Portugal deixou de estar na lista negra do Reino Unido nos ‘corredores aéreos’ e, com isso, os viajantes deixam de ser obrigados a cumprir a quarentena. Mas, apesar dos responsáveis do setor aplaudirem a medida, admitem que peca por ser tardia e acreditam que dificilmente o país venha a recuperar os turistas perdidos.
«É obviamente uma boa notícia para o turismo, na medida em que o Reino Unido é o nosso principal destino emissor. Só peca por tardia, porque infelizmente os efeitos fizeram-se sentir com grande intensidade», diz o presidente da Confederação do Turismo de Portugal.
Francisco Calheiros, em entrevista ao SOL, já tinha afirmado que o turismo estava a viver um dos piores momentos da sua história a nível global e nacional. «Fomos das primeiras atividades a sentir o impacto da pandemia. Em Portugal, os cancelamentos começaram a surgir desde o primeiro momento, ainda antes da declaração do primeiro estado de emergência em Portugal».
E já tinha criticado a decisão do Reino Unido ao impor quarentena para quem viesse passar férias a Portugal por considerar que os turistas britânicos iriam optar por outros destinos para fugir a esta obrigação e que essa decisão seria política e não por motivos de saúde. «Ter apenas como base da decisão o número de casos infetados por mil habitantes é um absurdo. Portugal tem demonstrado capacidade para lidar com a pandemia desde o início e temos tido uma boa resposta dos nossos serviços de saúde», disse ao SOL.
Na expectativa estão os hoteleiros algarvios. Para o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), o levantamento dessas restrições deveria ter sido feito no início do mês de junho «de modo a evitar um impacto tão negativo como tivemos nos meses de julho e agosto, que são os meses por excelência do turismo no Algarve».
E os números falam por si. Em julho, de acordo com os últimos dados divulgados pela associação, taxa de ocupação global média por quarto foi de 32,6% em julho, o «valor mais baixo de sempre» neste mês. No ano anterior tinha-se fixado nos 61%. Ainda assim, mostra uma recuperação face a junho, muito graças ao mercado nacional.
A maior fatia das dormidas coube aos turistas nacionais com 60,9%, seguidos pelos espanhóis (6,8%), alemães (5,8%) e holandeses (5,4%). As zonas de Faro e Olhão foram as que registaram a taxa de ocupação mais alta, 39,3%, enquanto a mais baixa ocorreu na zona de Albufeira, com 27,3% devido, em grande parte, à queda do mercado britânico.
E os alertas não ficam por aqui. Segundo Elidérico Viegas, «o mercado britânico representa em julho e agosto mais de um terço da procura total, não apenas nas ocupações e dormidas, mas ainda mais nas receitas, porque os britânicos fazem gasto per capita mais elevado. E a medida agora tomada vai contribuir sobretudo para que a estação de golfe, que se inicia no mês de setembro possa ter alguma perspetivas, esperando nós que os operadores turísticos ligados à atividade possam retomar as operações com normalidade».
O responsável admite ainda que tem alguma curiosidade para saber como o turista britânico vai reagir a este levantamento de restrições. E a explicação é simples: em outubro começa a «época baixa, quando a gestão é deficitária», e as restrições de entrada no Reino Unido devido à covid-19 começam a afetar «países concorrentes que estão neste momento a enfrentar segundas vagas e saíram da lista de destinos seguros».
Olhos postos em setembro
Também o presidente do Turismo do Algarve acredita que esta decisão venha impulsionar, «de forma significativa, o aumento do número de passageiros no aeroporto de Faro e o retomar das operações de alguns operadores, reforçando o esforço de promoção que tem sido feito nesse sentido». João Fernandes vai mais longe e que «estamos fortemente empenhados em reverter os efeitos negativos que resultaram da anterior decisão do governo britânico e esperamos que a região possa agora recuperar algum do tempo perdido».
O Turismo do Algarve espera que esta tomada de posição do Reino Unido venha a produzir efeitos já a partir do mês de setembro, altura em que arranca a época alta de golfe e em que a região irá receber o Portugal Masters, prova do European Tour desta modalidade. «Acreditamos que possam ainda existir algumas perspetivas positivas para o turismo da região. Temos bom tempo, uma oferta diversificada de experiências e um forte calendário de eventos internacionais a decorrer até ao final do ano, entre os quais o Campeonato Mundial de Fórmula 1 e o Grande Prémio de MotoGP. Consideramos que estes são bons argumentos que irão incentivar os turistas britânicos a regressar ao Algarve mesmo fora da época alta», afirma.
Mais otimistas com esta medida estão as agências de viagens britânicas ao garantirem que ainda chega a tempo. «Portugal é um destino popular entre os turistas britânicos e um lugar onde o clima costuma ser agradável até tarde no inverno. A notícia de que os turistas ainda podem desfrutar de uma merecida pausa neste país será bem-vinda pelos viajantes e também pela indústria de viagens», disse o porta-voz da Associação de Viagens do Reino Unido (ABTA).
Também a Associação de Agências de Viagens Independentes (AITO) reconhece que este era «um momento muito esperado», acrescentando que «os clientes da AITO adoram Portugal e as suas ilhas, Madeira e o arquipélago dos Açores com nove ilhas, e estão desesperados para reservar as suas férias lá».
Esta decisão surgiu na mesma semana em que foi revelado que as restrições a viagens tiraram 18 milhões de passageiros aos aeroportos nacionais nos primeiros seis meses do ano.