Octávio Ribeiro: ‘Não sei se estou preparado para ser velho’

Director do Correio da Manhã desde 2007, Octávio Ribeiro lidera também a Correio da Manhã TV, no ar a partir de domingo. Cresceu no Barreiro, onde fez ginástica desportiva e sonhou com o futebol, mas uma lesão pôs-lhe fim à carreira. Descobriu a poesia e a música através da banda industrial Rococó, onde ‘tocava’ máquina…

quais são as primeiras imagens que recorda de si?

nasci em montargil, onde estive até aos dois anos, mas não me lembro de lá viver. sou um produto do barreiro.

então por que nasceu em montargil?

os meus pais eram professores da primária e eram colocados onde faziam falta. fui o primeiro bebé a nascer no hospital de montargil. o professor em terras pequenas tinha uma série de funções e o meu pai era também administrador do hospital e ficava-lhe mal que o filho não nascesse lá. a minha mãe lá foi dar à luz no hospital, onde estava um jovem médico estagiário, o doutor machado caetano. 20 anos depois foi ele que quase me curou das alergias. mas as minhas memórias de montargil não existem, dou comigo no barreiro, para onde fomos para o meu pai tirar o curso de direito.

o que se lembra do barreiro?

lembro-me de andar sempre a jogar futebol. era um miúdo de classe média, mas andava com os mais pobres, que jogavam melhor. lembro-me de uma vila sitiada. acordava todas as manhãs com os cascos dos cavalos da gnr numa demonstração de força; era proibido mascarar-nos no carnaval… era uma terra da vanguarda operária, onde nasceu o anarco-sindicalismo, onde se cristalizou o pc, onde havia greves, atentados e pequenos clubes subversivos que dinamizavam a música e a poesia.

já tinha consciência política? percebia o porquê de tantos tumultos?

comecei a perceber muito cedo. tinha um gira-discos de uma tia-avó que era madre superiora, mas muito progressista, e ela dava-me os discos todos do zeca afonso. todos os dias ouvia o ‘grândola, vila morena’. adorava as músicas dele, do adriano correia de oliveira, do francisco fanhais, do letria com letras da hélia correia. a consciência política nasceu naturalmente. a seguir ao 25 de abril tive a grande decepção de os comunistas locais serem iguais ou piores do que os anteriores. saímos de uma ditadura nacional e entrámos numa ditadura local. pude contribuir para terminar com esse ciclo quando, no início do ano 2000, apoiei um candidato do ps. fi-lo por uma questão de cidadania, mas a seguir afastei-me. o pc que veio depois já era mais saudável.

quando se dá o 25 de abril sente que há o perigo de outra política totalitária?

de outra política pior, talvez. lembro-me de ir comprar os jornais ao meu pai, ele era socialista e então comprava-lhe o república e o luta e havia pessoas que eu conhecia de toda a vida a fazerem listas negras daqueles que não eram comunistas. todos os que não fossem comunistas eram fascistas.

sentiu alguma coisa em concreto?

no liceu do barreiro quando fiz uma lista independente e ganhámos as eleições, o copcom [órgão do mfa] tomou aquilo, portanto não pudemos tomar posse. e o conselho directivo não nos dava dinheiro para nada.

disse que andava sempre a jogar futebol. foi na rua que o descobriram?

sim, fui descoberto por um senhor, segismundo, que disse ao meu pai que eu tinha muito talento, se não se importava que me treinasse. o meu pai resmungou, mas tive como grande aliada a minha mãe. desde que eu tivesse boas notas ia avançando no desporto. mas antes disso treinou-me em boxe, porque ele achava que eu era pouco agressivo. aos 13 anos levou-me então ao barreirense, mas não havia iniciados, comecei a jogar futebol com miúdos de 15 e 16 anos. no ano seguinte, ainda iniciado, já era dos melhores marcadores dos juvenis e capitão de equipa. e depois, como juvenil, era capitão de equipa dos juniores. era extremo esquerdo.

mas antes já fazia ginástica desportiva?

fiz. fui o melhor atleta do barreirense desde os três anos até aos 12 e fui ganhando sempre os concursos.

dava-se com os craques do barreiro?

treinava com o carlos manuel, o frederico, o jorge martins, o araújo. a última época em que estivemos na i divisão eu ainda era juvenil, mas o mister manuel de oliveira pôs-me a treinar com os seniores, mas jogava nos juniores. na época seguinte, já como júnior, passei a jogar com os seniores, já na ii divisão, quando saíram para o benfica. quando não tinham jogo iam ver o barreirense e iam ao balneário: ‘oh pá, hoje não estavas cá’ ou ‘estiveste bem’.

lembra-se do seu ordenado?

ganhava 12 contos. mas no último contrato com o barreirense ganhava mais do que a minha mãe que era professora primária há 30 anos.

qual foi a sua maior alegria como futebolista?

foi subir de divisão, da terceira para a segunda. descemos de divisão devido a problemas financeiros e também fomos roubados indecentemente. num jogo com o juventude de évora, com um árbitro famosíssimo, o ‘melhor’ da altura, o senhor antónio garrido, tivemos um golo mal anulado. e descemos. no início da época seguinte comprometemo-nos em subir. o balneário é a coisa mais competitiva que conheci, nenhuma televisão se compara com o balneário de uma equipa profissional. se calhar há mais lesões em treinos do que em jogos.

por que deixou de jogar?

tive várias lesões porque não me foquei o suficiente. fazia directas para os exames, quando não eram os exames eram as namoradas, os copos… o barreiro estava numa época de bares e tertúlias, as miúdas eram muito giras… o meu futebol era muito explosivo, se o corpo não está descansado há tendência para fazer roturas. fiz uma lesão nos ligamentos e menisco a jogar com amigos.

como foi descobrir que não podia continuar a jogar?

caí num processo quase depressivo. estava infeliz. pensava no que não deveria ter feito. se o meu caminho tivesse sido linear teria ido para o benfica. nesse ano nem fiz nenhuma cadeira na faculdade. com 22 ou 23 anos, o meu corpo disse-me que já não reagia para fazer uma coisa que eu adorava. foi a dor mais forte da minha vida. mas se já não podia comunicar com os pés, passei a comunicar de outra forma. já tinha tertúlias de poesia, onde líamos os poetas malditos e poemas nossos. walt whitman, edgar allan poe, baudelaire, mário de sá carneiro…

no meio de tantos outros interesses continuava a estudar direito?

tinha chegado ao quarto ano, mas não me apetecia seguir o caminho do meu pai. foi por ele que fui para direito. mas pensar que ia ser advogado no barreiro, a levar dinheiro às pessoas para lhes resolver os problemas, não me servia. o meu pai já tinha um gabinete para mim no seu escritório, mas parei de estudar. só acabei o curso há pouco tempo.

como começa no jornalismo?

o fernando sobral fundou uma rádio fabulosa, a sul e sueste, que funcionava num edifício com uma carga extraordinária, a cooperativa dos corticeiros, e era preciso alguém para fazer as notícias. fui e adorei. a partir dessa rádio gerou-se um movimento cultural interessantíssimo no barreiro, a subvoga, que exaltava e procurava encontrar o denominador comum na criação num subúrbio como o barreiro. surgiram bandas, designers, pintores, estilistas…

uma dessas bandas era a sua, os rococó. o que tocava?

máquina de escrever, aspirador e moulinex. e tive um solo extraordinário no lisboa audiovisual, no fórum picoas, com uma máquina de lavar roupa. o pessoal definia aquilo como música parafernálica de expressão urbana pós-industrial. era uma banda onde o elemento mais importante era o técnico de som.

não tinham nenhum instrumento mais convencional?

tínhamos um baixo, mas só com uma corda e que era tocado com um serrote. e tínhamos vídeos e duas vozes, que diziam poesia feita por nós.

quais eram as temáticas?

variavam. só tínhamos um poema de amor que se chamava ‘amor’ e durava 58 segundos. começava com um grito selvagem do joão vaz que logo a seguir partia um vidro. era uma coisa doida. bebíamos grão vasco antes dos concertos.

tinham muitas fãs?

muitas! fizemos esse concerto no fórum picoas e já éramos um fenómenos de culto. tocámos nós, o primeiro produtor dos u2 e a laurie anderson. e nós fomos o grande sucesso! no fim pediram um encore, mas já não tínhamos vidro. então adaptámos o microfone e partimos os vidros que estavam no chão, com os pés.

mas entretanto já era jornalista?

depois da sul e sueste, o fernando [sobral] convidou-me para a secção de desporto no semanário. lembro-me que muitos dos internacionais da época tinham sido meus colegas: o nunes, o jorge plácido, o neno… quando ia ver treinos ao benfica, os gajos, a brincar comigo, atiravam-me a bola. tornei-me um grande sacador de notícias e começaram a dar-me asas para fazer outras coisas, como entrevistas de economia e reportagens no estrangeiro. ao fim de poucos meses fui aumentado para o dobro: 90 contos. isto em 87 ou 88. mas depois vou para a rtp.

não lhe era difícil assistir a jogos, sabendo que podia ser o octávio naquele campo?

passei a olhar para o futebol com um olhar crítico e espírito jornalístico. mas nunca mais vi o barreirense. adoro o clube, sou sócio, estou sempre informado, mas nunca mais vi um jogo.

o que foi fazer para a televisão?

o bessa tavares queria criar uma nova geração de jornalistas no desporto. fui eu, o nuno santos, o nuno marques ferreira, o rodrigo guedes de carvalho… somos todos da mesma fornada. sem falsas modéstias acho que levei para a rtp conceitos estéticos inovadores. acho que quem vê bom cinema tem esta tendência. só saio da rtp em 91 ou 92, quando estava a lançar a notícias magazine, do jn e dn, do qual fui o primeiro editor em lisboa. estava apaixonado pelo projecto e não tinha tempo para a rtp.

a maioria das pessoas não abdicaria da televisão pelo papel…

sempre saí do ecrã por vontade própria. não tenho a mínima dependência do ecrã. aliás, até me incomoda.

se estava tão apaixonado pelo projecto, por que saiu da notícias magazine?

porque, por ser polémico e frontal, entrei em choque com um porta-aviões chamado freitas cruz, director do jn e presidente do conselho de administração. naquela altura o jn vendia 150 e tal mil e queria uma revista com as festas e romarias do norte, só que isso, para os leitores do dn, não dava. precisávamos de algo mais cosmopolita. deste choque resultou a necessidade de eu sair. o dn não me dava nenhum lugar de coordenação ou chefia, por isso abandonei o jornalismo.

o que foi fazer?

a convite de marques mendes, que conhecia enquanto jornalista, fui, durante seis meses, assessor do ministro da educação, o engenheiro couto dos santos.

por que ficou tão pouco tempo?

porque a minha alma não é de assessor. embora tenha feito um excelente trabalho, aquele não era o meu lar. temos de condicionar a informação. essencialmente a minha missão foi o embate da primeira lei das propinas, na altura da geração à rasca e do rabo à mostra…

sentiu-se uma prostituta?

não é prostituta, mas percebi que o meu lado é fazer notícias e não propaganda. estava a trabalhar bem, a ganhar muito dinheiro, mas não estava feliz. e aí tenho a sorte de o josé pedro barreto me ligar a perguntar se queria ir para a tvi.

como é que esse cargo de assessor foi visto pelos amigos barreirenses?

muito mal. quando me encontravam chamavam-me traidor. e ainda por cima, como eu não fugia às polémicas, cheguei a aparecer na televisão a discutir com manifestantes. um dia cheguei ao ministério e havia um grupo de pessoas com crianças, para se queixarem da certificação dos colégios para deficientes profundos. quando os fui receber foram mal-educados, passei-me e disse que achava uma vergonha levarem as crianças para ali. não foi uma época particularmente brilhante para mim. fui para a tvi ganhar muito menos, mas voltei a ser feliz. aprendi muito, até para ser melhor jornalista. comecei a ver determinadas jogadas de propaganda.

está na fundação da tvi?

sim, mas aquilo era um desastre. o desporto era uma ilha com níveis de excelência comparáveis com a rtp e a sic. mas o resto não. era confrangedor. começa a melhorar com a chegada do josé ribeiro e castro a director e o jaime almeida ribeiro como director adjunto. é ele que me convida para coordenador geral. em 94/ 95 começamos a melhorar, e ainda mais com o engenheiro pais do amaral que define um target: a classe a/b/c1 jovem. é quando compramos séries de culto, como os x-files, e eu faço alguns formatos esteticamente arrojados que desembocam no directo xxi.

entretanto, chega belmiro de azevedo.

e aquilo fica outra vez à deriva. um problema que há no grupo sonae é que não têm bons gestores de comunicação social. são óptimas pessoas, mas não percebem nada desta área. nesta altura, em 98, recuo para o independente que era da media capital, com a inês serra lopes. juntos convencemos o engenheiro pais do amaral a voltar ao tablóide e fazemos um projecto forte do ponto de vista gráfico. ainda subimos uns oito mil, mas já não havia nada a fazer. quando o belmiro sai da tvi e o engenheiro pais do amaral volta, eu também volto. mas quem convida o josé eduardo moniz para a tvi é o belmiro, apesar de já estar de saída.

como é a sua relação com moniz?

da minha parte é de respeito.

mas não é por causa dele que sai a segunda vez da tvi?

não é por causa dele, é porque não me revia na forma como se geriam as pessoas. acho que os trabalhadores não precisam de ser servis para serem competentes e eficazes.

mas era a gestão do moniz ou da manuela?

não sei onde começa uma coisa e acaba a outra. e isto é um elogio.

essa é a fase em que era frequente a tvi ter profissionais emprateleirados?

sim. havia decisões de uma violência inaudita e injusta. a mim nunca me atingiram, bem pelo contrário, mas não consigo estar alheado do que se passa à volta. estava a escrever a carta de demissão com um grande ecrã à frente, quando vejo na cnn um avião a ir contra uma das torres. era 11 de setembro.

ainda assim saiu. o que foi fazer?

saí sem nada. o zé eduardo achava que tinha sido o rangel, mas eu nunca sairia da tvi para a sic. não acho ético. tínhamos o compromisso de que chegaríamos à liderança e isso, no que pude fazer, cumpri. fui director adjunto e redactor principal. quando saí da tvi já liderávamos o prime time. e quando se lidera o prime time, a curto prazo lidera-se o resto do dia, porque começa-se a ter receitas para investir em grelha. entretanto, estou um ano como freelancer a escrever para a visão, porque o cáceres monteiro e o pedro camacho me abriram a porta, e a fazer comentários na sport tv. depois de um ano, o joão marcelino convida-me para editor executivo do cm, em outubro de 2002. ao fim de três meses passo a chefe de redacção e ao fim de um ano a subdirector. e depois a director-adjunto.

como é que o rapaz dos rococó, que escrevia poesia e passou pelo dn, se adapta ao portugal real do cm?

quando cheguei, o líder era o jn: nós estávamos nos 90 e poucos mil e eles nos 115. e o joão marcelino vem à sala de reuniões dizer que o objectivo para o ano era chegar aos 100 mil. e eu pego no jn e digo: ‘e ultrapassar estes senhores!’. o joão olha para mim como se eu estivesse maluco. mas ultrapassámos.

mas a casa pia também trouxe dissabores?

estive completamente sozinho mais de um mês quando nos roubaram da redacção cassetes de um jornalista. o joão marcelino estava de férias e eu a enfrentar pressões fortíssimas. foi violentíssimo. desapareceu uma série de cassetes de uma gaveta trancada que depois apareceram em cd, foram publicadas pelo o independente e fizeram cair o director nacional da pj, adelino salvado.

nessa altura sentiu-se abandonado por joão marcelino?

senti. tive de tomar decisões sem ele e com um grande profissional em risco de colapso. fruto das amizades que fiz na televisão, apercebi-me que se ia passar qualquer coisa quando recebo dois telefonemas – da sic e da tvi – , com o mesmo boato: a alertarem-me que a pessoa tinha vício de jogo. ou seja, lançando o anátema sobre o jornalista que ele teria vendido as cassetes, o que era falso. só havia uma conversa relevante que fez cair o adelino salvado e essa conversa não estava nas cassetes. percebi que foi plantada uma escuta.

mais tarde voltou a falar de pressões, mas do governo sócrates.

quando começo a ter acesso a algumas das escutas do face oculta apercebo-me que não era só a tvi que ia ser comprada. o cm também. houve uma fase negra em portugal em que, com o apoio da banca, se ponderou fazer grandes negócios na comunicação social que não visavam o objecto de negócio, mas sim mudar direcções e silenciar.

o que pensa de sócrates?

entre 90 e 91, ao fim-de-semana tinha rtp e durante a semana semanário e rr. nesta altura, antónio guterres apresenta-me uma jovem promessa. e, de facto, ele tinha um estar que contrastava: não usava gravata, dizia palavrões, era pouco mais velho do que eu e trabalhava imenso. já como líder do ps faço-lhe a entrevista que antecede a queda de santana lopes, com o título: ‘o ps está pronto para governar’. logo a seguir dá-se a decisão de sampaio. numa primeira fase conversávamos muito, trocávamos impressões de forma aberta, ainda eu era director-adjunto. em 2007 ele faz-me um convite que achei que o primeiro-ministro não podia fazer.

que convite foi esse?

para substituir o josé eduardo moniz na tvi. ele diz que não sabia de nada do que se estava a passar, mas em fevereiro fez-me esse convite. quatro meses antes. disse-lhe que não estava disponível e a relação acabou.

sócrates quis dominar a comunicação social?

completamente. tinha essa vertigem. denunciei isso muitas vezes em editoriais. uma vergonha. não é um democrata. é um tipo colérico quando é contrariado. depois desse almoço na travessa – e uma coisa estranha é que o restaurante estava cheio, mas todas as mesas à nossa volta estavam vazias, portanto presumo que ele não marcava apenas uma mesa, mas um quadrado –, acho que nunca mais falámos.

quando se dá a ruptura com joão marcelino?

não há ruptura. senti que precisava de um novo capítulo na minha carreira e comecei a fazer um projecto com o jornalista tiago rebelo. era o projecto de um jornal diário, o claro, que procuraria posicionar-se entre o 24 horas e o cm. já havia business plan, instalações e uma ideia das pessoas a contratar. nesse momento comuniquei ao joão marcelino e, não sei se por coincidência, no mês seguinte ele aceitou um convite do joaquim oliveira que já existia há muito. sai e com ele saem 12 pessoas. tive de optar e fiquei no cm.

qual a percentagem daquilo que edita no cm com que se identifica?

ninguém faz o cm para o seu umbigo. somos de uma transversalidade imensa. temos a/b – 220 mil, c1 – 600 mil e mais 600 mil entre o c2 e d. quando aumentei o vidas de duas para seis páginas, o 24 horas vendia 28 mil. fui buscar o carlos castro e durante três ou quatro dias chamei-o à capa. em três meses, o 24 horas caiu cinco mil exemplares.

nunca teve problemas com nenhuma manchete?

com uma, há uns anos, completamente errada. pedi desculpa aos leitores, fiz uma profunda análise à equipa e percebi que os erros tinham sido grosseiros e portanto a pessoa que os fez teve de abandonar a nossa equipa.

como explica que o cm não consiga ultrapassar o estigma de ser o jornal dos taxistas?

o cm é o jornal dos taxistas, mas é também o jornal dos directores gerais. é um jornal para quem diariamente quer estar bem informado.

sente a frustração de não ser reconhecido e acharem que faz um produto menor intelectualmente?

não faço um produto menor. e sou muito seguro dos meus fundamentos intelectuais para além do jornalismo.

sempre teve fama de boémio. vai apanhar uma bebedeira no arranque da cmtv?

não. para já bebo mais moderadamente do que, por vezes, me apetecia. e só vou celebrar quando chegarmos à liderança. para isso já lá tenho uma garrafa de champanhe. nesse dia celebrarei efusivamente. e deixarei de fumar. é a minha promessa.

largou a boémia?

deixei de sair à noite. não acho nada mal ir para os copos, gosto imenso, mas não posso. houve uma fase em que o joaquim castro caldas recitava todas as semanas poesia no tagus e eu estava lá sempre. estou reformado dessa vida, mas, de vez em quando, sinto necessidade. adoro uma boa conversa à volta de um vinho tinto ou um uísque irlandês. é parte importante da vida.

como se concilia a família com a vida de um jornalista?

num dia normal vejo os meus filhos quando os levo ao colégio. faço questão de os levar senão não falava com eles. tive um primeiro casamento, entre 90 e 98, do qual tenho um filho já com 22 anos, o tomás. mais tarde apaixonei-me pela minha actual mulher, com quem estou desde 2000. temos uma miúda de 12 anos e um miúdo de nove. a minha actual mulher é do meio e por isso é mais fácil entender esta vida.

o que mudou com os 50 anos?

não tenho ido jogar futebol porque tenho medo de me lesionar, mas assim que a cmtv estiver no ar vou voltar a jogar aos sábados. mas cada vez chego mais tarde à bola e canso-me mais depressa… estou a gostar de ser maduro, mas não sei se estou preparado para ser velho.

raquel.carrilho@sol.pt e vitor.rainho@sol.pt