Onda de calor no fim de maio associada a 510 mortes

DGS explicou pico de mortalidade e reforçou alerta.

A diretora-geral da Saúde atribuiu esta segunda-feira o pico de mortalidade por todas as causas que se registou no final de maio à onda de calor que se viveu no mês passado. Graça Freitas revelou que houve um aumento de 510 mortes. Respondendo a questões sobre o excesso de mortalidade, depois de vários estudos terem alertado para o aumento da mortalidade por todas as causas durante o estado de emergência e também no primeiro mês de desconfinamento, Graça Freitas indicou que de janeiro a junho, registaram-se mais 1910 óbitos, sendo 1525 por covid-19, referindo então a onda de calor de maio para o excesso de mortalidade mais recente.

Se em maio não houve alertas específicos para o risco do calor, que nos últimos anos já foi associado a picos de mortalidade, a diretora-geral da Saúde usou ontem a sua primeira intervenção no briefing para reforçar o alerta à população, numa altura em que o IPMA prevê também o aumento das temperaturas. “As ondas de calor têm sempre consequência na nossa saúde e reflexo na mortalidade por todas as causas”, disse Graça Freitas, lembrando as precauções a seguir nesta altura do ano, do reforço da hidratação ao uso de proteção solar, óculos e roupas mais largas. Doentes crónicos estão em maior risco de terem as suas doenças descompensadas.

Cuidados que devem ser seguidos em especial por pessoas mais velhas e crianças pequenas. “Todas as recomendações que habitualmente dizemos no verão aplicam-se este ano. Não podemos distrair-nos de outras coisas que continuam a existir para além da covid-19”, disse Graça Freitas.

A plataforma nacional de Vigilância da Mortalidade (EVM) revela que o aumento da mortalidade por todas as causas no final de maio aconteceu entre os dias 23 e 29 de maio. 

No dia 29 de maio morreram 357 pessoas no país. Nos últimos 10 anos, o número de óbitos mais elevado nesta data tinha sido 304 mortes em 2017.

Em Portugal a mortalidade aumenta nos meses de inverno, um padrão associado ao frio e à época de gripe sazonal e de maior circulação de vírus respiratórios, e diminui durante a primavera e verão.

Este ano os primeiros meses do ano registaram uma mortalidade abaixo da média, depois de uma época de gripe moderada, mas o número de mortes aumentou a partir de março, em particular nos idosos. 14 de janeiro foi o dia com mais óbitos no país, 426 mortes, dentro do esperado no inverno. Já o segundo dia com maior mortalidade foi o dia 4 de abril, dia em que moreram 421 pessoas no país, muito acima da média dos últimos 10 anos. Em 2018 morreram nesta data 352 portugueses, já um registo acima da média.

Em plena pandemia, a 4 de abril foram reportadas 20 mortes por covid-19, sendo que a data de notificação nos boletins da DGS pode não coincidir com a data de óbito. Ainda assim, o excesso de mortalidade entre o início do estado de emergência e a primeira quinzena de abril foi superior ao número de vítimas da pandemia e ainda não é conhecida uma análise detalhada às causas de óbito neste período, o que a DGS garantiu em abril que estava a avaliar. A Escola Nacional de Saúde Pública e outros grupos de investigadores têm apontado como causas possíveis o adiamento da procura dos hospitais em situações agudas mas também em situações de descompensação crónica e outras doenças, por receio ou por suspensão da atividade. Até maio houve uma quebra de 1,4 milhões de consultas no SNS, menos 400 mil episódios de urgência e realizaram-se menos 51 mil cirurgias face ao ano passado.

Na última semana tornou a registar-se um pico de mortalidade face aos últimos dez anos no dia 17 de junho.