‘A melhor publicidade que o país pode ter’

O Governo estima que a Fórmula 1 tenha gerado 30 milhões de receitas. Daniel Sá considera que país ganha ainda mais com a ‘visibilidade’ e ‘reputação’ que estes eventos asseguram.

«Na pior das hipóteses, teremos um impacto na ordem dos 30 milhões para a região e país e, na melhor das hipóteses, teremos um impacto substancialmente superior». As contas do Governo ao Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1, realizado no passado fim de semana, no Autódromo do Algarve – e apresentadas pela secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, na sessão de apresentação da prova –, já têm em consideração os impactos da pandemia (ficando abaixo dos 100 milhões de euros calculados no período pré-covid-19).

Ouvido pelo SOL, Daniel Sá, especialista em marketing desportivo e diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) de Lisboa, vai ainda mais longe. O especialista considera que a realização de provas do género em Portugal pode, inclusive, garantir ao país ganhos mais importantes e duradouros, que ultrapassam a própria receita direta: «Neste tipo de provas existem dois tipos de impactos. O primeiro, avançado pelo próprio Governo, que são os 30 milhões de euros de receitas diretas, em tudo o que é hotelaria, restauração, viagens ou souvenirs. Mas depois há um segundo impacto, extraordinariamente difícil de medir, mas que considero mais relevante tendo em conta os tempos que vivemos: a visibilidade e a reputação do país». «Este ano, apesar da pandemia, acabámos por receber a Champions [de futebol], o Grande Prémio de Fórmula 1 e ainda vamos ter o MotoGP. São três competições verdadeiramente globais, e numa altura em que todas as economias procuram reconquistar a confiança das pessoas – em tempos económicos, turísticos e sociais – estas são, sem dúvida, as melhores campanhas publicitárias que o país pode ter», explica Daniel Sá.

O diretor do IPAM considera que esta «é uma forma de mostrar ao mundo que Portugal, mesmo neste contexto pandémico, tem ainda níveis de segurança e de atividade interessantes. E isto é uma marca que permanece na mente das pessoas, que tem impacto para o futuro».

As notícias das últimas horas – com a confirmação de 14 membros de equipas da Fórmula 1 infetados e falhas na organização da prova identificadas pelas autoridades de saúde – podem, porém, «prejudicar este objetivo». Daniel Sá alerta que «a má publicidade pode sempre interferir negativamente, até porque não sabemos, para já, se houve ou não consequências do contacto entre as milhares de pessoas que estiveram presentes nas bancadas do autódromo». Apesar disso, acredita que, neste contexto, a questão possa estar a ser «sobrevalorizada». «Neste momento, pese as medidas de segurança, será inevitável surgirem situações deste género, que até podem ser polémicas, mas que já fazem parte desta nova normalidade».