Morreu advogada curda em greve de fome há 238 dias

Ebru Timtik, conhecida por aceitar casos incómodos para o regime turco, condenada a 13 anos de prisão com base no depoimento de uma testemunha anónima, morreu num hospital sem condições. 

Morreu Ebru Timtik, uma advogada curda em greve de fome na Turquia, exigindo um julgamento justo. Timtik – em tempos conhecida por aceitar casos incómodos para o autoritário regime de Recep Tayyip Erdogan – já não ingeria alimentos há 238 dias. Tinha sido condenada a 13 anos de prisão, em 2018, por supostamente liderar uma organização terrorista, num julgamento conjunto com outros 18 advogados, incluindo o seu colega Aytaç Ünsal, também em greve de fome, com o qual trabalhava na Sociedade Progressista de Advogados.

A condenação de Timtik, bem como a dos restantes arguidos, foi obtida sem qualquer prova material. Teve como base num único testemunho confidencial de uma testemunha anónima, que já incriminara ativistas detidos nos protestos da praça Gezi, em 2013, explicou o presidente da Ordem dos Advogados de Istambul, Mehmet Durakoğlu, à DW.

Há meses que o estado de saúde de Timtik e de Ünsal era uma preocupação. Foram transferidos para o hospital Sadi Konuk em julho, onde encontraram condições ainda piores que na prisão. "As suas necessidades, como água, açúcar, limão, vitaminas, chás de ervas – apenas consomem isso – são supridas tarde ou não são de todo", contou na altura Çigdem Akbulut, secretária da Sociedade Progressiva de Advogados, à BBC. "Não são apenas as vidas de Ebru e Aytac que estão em risco, mas o seu direito a defenderem-se", apelaram os principais dirigentes das associações de advogados turcas, num comunicado conjunto.

O protesto de Timtik e de Ünsal não pretendia ser apenas um grito de justiça para eles mesmos, salientou a advogada, numa das suas últimas cartas à sua tia, citada pelo canal britânico. "Se formos libertados, poderemos estar ombro a ombro na luta por justiça", escreveu Timtik, num país em que tantos opositores acabam presos ou perseguidos, com o rótulo de terroristas. "Para nós, mais difícil que a fome é dizer que temos as mãos atadas", lamentou.