Racismo. HBO retira “E Tudo o Vento Levou” do catálogo nos EUA

HBO diz que é “irresponsável” manter o filme no catálogo sem uma “explicação e denúncia” das representações racistas que nele figuram.

A HBO Max, uma das plataformas de streaming detida pela WarnerMedia, retirou ontem o filme E Tudo o Vento Levou do seu catálogo nos EUA. A longa-metragem de Victor Fleming, lançada em 1939, deixou de estar disponível depois dos violentos protestos contra o racismo desencadeados pela morte de George Floyd. Na terça-feira, John Ridley, escritor e argumentista – que assinou o argumento do filme “12 Anos Escravo” (2013), que lhe valeu o Óscar de Melhor Argumento Adaptado – tinha também publicado uma coluna de opinião no “Los Angeles Times” onde se refere especificamente ao filme, considerando que a trama “ignora” os “horrores” da escravatura e “perpetua os estereótipos mais dolorosos das pessoas de cor”. 

Ridley afirmou ainda que a história de E Tudo o Vento levou, que decorre durante o período da Guerra da Secessão dos EUA (1861 a 1865), “glorifica” o passado esclavagista nos EUA. Durante o período que opôs o norte e o sul do país, os estados do Sul tentaram proclamar a sua independência fazendo fica pé num ponto: a não abolição da escravatura. No filme, considerado um dos clássicos do cinema, o conflito vai acompanhando a história de amor de Scarlett O’Hara e Rhett Butler.

À CNN, um porta-voz da HBO Max afirmou que o E Tudo o Vento Levou é um “um produto de seu tempo e descreve alguns dos preconceitos étnicos e raciais que, infelizmente, têm sido um lugar comum na sociedade americana”. “Essas representações racistas estavam erradas na época e estão erradas hoje, e achamos que manter o filme sem explicação e sem uma denúncia dessas representações seria irresponsável”, afirmou ainda, dizendo que quando a película voltar a estar disponível na plataforma será acompanhada de “uma discussão de seu contexto histórico”.

Entre o elenco de E Tudo o Vento Levou contava-se Hattie McDaniel, que se tornou na primeira atriz afro-americana a vencer um Óscar – neste caso, o de Melhor Atriz Secundária pelo papel da escrava Mammy – que seria entregue a 29 de fevereiro de 1940. Na época, Hattie foi a primeira mulher negra a ser convidada para a cerimónia mas, por causa das leis da segregação racial, não pôde sentar-se juntamente com o restante elenco. Durante a sua carreira, desempenhou maioritariamente papéis de empregada e foi criticada pelos seus pares por os aceitar.