“Não faz sentido” tratar bares e discotecas como se fossem café

Associações do setor lançam duras críticas às medidas de reabertura anunciadas ontem pelo Governo.

“Não há clientes para isso e não faz qualquer sentido”. Os bares e discotecas vão poder reabrir ao público a partir do próximo sábado, 1 de agosto, mas como se fossem cafés ou pastelarias. Como tal, devido à pandemia de covid-19, as pistas de dança são para esquecer e o encerramento dos estabelecimentos terá de acontecer às 20h, na Área Metropolitana de Lisboa, e à 1h da madrugada no resto do território continental. Mas as associações do setor já manifestaram o desagrado e dizem mesmo que as medidas anunciadas ontem pelo Governo são incompreensíveis.

“Imagine-se agora o Bairro Alto vir a ter só cafés e pastelarias. Não há clientes para isso nem faz qualquer sentido. Por isso, não muda nada. Os bares e discotecas continuam encerrados. O que o Governo abre é a possibilidade de transformar em snack bars os espaços mais polivalentes. Só sei que estamos mais 15 dias com os estabelecimentos encerrados, um mês a fechar sem receitas e com custos”, adiantou ao i o presidente da Associação Nacional de Discotecas, José Gouveia, que voltou a pedir apoio financeiro ao Governo.

“O que queremos saber é se o Estado equaciona apoios financeiros para bares e discotecas ou não. Já estamos no quinto mês encerrados e ainda não foram anunciados quaisquer apoios sem ser o layoff. Sendo o único setor encerrado neste momento e sendo esta uma opção que não é consensual para todos, queremos saber quais são os apoios que nos esperam”, atirou José Gouveia.

Também o presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, António Fonseca, deixou fortes críticas a estas medidas e foi mais longe, classificando esta decisão do Governo como “anedótica”. “O que o Governo acaba de apresentar não tem nexo. É uma ratoeira para alguns empresários que vão tentar abrir e vão enterrar-se, contribuindo para o encerramento do estabelecimento e para o desemprego. Isto é um equívoco legislativo. É de quem não sabe o que está a fazer e de quem não sabe o que é que há de fazer quando, no fundo, bastava falar connosco e aceitar as propostas”, confessou à Lusa.

Já o presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (Aphort), Rodrigo Pinto Barros, sublinhou que o Governo “ganhava em ouvir mais quem tem soluções para lhe apresentar”, reforçando que as medidas adotadas são tardias e geram uma confusão desnecessária. “Não faz sentido nenhum haver uma disparidade de horários entre os restaurantes e os bares e discotecas, já que todos estes estabelecimentos irão estar, de forma genérica, sujeitos às mesmas regras, nomeadamente no que diz respeito à limitação da lotação, à utilização exclusiva de lugares sentados – no interior e nas esplanadas – e ao cumprimento do distanciamento social”, rematou, em comunicado.

Além de não poder haver pistas de dança – só para colocar mesas –, recorde-se, os espaços exteriores passam apenas a poder ser utilizados como zona de esplanada.