Maddie: PJ com reticências sobre nova tese

Linha de investigação seguida pelas autoridades alemãs não é suficiente para que se possam excluir outros suspeitos, segundo a PJ. Interrogatórios a testemunhas continuam.

A Polícia Judiciária (PJ) continua a investigar a linha seguida pela Justiça alemã no caso do desaparecimento de Maddie e que aponta para Christian Bruckner, um alemão de 43 anos, atualmente preso naquele país por crimes de natureza sexual. Mas para os investigadores portugueses tudo o que as autoridades germânicas recolheram continua a não ser suficiente para que se possa excluir outras linhas de investigação e outros suspeitos. Aliás, ao que o SOL apurou, dentro da PJ é um dado adquirido que o que existe até ao momento é insuficiente para que se possa deduzir qualquer acusação.

Ainda assim, e no âmbito da colaboração com as congéneres alemãs, a PJ tem estado a fazer diversas diligências, sabe o SOL, nomeadamente em poços que existem próximo de uma casa em que Christian Bruckner habitou no sul de Portugal. O objetivo é perceber se existe alguma possibilidade de o corpo da menina ter sido ali depositado.

Além disso, continuam a ser feitos diversos interrogatórios a testemunhas que possam trazer alguma luz a este caso, que se arrasta desde maio de 2007, quando o casal  McCann deu o alerta de que a filha mais velha havia desaparecido do quarto onde ficara a dormir, num aldeamento na Praia da Luz, enquanto jantavam.

Nova linha de investigação

Uma mulher irlandesa que diz ter sido abusada sexualmente por Christian Bruckner pediu a reabertura do caso. Este tem sido agora um dos principais focos de investigação das autoridades. Segundo revelou ao jornal The Guardian, a mulher diz ter sido violada em 2004, depois de ter regressado a casa vinda do trabalho, à 1h da manhã, perto da Praia da Luz, no Algarve, onde Maddie desapareceu. De acordo com a vítima, o homem que a atacou tinha sobrancelhas loiras e olhos azuis – traços semelhantes aos do germânico. Além disso, disse também diz ter visto que esse homem tinha uma tatuagem na coxa direita, o que também coincide com o físico do suspeito de 43 anos. «Estava a dormir quando acordei com uma voz a chamar o meu nome. Virei-me e vi um homem com uma máscara e um machete na mão», relatou a mulher, dizendo ainda que o homem que a atacou falava inglês com sotaque alemão. 

Christian Bruckner  está atualmente a cumprir sete anos de prisão em Kiel, norte da Alemanha, por ter abusado sexualmente de uma mulher norte-americana de 72 anos em 2005, no Algarve. De acordo com o Departamento Federal de Investigações (BKA) da Alemanha, este crime sexual terá ocorrido no Algarve, perto do local onde desapareceu a menina, que está a ser dada como morta nesta nova linha de investigação alemã – com o Ministério Público (MP) de Braunschweig a colocar de lado a hipótese de a menor ter resistido. 

Christian Hoppe, do departamento de investigação, vai mais longe, admitindo mesmo em conferência de imprensa a hipótese de a criança ter sido alvejada quando o suspeito assaltava o apartamento da família. Além disso, o mesmo investigador, numa entrevista a um canal de televisão alemão, não afastou totalmente a tese de se ter tratado de um sequestro ou de um ataque provocado por motivações sexuais.

Os carros e os telemóveis

Durante o período em que a família McCann esteve na Praia da Luz, em 2007, o suspeito encontrava-se muito perto. Visitou a zona do Algarve durante muitos anos, entre 1995 e 2007, bem como residiu em zonas turísticas perto da Praia da Luz, segundo a polícia daquele país, que acredita que, então com 30 anos, Christian Brueckner terá matado Maddie. Durante as suas estadas em Portugal, costumava usar uma autocaravana para se deslocar e também um automóvel Jaguar, que foi colocado em nome de outra pessoa no dia seguinte ao desaparecimento da criança.

A polícia alemã publicou fotografias do carro – bem como da autocaravana – em que habitualmente circulava. As autoridades germânicas  apelaram a que quem tenha mais informações sobre o caso informe as autoridades – será oferecida uma quantia de 10 mil euros por qualquer pista minimamente credível.

Quando a menina desapareceu, o suspeito tinha também um telemóvel português que terá sido reativado pouco tempo antes de Maddie desaparecer. Na noite do desaparecimento, a 3 de maio, recebeu através desse número uma chamada naquela zona algarvia; o número que efetuou o telefonema também foi identificado e poderá ser, segundo a polícia, uma «testemunha altamente significativa».

De acordo com as autoridades britânicas, que também apelaram ao público para ajudar a polícia com informações, já foram recebidas cerca de 400 informações sobre o caso. «A equipa da operação Grange [nome dado à mais recente investigação sobre o desaparecimento de Maddie] já recebeu cerca de 400 novas informações por telefonemas e emails», detalhou o porta-voz da Met Police, Clarence Mitchell, segundo avança a Sky News. 

O suspeito de raptar e matar Maddie está a ser também investigado pelo desaparecimento de outras duas crianças. As autoridades germânicas já entraram em contacto com a família de René Hasse, um menino de seis anos que desapareceu em 1996 numa praia enquanto estava de férias no Algarve; bem como com os familiares de Inga Gehricke, que aos cinco anos desapareceu numa floresta durante um churrasco em família na região de Saxónia-Anhalt, na Alemanha. De acordo com a imprensa britânica, o Ministério Público belga está ainda a investigar se Christian Brückner está também envolvido no homicídio de Carola Titze, de 16 anos, que morreu em 1996. A menina foi encontrada morta numa zona rochosa perto da zona de De Haan, na Bélgica – onde estava de férias e depois de ter sido vista com um homem numa discoteca, poucos dias antes de morrer. 

Quem é este suspeito alemão

Christian Bruckner, descrito como um homem alto e loiro, já era conhecido da polícia alemã  por assaltos a hotéis e a apartamentos de férias, bem como por tráfico de droga. Com um longo  cadastro – por 17 crimes -, soma ainda várias condenações por abusos sexuais e pornografia infantil, segundo a imprensa alemã. Além disso, já tinha duas condenações anteriores por crimes sexuais contra menores. O «predador sexual», tal como é descrito pelo Ministério Público da Alemanha, terá sido condenado pela primeira vez por crimes desta natureza quando tinha apenas 17 anos. Foi precisamente nessa idade que foi condenado por se ter exposto a uma menina de seis anos e de ter abusado sexualmente de outra de nove.

O que diz a PJ e a polícia alemã 

A PJ ainda não recebeu qualquer pedido das autoridades alemãs para a realização de buscas nos locais frequentados, no Algarve, pelo principal suspeito do desaparecimento de Madeleine. Inicialmente, a PJ suspeitou que poderiam ter sido os pais a matar a filha de três anos, mas revelam agora que foram recolhidos novos dados. Além disso, a PJ diz terem sido «recolhidos elementos que indiciam a eventual intervenção, no desaparecimento da criança, de um cidadão alemão». 

«A investigação, em estreita articulação com as Autoridades Alemãs (BKA) e Inglesas (Metropolitan Police), permitiu chegar à identificação de um suspeito de 43 anos de idade, com antecedentes criminais, que residiu em Portugal entre 1996 e 2007 e está atualmente a cumprir pena de prisão na Alemanha. A família da criança desaparecida foi informada destes desenvolvimentos investigatórios pelas Autoridades Inglesas», avançou a PJ em comunicado.

Desaparecimento em maio de 2007

No entanto, as autoridades alemãs já deram a criança como morta. O desaparecimento de Madie deu-se a 3 de maio de 2007, numa altura em que os pais saíram do hotel onde estavam hospedados para ir jantar fora com amigos, a cerca de 50 metros do apartamento. A menina inglesa ficou com os dois irmãos gémeos no quarto, supostamente a dormir, no apartamento do aldeamento turístico Ocean Club, em Lagos.

Tinham chegado ao Algarve a 28 de abril. Os pais de Maddie, médicos, alertaram de imediato as autoridades quando chegaram a casa e não viram a filha. Dias depois foram feitas buscas, com as autoridades a alargarem o raio das mesmas para 15 quilómetros em torno do apartamento. 

A partir daí, o casal é ouvido pela PJ algumas vezes, mas até hoje, 13 anos depois, o mistério continua por resolver. 

Christian Bruckner é agora o principal suspeito do crime.