grandes concentrações neste momento. “As pessoas sentadas naquele espaço, mantendo distância, o risco é reduzido. O problema é que as pessoas têm de chegar ao seu lugar, têm de chegar ao local do espectáculo, eventualmente de transportes. Sentadas com as máscaras postas o risco é diminuto, o problema é que têm de lá chegar e não se teletransportam”, continua. “Estamos todos com vontade de conviver e de fazer atividades que nos estiveram vedadas, mas o problema não está resolvido e devemos ser cautelosos na retoma destas atividades. Não é porque o podemos que devemos fazê-lo de forma tão extensa”, defende.

O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública sublinha também a necessidade de uma mensagem coerente, já que permitir concentrações com regras num contexto e impedir noutros pode ser contraditório. “Quando as pessoas veem depois situações análogas, e que se calhar até são, e que merecem tratamento diferente, é difícil comunicar isso.”

Marcelo Rebelo de Sousa foi um dos espectadores da segunda noite do espectáculo, que contou com António Costa no primeiro dia. À entrada, questionado sobre o 10 de Junho e sobre eventuais contradições, o Presidente disse que estarão 8 pessoas na cerimónia dos Jerónimos. “É como eu achei que devia ser o 25 de Abril, como eu achei que devia ser o 1.º de Maio. E como é organizado pelo Presidente da República, deve ser assim”, declarou. Assistiria depois ao espectáculo sentado numa fila com sete pessoas a contar consigo na plateia do Campo Pequeno, quase tantas como as que entendeu como limite para cerimónia da próxima semana.

Ontem, questionada sobre adeptos nos estádios, a diretora-geral da Saúde disse que a situação epidemiológica se mantém algo instável. “Por princípio de precaução, mantém-se que os jogos de futebol não tenham público. Estas situações podem ser revistas à luz da epidemia nas próximas semanas”, disse Graça Freitas. Apesar das novas regras por setor, continua em vigor a norma da DGS que desaconselha eventos de massas com mais de 100 pessoas.