Algarve de olhos postos em setembro

Depois de muitos meses de expectativa, Portugal saiu finalmente da lista negra do Reino Unido. As atenções estão agora viradas para setembro, mas sem expectativa de recuperar receitas.

Portugal deixou de estar na lista negra do Reino Unido nos ‘corredores aéreos’ e, com isso, os viajantes deixam de ser obrigados a cumprir a quarentena. Mas, apesar dos responsáveis do setor aplaudirem a medida, admitem que peca por ser tardia e  acreditam que dificilmente o país venha a recuperar os turistas perdidos.

«É obviamente uma boa notícia para o turismo, na medida em que o Reino Unido é o nosso principal destino emissor. Só peca por tardia, porque infelizmente os efeitos fizeram-se sentir com grande intensidade», diz o presidente da Confederação do Turismo de Portugal.

Francisco Calheiros, em entrevista ao SOL, já tinha afirmado que o turismo estava a viver um dos piores momentos da sua história a nível global e nacional. «Fomos das primeiras atividades a sentir o impacto da pandemia. Em Portugal, os cancelamentos começaram a surgir desde o primeiro momento, ainda antes da declaração do primeiro estado de emergência em Portugal».

E já tinha criticado a decisão do Reino Unido ao impor quarentena para quem viesse passar férias a Portugal por considerar que os turistas britânicos iriam optar por outros destinos para fugir a esta obrigação e que essa decisão seria política e não por motivos de saúde. «Ter apenas como base da decisão o número de casos infetados por mil habitantes é um absurdo. Portugal tem demonstrado capacidade para lidar com a pandemia desde o início e temos tido uma boa resposta dos nossos serviços de saúde», disse ao SOL.

Na expectativa estão os hoteleiros algarvios.  Para o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), o levantamento dessas restrições deveria ter sido feito no início do mês de junho «de modo a evitar um impacto tão negativo como tivemos nos meses de julho e agosto, que são os meses por excelência do turismo no Algarve».

E os números falam por si. Em julho, de acordo com os últimos dados divulgados pela associação, taxa de ocupação global média por quarto foi de 32,6% em julho, o «valor mais baixo de sempre» neste mês. No ano anterior tinha-se fixado nos 61%. Ainda assim, mostra uma recuperação face a junho, muito graças ao mercado nacional.

A maior fatia das dormidas coube aos turistas nacionais com 60,9%, seguidos pelos espanhóis (6,8%), alemães (5,8%) e holandeses (5,4%). As zonas de Faro e Olhão foram as que registaram a taxa de ocupação mais alta, 39,3%, enquanto a mais baixa ocorreu na zona de Albufeira, com 27,3% devido, em grande parte, à queda do mercado britânico.

E os alertas não ficam por aqui. Segundo Elidérico Viegas, «o mercado britânico representa em julho e agosto mais de um terço da procura total, não apenas nas ocupações e dormidas, mas ainda mais nas receitas, porque os britânicos fazem gasto per capita mais elevado. E a medida agora tomada vai contribuir sobretudo para que a estação de golfe, que se inicia no mês de setembro possa ter alguma perspetivas, esperando nós que os operadores turísticos ligados à atividade possam retomar as operações com normalidade».

O responsável admite ainda que tem alguma curiosidade para saber como o turista britânico vai reagir a este levantamento de restrições. E a explicação é simples: em outubro começa a «época baixa, quando a gestão é deficitária», e as restrições de entrada no Reino Unido devido à covid-19 começam a afetar «países concorrentes que estão neste momento a enfrentar segundas vagas e saíram da lista de destinos seguros».

 

Olhos postos em setembro

Também o presidente do Turismo do Algarve acredita que esta decisão venha impulsionar, «de forma significativa, o aumento do número de passageiros no aeroporto de Faro e o retomar das operações de alguns operadores, reforçando o esforço de promoção que tem sido feito nesse sentido». João Fernandes vai mais longe e que «estamos fortemente empenhados em reverter os efeitos negativos que resultaram da anterior decisão do governo britânico e esperamos que a região possa agora recuperar algum do tempo perdido».

O Turismo do Algarve espera que esta tomada de posição do Reino Unido venha a produzir efeitos já a partir do mês de setembro, altura em que arranca a época alta de golfe e em que a região irá receber o Portugal Masters, prova do European Tour desta modalidade. «Acreditamos que possam ainda existir algumas perspetivas positivas para o turismo da região. Temos bom tempo, uma oferta diversificada de experiências e um forte calendário de eventos internacionais a decorrer até ao final do ano, entre os quais o Campeonato Mundial de Fórmula 1 e o Grande Prémio de MotoGP. Consideramos que estes são bons argumentos que irão incentivar os turistas britânicos a regressar ao Algarve mesmo fora da época alta», afirma.

Mais otimistas com esta medida estão as agências de viagens britânicas ao garantirem que  ainda chega a tempo. «Portugal é um destino popular entre os turistas britânicos e um lugar onde o clima costuma ser agradável até tarde no inverno. A notícia de que os turistas ainda podem desfrutar de uma merecida pausa neste país será bem-vinda pelos viajantes e também pela indústria de viagens», disse o porta-voz da Associação de Viagens do Reino Unido (ABTA).

Também a Associação de Agências de Viagens Independentes (AITO) reconhece que este era «um momento muito esperado», acrescentando que «os clientes da AITO adoram Portugal e as suas ilhas, Madeira e o arquipélago dos Açores com nove ilhas, e estão desesperados para reservar as suas férias lá».

Esta decisão surgiu na mesma semana em que foi revelado que as restrições a viagens tiraram 18 milhões de passageiros aos aeroportos nacionais nos primeiros seis meses do ano.