O balanço da semana é positivo em Lisboa: pela primeira vez no último mês e meio houve uma descida significativa nos casos diagnosticados na região, que desde o confinamento mostrou sempre uma tendência de aumento. Se será duradoura, só o tempo dirá. O patamar de novos casos mantém-se o mais elevado do país e o risco de contágio continua assim a ser maior do que quando começou o desconfinamento. Nem todos os concelhos estão a melhorar ao mesmo ritmo, mas a concentração de casos em Lisboa parece mostrar alguma cedência. Da sexta-feira da semana passada até ontem foram confirmados 2198 casos no país, o que compara com 2523 na semana passada. Na análise que o SOL tem feito todas as semanas com este indicador, é o acréscimo mais baixo desde o final de maio. Na região de Lisboa contabilizaram-se 1680 novos casos, o que compara com 1950 na semana passada. Também no Norte, onde nas últimas semanas aumentaram os novos casos, há sinais de melhoria: nesta janela temporal foram detetados 292 casos, o que compara com 337 na semana passada.
Nesta última semana a única região onde os casos aumentaram no Algarve, onde foram detetados novos surtos, um deles associado à construção civil, mas num patamar mais baixo do que as restantes regiões. Registaram-se 79 casos, contra 35 na semana passada. Estes novos focos acaba por pesar no cálculo do RT, que calcula o índice de contágio, ou seja, em média quantos casos são gerados a partir de cada infetado. De acordo com a análise semanal do Instituto Ricardo Jorge sobre a evolução deste indicador, publicada ontem, o índice de contágio nos últimos cinco dias foi de 1,04 na região Norte, 0,99 na região Centro, 0,94 na região LVT, 0,89 na região do Alentejo e 1,17 na região do Algarve. O Norte, que tem tido um RT acima de 1 desde 13 de junho, melhorou, mas o Algarve variou. Indicadores que ajudam a perceber a tendência numa altura em que, com o aumento das deslocações em férias e o vírus a circular, nenhuma zona do país está imune. E ao longo das últimas semanas têm sido vários os casos que começam com infeções de pessoas que viajaram de outras zonas do país, seja de Lisboa para o Norte ou do Norte para o Sul.
As 19 freguesias em estado de calamidade
Os dados por município passaram a só ser disponibilizados à segunda-feira, mas a ministra da Saúde indicou ontem que, entre os concelhos que mantêm medidas mais apertadas na área metropolitana de Lisboa, apenas Sintra não baixou a incidência de novos casos nos últimos sete dias, o que aconteceu em Lisboa, que no período anterior era o único em que não tinha havido em melhorias. O Governo prolongou esta semana o estado de calamidade nas 19 freguesias sinalizadas no início do mês. Não foi tornado público o ponto de situação em cada uma.
Ontem, questionada pelo SOL sobre qual o critério e que objetivo de se pretende atingir, a ministra da Saúde sublinhou que as razões para manter as medidas prendem-se com a incidência. «Ainda não estamos onde gostávamos de estar em termos de novos casos», disse, não apontando uma meta. As indicações dos autarcas sobre a vantagem de manter as medidas, que limitam ajuntamentos a cinco pessoas e a fiscalização de espaços comerciais, foi outro elemento que pesou, revelou.
O número de surtos ativos no país subiu de 162 para 206, a maioria em Lisboa, mas ministra adiantou que os surtos são considerados ativos até terem passado 28 dias após o último caso associado à cadeia de transmissão, o que significa que nem todos estarão atualmente a registar novos casos. Os que mais preocupam, disse Marta Temido, são os que ocorrem em lares, que desde o início da epidemia causaram quase 40% das mortes associadas à covid-19. «Quando olhamos para os outros países, temos uma situação bastante favorável no que é a covid-19. Preocupam-nos as pessoas que estão institucionalizadas e estão suscetíveis à doença. Queremos diminuir o mais possível o número de mortes por covid-19 e temos de estar particularmente atentos à transmissão em lares», disse.
Perigo dos transportes divide ministros
Ontem, voltando ao tema sobre se os transportes são ou não um problema na AML, o ministro das infraestruturas Pedro Nuno Santos admitiu que poderão ser levantadas as reduções na lotação, por serem impossíveis de cumprir, e considerando que os estudos internacionais não apontam para uma ligação com o contágio. As críticas não tardaram, por o risco inerente aos espaços fechados ser reconhecido em todas as análises, independentemente de haver casos confirmados em que já tenha sido estabelecida essa ligação e de quais possam ser as soluções para o problema. Uma análise revelada esta sexta-feira pelo INE dá mais um elemento: os residentes no território em estado de calamidade utilizam mais o transporte público. No território em estado de calamidade a proporção de deslocações com utilização do transporte público para fora do município é 14,0%, mais do dobro do observado no restante território da AML (6,7%), concluem. Mais uma vez, não fica provada a causalidade, que será objeto de um estudo de caso-controlo anunciado na semana passada. Na conferência de imprensa, Marta Temido afastou o cenário deixado em aberto por Pedro Nuno Santos e reconheceu o risco de forma clara: «Os espaços fechados aumentam a exposição ao risco. Os transportes púbicos sendo um espaço onde se acumula um número significativo de pessoas e sendo um espaço fechado, sem arejamento, suscitam a maior preocupação. Há sempre um caráter evolutivo nisto, mas não vejo motivo para alterar o que está definido», notou.