Sem máscara, ninguém entra

Ao contrário daquilo que se passa na Alemanha, ou na Escócia, os alunos portugueses não podem entrar na escola sem máscara. Na Alemanha algumas escolas fecharam, depois de identificados casos de infeção em alunos e professores. Por cá, ‘é impossível que não haja casos’.

Sem máscara, ninguém entra

O novo ano letivo já está a ser preparado e centenas de escolas estão agora, durante o mês de agosto, a testar as medidas a adotar já no próximo ano letivo. E o Ministério da Educação enviou esta semana às escolas as orientações para a planificação das aprendizagens do novo ano letivo. Entre 14 e 15 de setembro, milhares de crianças e jovens regressam ao ensino presencial, mas os especialistas já deixaram o aviso de que em outubro é provável que chegue uma nova vaga de infeções, coincidindo com a reabertura das escolas. No campo da educação, Portugal já pode olhar para o resto do mundo e perceber o que está a ser feito, o que resulta e o que está a obrigar a dar um passo atrás. 
A Alemanha foi o primeiro país da Europa a reabrir as escolas e, ainda que de forma faseada, já foram identificados casos positivos entre alunos e professores que obrigaram ao encerramento de algumas escolas. Para setembro, os especialistas não esperam um cenário muito diferente nas escolas portuguesas. «É impossível que não haja casos, infelizmente vai acontecer», avançou esta semana ao jornal i Ricardo Mexia, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública. As deslocações de transportes públicos, muitas vezes em autocarros lotados, as deslocações dos pais às escolas para levar os filhos – tudo isto são fatores que aumentam as probabilidades de contágio. A juntar a tudo isto, chega o inverno, uma época em que os vírus respiratórios circulam mais. Mas, alerta Ricardo Mexia, «também não é menos verdade que, fruto do distanciamento físico e das máscaras, é provável que os vírus respiratórios circulem menos este inverno».

Comparativamente ao resto da Europa, Portugal é um dos países que adotou medidas mais restritivas. O uso da máscara é um dos melhores exemplos: os alunos portugueses não vão poder entrar nos estabelecimentos de ensino sem máscara. Aliás, como explicou esta semana ao jornal i Filinto Lima, Presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), «a máscara vai passar a ser um material mais importante do que o manual, ao ponto de o aluno não poder entrar na escola se não levar a máscara – se não levar o manual tem falta de material, mas pode entrar». Na Escócia e na Alemanha, por exemplo, os alunos só precisam de usar máscara enquanto estão nos espaços comuns, nas salas de aula não precisam de utilizar. Esta decisão causou polémica entre os professores, que dizem não entender qual a diferença entre uma loja, onde é obrigatório uso de máscara, e uma sala de aula, já que ambos são espaços fechados. Ricardo Mexia explicou também que «a utilização das máscaras é uma das medidas que podemos utilizar para reduzir a potencial disseminação das doenças e, mesmo que se consiga redistribuir os alunos de forma a manter as distâncias de segurança, o facto de terem uma máscara pode ajudar a reduzir a tal transmissão da doença». «É um espaço fechado, faz todo o sentido que se utilize», acrescentou o médico especialista em saúde pública. Os mais de quatro milhões de euros anunciados pelo Ministério da Educação em julho para a compra de máscaras já foi distribuídos pelas escolas e a cada aluno, a partir do 5.º ano, serão distribuídas três máscaras comunitárias, o que significa que, tendo em conta que estas máscaras podem ser lavadas 25 vezes, os alunos terão máscara garantida para utilizar durante o primeiro período de aulas. 
Além do uso obrigatório de máscara, as escolas estão a adotar outras medidas para cumprir as regras da Direção-Geral da Saúde, ainda que os diretores de escolas considerem que as regras são «claras, algumas não são é exequíveis». Exemplo disso é o distanciamento físico de um metro e meio durante as aulas. As turmas vão continuar com o mesmo número de alunos – 25, e algumas chegam a ter 30 alunos –, «as salas têm 50 metros quadrados, ou menos, e, portanto, não é fácil ter num espaço com esta dimensão 25 ou 30 alunos e manter o distanciamento», explicou Filinto Lima. 

Sobre as aulas de Educação Física ainda nada se sabe. O Ministério da Educação ainda não enviou às escolas as respetivas orientações e os estabelecimentos de ensino não sabem o que podem ou não fazer. Os alunos podem usar balneário? Podem fazer desporto dentro dos pavilhões, como por exemplo ginástica, que é um desporto individual, mas tem de ser praticado no interior de um edifício? «É urgente que o Ministério da Educação oriente as escolas de forma a percebermos como é que vai funcionar», disse o presidente da ANDAEP, considerando que, mesmo sem conhecer as orientações, «os desportos coletivos não deverão fazer parte dos conteúdos». 
Cada turma vai estar sempre na mesma sala, evitando assim trocas de materiais, as bibliotecas vão ter a sua lotação reduzida e algumas cantinas vão optar pelo serviço de takeaway. Esta estratégia vai ser adotada em algumas escolas para evitar a concentração de alunos à mesma hora e, se possível, os alunos são aconselhados a levar as refeições para casa. 
Também os horários das aulas vão ser diferentes no próximo ano letivo. «Há escolas que começavam as aulas às 8h30 e vão começar às 8h e há escolas que terminavam as aulas às 18h30 e vão acabar agora às 19h», explicou Filinto Lima. «A ideia é ter na escola o menor número possível de alunos por dia e, se possível haver dois turnos – o da manhã e o da tarde. Mas isso implica que o Ministério  reforce o número de assistentes operacionais, não só pelo alargamento do horário, mas também porque os funcionários vão desempenhar outras funções que antes não desempenhavam, nomeadamente higienização das salas, das casas de banhos». 

Saber ler e escrever 

Esta quarta-feira, o Ministério da Educação enviou novas orientações às escolas. Desta vez sobre a planificação do próximo ano letivo, sobretudo das primeiras aulas que são de recuperação dos conteúdos que foram dados em regime de ensino à distância. Saber escrever é uma das prioridades, sendo dados vários exemplos de exercícios que podem ser feitos, sobretudo com os alunos do 2.º e 6.º anos. Para os alunos do 2.º ano, por exemplo, as crianças devem «escrever corretamente palavras com todos os tipos de sílabas, com utilização correta dos acentos gráficos e do til», lê-se do documento. Já os alunos do 6.º ano devem ter os conhecimentos do ano anterior e «escrever textos organizados em parágrafos, de acordo com o género textual que convém à finalidade comunicativa», como texto de opinião ou notícia. Todas as escolas devem ter um plano de atuação para «todos os alunos, em particular os que tiveram maiores dificuldades de contacto e de acompanhamento das atividades promovidas pela escola, no ano letivo 2019/2020».