O PS abandonou Mário Soares

Mário Soares, apesar de alguns desvios no seu percurso, teve sempre uma base clara: o país tinha de ser uma democracia como no resto do ocidente.

por Pedro Antunes
Empresário

“Nos próximos tempos, perante a incerteza da situação sanitária, não será o setor privado a puxar pela retoma.” Isto é a afirmação de Pedro Siza Vieira, Ministro da Economia deste governo.

Se dúvidas houvesse, de porque é que Portugal está no estado em que está, esta afirmação resume tudo. Este PS não vê o setor privado como o motor da economia. Para este PS, o motor da economia são os subsídios e os fundos da Europa. Longe estamos dos tempos de um PS que bloqueou as tentativas de tomadas de poder do PCP.

Sim, eu posso ser liberal e ter respeito por um PS de Mário Soares, e a sua ação que impediu Portugal de se tornar uma república soviética. Mário Soares, apesar de alguns desvios no seu percurso, teve sempre uma base clara: o país tinha de ser uma democracia como no resto do ocidente. Distinguia-se do PCP exatamente pela defesa das liberdades, nomeadamente a iniciativa privada.

Este é o PS que dispõe o Estado “a aumentar a despesa, a transferir recursos para a economia, e a estimular a atividade económica”, leia-se a gastar o nosso dinheiro para salvar a ideia de que temos o melhor SNS do mundo. Este é o PS que “[assume] a vocação contra cíclica deste orçamento", leia-se a reforçar os tentáculos do polvo estatal no setor privado.

"Perante uma economia que cai, as empresas, se entregues a si próprias, cortariam custos, a começar pelos custos do trabalho, despedindo ou reduzindo salários”. O Ministro Siza Vieira tem toda a razão. Claro que as empresas têm de se ajustar a uma contração da procura e à disrupção das linhas de abastecimento. Claro que as empresas, algumas obrigadas a fechar durante meses, estão em más condições. Ironicamente isso nota-se bem na TAP, em que assim que o Estado entrou ao barulho, e apesar dos 1.200 milhões de euros, já “deixou sair” centenas de trabalhadores e ainda foi ultrapassada pelas famigeradas companhias aéreas privadas e low-cost.

Mas não é também para isso que temos um sistema se Segurança Social? Não é para isso que um funcionário médio (1000 euros brutos) custa à empresa mais 500 euros todos os meses? Não é também para garantirmos uma rede mínima de segurança a quem é despedido? Estará o senhor Ministro a admitir que o sistema de Segurança Social, que até já é financiado com impostos além das contribuições, é imperfeito (leia-se “está falido e é apenas um esquema em pirâmide)?

Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimentos em economia sabe que a riqueza é produzida no setor privado. Os fundos europeus são transferência de riqueza criada nos países contribuintes líquidos na EU, riqueza dos contribuintes líquidos europeus. Não sou uma pessoa especialmente nacionalista, mas sinceramente gostava de ver o meu país conseguir ser menos dependente do dinheiro dos contribuintes de outros países.

Um dos grandes problemas que enfrentamos com a pandemia, é a inconsistência das medidas. A confusão e as interpretações dúbias.

No fundo o nosso problema com a gestão da pandemia não é mais do que o país que temos. No papel tudo parece fantástico. Trabalhador protegido, mas pobre. Um fisco forte, mas tão complexo que só os ricos conseguem explorar. Um SNS excelente, que só com cunhas (ou seguro privado) não se tem de esperar 2 anos por uma colonoscopia. As influências, que só quem tem acesso aos governantes consegue usar.

Eu quero um Portugal melhor, que não esteja na cauda do Ocidente.