Enganos e diversões à moda de António Costa

Era e é óbvio que os números vão disparar, à semelhança do que se passa no resto da Europa, onde não foram tomadas as medidas pedidas pelos especialistas: testes em barda para controlar a propagação das infeções e hospitais preparados para separar os doentes não covid dos covid.

O dia em que o ministro das Finanças entrega o Orçamento do Estado ao presidente da Assembleia da República é uma agitação nas redações e todos aguardam pelas novidades. O cerimonial é vivido como se tratasse de uma final do Campeonato do Mundo para os jornalistas desportivos. Mas, tal como num jogo importante ninguém acredita que uma seleção entre com um jogador a mais ou a menos, custa muito aceitar que o documento entregue pelo ministro das Finanças tenha gralhas gravíssimas, em que 468 milhões de euros entram numa dança caricata.

Às redações, a primeira versão do documento avançava que o Fundo de Resolução seria dotado dos tais 468 milhões, para umas horas depois enviarem uma nova versão dizendo que essa verba está destinada à CP. Alguém acredita que foi um erro? Tenho para mim que a máquina socialista arranjou forma de se falar no assunto para mostrar efetivamente que o Governo é sensível às pretensões do BE e que nem mais um cêntimo vai para o Novo Banco.

A segunda jogada do Governo envolveu diretamente o primeiro-ministro. Quando o jornal i fez manchete dizendo que o país iria chegar aos dois mil casos diários de covid-19, António Costa também estava na posse desses dados. Era e é óbvio que os números vão disparar, à semelhança do que se passa no resto da Europa, onde não foram tomadas as medidas pedidas pelos especialistas: testes em barda para controlar a propagação das infeções e hospitais preparados para separar os doentes não covid dos covid.

Como não se fez o que era preciso, António Costa começou com a narrativa – palavra tão do agrado dos seus amigos do BE – de que as pessoas é que são responsáveis pelos seus atos e que se os números dispararem terão que ser tomadas medidas drásticas. Vai daí, inventou a história da aplicação dos telemóveis para mais uma vez desviar as atenções do que é verdadeiramente importante.

É óbvio que a lei é discriminatória e nem vale a pena falar na história da privacidade que já está muito estafada. Há na sociedade portuguesa alguns professores universitários que sempre recusaram usar telemóvel. Iriam esses professores, além de milhares de funcionários públicos, ser obrigados a comprar algo que não querem na sua vida? E quem não tivesse dinheiro para comprar um telemóvel que permitisse instalar a tal aplicação, seria preso? E os polícias andariam de pistola na mão a gritar: ‘Telemóvel ou vida?’. Ridículo.

Ridículo foi também a forma como foram anunciadas as outras restrições. Por exemplo, o meu amigo Zé é um homem de família, tem cinco filhos e não vai praticamente a lado nenhum sem levar a prole toda atrás. Com o anúncio de só poderem estar cinco pessoas à volta da mesma mesa num restaurante, o meu amigo Zé e a mulher ficaram sem a hipótese de cometerem a ‘loucura’ de jantarem um dia num restaurante com esplanada. Não seria de o Governo ter explicado que nesses casos os donos dos restaurantes podem perfeitamente ‘fazer’ uma mesa para sete? Ou será que o Executivo tem alguma coisa contra as famílias numerosas?

P. S. A próxima semana poderá ser aterradora se se confirmarem as previsões dos especialistas, podendo os novos casos de covid duplicar facilmente. Mas não deixa de ser estranho que ninguém se entenda. Por exemplo, com o caso positivo de Cristiano Ronaldo, o seu colega Danilo, que estava uns lugares afastado no célebre repasto, vai ter de ficar de quarentena em França, pois as autoridades assim o determinam. Por cá, os jogadores que estavam mais próximos de Ronaldo vão poder jogar amanhã. É óbvio que prefiro a situação portuguesa, mas será a mais correta?_Como é possível ainda não se ter uniformizado comportamentos na Europa?