1930
Um dia acordou a chamar-se Bond, James Bond, mas ao universo do agente secreto ao serviço de Sua Majestade escrito por Ian Fleming que teria a honra de ser o primeiro a interpretar Thomas Sean Connery dificilmente aspiraria nos anos da sua infãncia. Nasceu a 25 de agosto de 1930 em Fountainbridge, bairro de classe operária de Edimburgo, filho de Joseph Connery, trabalhador fabril e camionista, e Effie McLean, empregada de limpezas. O pai era católico, a mãe protestante. Na infância tratavam-no por Tommy, mas depressa os amigos passaram a tratá-lo pelo segundo nome – um deles chamava-se Séamus, e gostava de o tratar por Sean quando estavam os dois juntos.
1940
Sean cresceu depressa. O primeiro trabalho que teve foi de leiteiro, antes de se ter juntado à marinha, com apenas 16 anos. Empregava-o a Sociedade Cooperativa de St. Cuthbert, ainda em Edimburgo. Contou o próprio no livro Being a Scot (ser escocês, editado em 2009 pela Phoenix Illustrated e que escreveu em coautoria com Murray Grigor) sobre um episódio ocorrido poucos anos antes: "Quando apanhei um táxi numa edição recente do Festival de Cinema de Edimburgo, o condutor ficou espantado com eu ser capaz de dizer o nome de cada rua por que passávamos. ‘Como é que pode ser?, perguntou. ‘Em rapaz entregava leite por aqui’, disse. ‘E o que é que faz agora?’". O ator gracejou, numa fase da vida em que vinha já aceitando os seus últimos papéis: "Essa é mais difícil de responder".
1950
Além de ter feito entregas de leite, trabalhou depois de ter largado a marinha na construção, ainda como nadador salvador. Desportista nato, começou a praticar bodybuilding aos 18 anos. Estava-se no ano de 1951. Apenas dois anos depois, venceria o bronze no concurso de bodybuilding Mr. Universo. Foi ao inscrever-se no casting para um papel de marinheiro que deu o primeiro passo para se tornar ator, depois de ter declinado um convite para uma aparentemente promissora carreira no futebol – chegou a ser convidado para jogar no Manchester United. Com o futebol posto de parte, juntou-se a uma companhia de teatro dos subúrbios de Londres, e aí se começou a fazer ator de verdade. Depressa chegaram os filmes, primeiro em produções de baixo orçamento, como Action of The Tiger, filme de 1957 de Terence Young, que se conta ter-lhe dito já aí que esperava poder um dia entregar-lhe um papel de outra envergadura.
1960
Não demoraria muito a chegar esse dia, que veio nem mais nem menos quando o próprio Young partiu para a realização Dr. No, de Ian Fleming, que se tornaria no primeiro dos capítulos da saga de James Bond ao cinema. Seriam o primeiro filme, e esse ano de 1961 o primeiro, em que o papel lhe foi confiado (o filme estrear-se-ia em 1962). Ao espião do MI6 britânico dedicar-se-ia Sean Connery por toda essa década. Contaria anos mais tarde que quando partiu para o papel, que lhe foi proposto por Albert R. Broccoli, coprodutor ao lado de Harry Saltzman, conhecia apenas dois livros: "Achei o Ian Fleming muito mais interessante do que a sua escrita", confessou numa entrevista a Tom Hutchinson para o Guardian.
1970
Virada a década e depois de um interregno em que Bond fora pela primeira vez interpretado por um outro ator, George Lazenby, Connery regressava ao papel do qual até hoje é impossível descolá-lo. O filme era 007 – Os Diamantes São Eternos, e tinha na realização Guy Hamilton. A entrevista em que admitia não ser fã dos livros de Fleming foi a propósito da estreia deste filme. E o entrevistador fazia questão de sublinhar a relação de "amor-ódio" que o ator mantinha com o personagem para o qual até hoje os britânicos não conseguiram ter outro ator preferido. Dizia ainda sobre o que acreditava ter sido a marca decisiva que imprimiu na transição para o cinema da personagem original de Fleming: "Graças à minha ênfase na palavra fui capaz de me distanciar da personagem original do Bond e de me livrar do fardo daquelas piadas de mau gosto que proliferam nos filmes. O primeiro realizador, o Terrence Young, e eu trabalhámos muito a personagem para chegar a algum humor: certamente não está nos livros que li".
1980
Chegada a década de 1980, há muito que Bond era passado. Mas estavam por vir os anos que lhe trariam o real reconhecimento. O seu único Óscar, de Melhor Ator Secundário, deu-lhe a participação como Jim Malone, ao lado de Kevin Costner e Robert De Niro, em Os Intocáveis (1987), de Brian de Palma. Pelo mesmo papel venceu ainda um Globo de Ouro. Em 1988 venceria o BAFTA de Melhor Ator por O Nome da Rosa, de Jean-Jacques Annaud.
1990
Já na década de 1990, também nos Globos de Ouro recebeu o prémio Cecil B. DeMille pela sua carreira, que na totalidade foi também distinguida pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films em 1995.
2000
Virava a década e os reconhecimentos pelo todo da sua carreira continuavam a somar-se. Em 2006, era distinguido pelo American Film Institute. Chegado era também o tempo dos seus últimos papéis. Foi aliás ao receber essa última distinção que anunciou que deixaria de representar. No ano seguinte estreava-se o último filme em que participou, como protagonista: A Armadilha, de Jon Amiel.
2010
O fim que anunciara para a sua carreira teve nessa década ainda duas interrupções, ainda que a essa personagem – a personagem principal do filme de animação Sir Billi the Vet (2012), de Sascha Hartmann – não tenha já emprestado o seu corpo, mas apenas a voz. De uma votação levada a cabo este ano pela revista britânica RadioTimes na qual participaram milhares de leitores, Connery saiu como o James Bond preferido do público de todos os tempos. À frente de Daniel Craig, que bateu na primeira eliminatória, para na final destronar sem dificuldade (com 44% dos votos) Pierce Brosnan e Timothy Dalton.