Fórum para a Competitividade. Plano de Costa Silva “é demasiado intervencionista”

O documento lembra também que está presente no plano um foco excessivo nas infraestruturas físicas e não suficiente nos recursos humanos. “Ainda por cima, depois de um brutal – e ineficaz – ciclo de betão entre 1995 e 2011. 

O Fórum para a Competitividade dá cartão vermelho ao programa de relançamento económico avançado por António Costa Silva. De acordo com a entidade liderada por Ferraz da Costa, “o plano é demasiado intervencionista e pouco consciente das limitações de financiamento que o país enfrenta”, acrescentando que, “na revisão em curso deveria focar-se na melhoria da atratividade ao investimento direto estrangeiro (IDE), nos recursos humanos e na reforma da administração pública”.

E as críticas não ficam por aqui. O Fórum diz ainda que se deveria ambicionar um crescimento médio do PIB de 3% ao ano, entre 2022 e 2030 e lamenta que o plano tenha ignorado a estagnação económica dos últimos 20 anos. “O erro capital da política macroeconómica de 1995-2011 é ignorado. A insistência nos setores não-transacionáveis e o excesso de despesa foram os grandes responsáveis: pela estagnação económica; pela explosão do nosso endividamento, em particular da dívida externa, uma bolha que subiu de 8% do PIB em 1995 para 110% do PIB em 2011”.

De acordo com a entidade de Ferraz da Costa, “para um país tão endividado como Portugal, só atraindo IDE se pode sair do ciclo de estagnação-contas públicas frágeis- impostos excessivos-estagnação”, lembrando que há poucas referências a esta matéria e quase “sempre unicamente para os investimentos mineiros”, assim como é desvalorizado os incentivos económicos. “Pode existir tudo o resto, mas, se não formos atraentes, não conseguimos atrair investimentos”.

Foco excessivo nas infraestruturas

O documento lembra também que está presente no plano um foco excessivo nas infraestruturas físicas e não suficiente nos recursos humanos. “Ainda por cima, depois de um brutal – e ineficaz – ciclo de betão entre 1995 e 2011. “A preocupação com o grande défice de recursos humanos que Portugal tem está presente, mas não ocupa o lugar de destaque que mereceria. Ter uma mão-de-obra qualificada é muito mais importante do que dispor de alguns recursos naturais minerais, cuja refinação exige grande especialização e conhecimentos técnicos”, afirma.

Já em relação à aposta no investimento no hidrogénio “verde”, lembra que a tecnologia ainda é imatura – como o próprio plano reconhece – e Portugal não tem fontes próprias e competitivas de energia (as renováveis são altamente subsidiadas) para produzir hidrogénio. “Não temos capitais próprios para o essencial, quanto mais para um investimento tão arriscado”, refere. 

Ainda assim, o Fórum para a Competitividade elogia a consciência que existe em relação a alguns dos riscos para as empresas. “A partir de setembro de 2020, a situação de muitas empresas pode deteriorar-se significativamente e é fundamental existir no terreno um programa agressivo para evitar o colapso de empresas rentáveis, que são essenciais para o futuro da economia portuguesa.” Também aplaude o foco nas empresas no centro da recuperação da economia, transformando-as no motor real do crescimento e da criação de riqueza e na reforma do Estado. “Apostar num Estado com mais qualidade, promovendo as suas competências digitais, melhorando toda a interação com os cidadãos e as empresas, simplificando os processos de licenciamento da atividade económica, desburocratizando-os”.