Cientistas chineses identificam nova estirpe do vírus da gripe suína com potencial pandémico

Chama-se G4 e foi identificada num programa de vigilância de explorações suínas que começou em 2011

Investigadores chineses identificaram uma nova estirpe do vírus da gripe que acreditam ter potencial pandémico. O alerta surge esta semana na edição da revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS). Em causa está uma variante do vírus da gripe suína H1N1, que levou a OMS a declarar em 2009 a primeira pandemia do século. A nova estirpe, designada de G4, foi identificada no âmbito de um programa de vigilância de animais que visa sinalizar vírus que podem constituir problemas de saúde pública. O programa decorreu entre 2011 e 2018.

“Os porcos são hospedeiros intermediários para a geração de vírus da gripe pandémicos. Por esse motivo, a vigilância sistemática de vírus da gripe em porcos é uma medida chave para aletar para a emergência da próxima pandemia de gripe”, lê-se no artigo, em que a equipa descreve a descoberta de uma recombinação do vírus H1N1 que se tornou predominante em populações de porcos a partir de 2016.

Os investigadores alertam que estudos serológicos dos trabalhadores da indústria suína mostraram uma elevada seroprevalência de vírus G4, defendendo que é urgente uma monitorização reforçada deste setor. Numa amostra de 338 trabalhadores, 35 (10%) tinham anticorpos que indiciavam que tinham sido expostos ao vírus. “Este nível de infeciosidade aumenta as hipóteses de o vírus se adaptar a humanos e faz recear a possível geração de vírus pandémico.”

Não é no entanto conhecido nenhum surto associado a este vírus, não havendo assim sinais de que já se tenha tornado eficaz a infectar humanos. 

O artigo é assinado por investigadores da Universidade Agrícola da China em Pequim e um dos autores integra também o Centro de Colaboração da OMS para a Referência e Investigação da Gripe da Organização Mundial de Saúde.

O programa de vigilância assentou em milhares de zaragatoas a porcos e trabalhadores de matadouros em 10 províncias chinesas. De acordo com a equipa, entre 2011 e 2018 foram identificadas 179 vírus da gripe, sendo este G4, que parece ser uma recombinação de três linguagens, o predominante.

Foram documentados dois casos de infeção em humanos, mas não deram origem a cadeias de transmissão – como se viu na atual pandemia, quando um vírus consegue passar a barreira animal e tornar-se contagioso entre humanos aumenta o risco de propagação. Robert Webster, investigador nesta área, comentou à revista "Science" que neste momento é especulação tentar prever se este vírus vai tornar-se infecioso entre humanos e essa incerteza é um dos problemas: "Não sabemos que uma pandemia vai acontecer até que acontece", disse o investigador, recordando que a China tem a maior população suína do planeta.