Seca. Julho mais quente em 89 anos e barragens abaixo dos 40%

O cenário de seca regressou a Portugal. Ainda assim, a situação é mais favorável que em anos anteriores: barragens nunca pararam de forma contínua.

O cenário de seca regressou a Portugal, depois de o primeiro semestre do ano ter sido o quarto mais quente desde 1931 e o mês de julho ter sido mesmo aquele que registou temperaturas mais elevadas durante este período de 89 anos, segundo os dados divulgados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “Este mês extremamente quente e seco (apenas choveu em três dias) contribuiu para que o período de janeiro a julho de 2020 fosse o mais quente dos últimos 90 anos”, indica o IPMA.

Em consequência deste clima, Portugal volta a enfrentar uma situação de seca, em grande parte do seu território: a seca “fraca” atinge, neste momento, 71,4% do país (litoral do distrito de Viana do Castelo, interior Norte-Centro, região de Lisboa e Vale do Tejo e grande parte da região Sul). A seca “moderada” afeta 19,9% do país (Baixo Alentejo — distritos de Setúbal e Beja — e Algarve) e a seca “severa” apenas 0,3% (Alvalade e Mértola, no Alentejo).

Em julho, houve “aumento da área em seca em todo o território” e uma “diminuição significativa dos valores de percentagem de água no solo”, segundo o Índice Meteorológico de Seca, calculado pelo IPMA. As situações que despertam, para já, maior preocupação verificam-se nas regiões Nordeste, vale do Tejo, Baixo Alentejo e Algarve, onde estes valores de água no solo são, neste momento, inferiores a 20%.

todas as barragens produziram energia As barragens começam a acusar a falta de chuvas. E já foram mesmo identificadas quatro albufeiras abaixo dos 40%: Baixo Sabor Montante (que, neste período, esteve sempre abaixo dos 40%), Baixo Sabor Jusante, Foz Tua e Raiva, abaixo deste nível por períodos intermitentes.

Ainda assim, a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) alerta para a situação das barragens de Foz Tua e Baixo Sabor Montante, que têm registado percentagens de armazenamento muito reduzidas (entre 5 e 40%), o que justificou que “em alguns dos últimos dias” estas barragens não entrassem em operação.

Apesar das baixas percentagens de armazenamento registadas entre 1 de julho e 12 de agosto, houve ainda assim produção hidroelétrica e bombagem em alguns dos dias em todas as barragens, refere a APREN. “Portanto nenhuma barragem em Portugal parou de produzir por um período contínuo”, esclarece a associação – ao contrário do que aconteceu em 2019, quando se verificaram percentagens de armazenamento entre 0 e 35%, e a central de Pracana não entrou sequer em operação.

A EDP, por outro lado, indicou que, este ano, não tem “qualquer albufeira abaixo do nível de água necessário para produzir energia elétrica”. A empresa energética informou que, neste momento, as albufeiras que gere “apresentam um armazenamento total médio ligeiramente superior a 70%”, destacando que “ainda não ocorreu este ano” a situação de o nível da água das barragens estar abaixo do necessário para produzir eletricidade.

Porém, a EDP destaca que, noutras ocasiões, essa situação não pôde, de facto, ser evitada. “Já houve situações em que a EDP esteve vários meses sem produzir em determinadas albufeiras porque, dada a situação de seca, decidiu abdicar da produção e manter reservas de água que poderiam ser necessárias para consumo humano e outras atividades”, refere a empresa.