Estado Islâmico decapita 50 moçambicanos em Cabo Delgado

Ataques aconteceram entre sexta-feira e sábado e fundamentalistas do Estado Islâmico tentam ganhar terreno.

As imagens que horrorizaram o mundo civilizado, de fanáticos do Estado Islâmico a decapitarem adversários que iam encontrando pela frente na Síria e no Iraque, repetem-se agora em Moçambique sem que a comunidade internacional pareça preocupar-se verdadeiramente com o problema. Cabo Delgado fica perdido num território que tem mais de 2700 quilómetros de comprimento e a União Europeia parece desconhecer o drama por que passam milhares de moçambicanos indefesos.

O próprio Governo de Filipe Nyusi já pediu ajuda à comunidade europeia, quer de apoio militar, quer de formação das tropas, mas até ao momento não recebeu oficialmente meios para combater o avanço dos fiéis do Estado Islâmico.

No final de setembro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português garantiu ao i que Portugal estava disposto a participar na preparação e na aplicação da resposta europeia.

Cabo Delgado foi palco, no fim de semana, de mais um violento e cruel ataque por parte de um grupo de radicais islâmicos, que utilizaram um campo de futebol para decapitar e desmembrar mais de 50 pessoas, ao longo de três dias.

A violência foi tal que, segunda uma fonte anónima relatou à Al Jazira, as famílias receberam apenas partes dos corpos para realizarem os funerais das vítimas.

“Os funerais foram realizados num ambiente de grande dor”, disse. “Os corpos já estavam em decomposição e não podiam ser mostrados”.

Ataques de extremistas Este ataque ocorreu na vila de Muatide, entre sexta-feira e domingo. Grupos de militantes capturavam os aldeãos que tentavam fugir ao ataque e executavam-nos.

A notícia foi avançada por um correspondente da BBC, que reportou ainda ataques na aldeia de Nanjaba, na sexta-feira à noite, onde homens armados gritavam “Allahu Akbar” (“Alá é grande”) enquanto disparavam e incendiavam casas.

Duas pessoas foram decapitadas durante este ataque e várias mulheres foram sequestradas.

Os ataques ocorreram nos distritos de Miudumbe e Macomia e, segundo uma fonte policial citada pela Al Jazira, as autoridades souberam do massacre “através de relatos de pessoas que encontravam cadáveres nos bosques”.

“Era possível contar 20 corpos espalhados numa área de 500 metros”, disse um polícia do distrito de Mueba que pediu para não ser identificado.

Terrenos para deslocados Face à violência armada em Cabo Delgado, muitas famílias fugiram do local para salvarem as suas vidas. Centenas de inocentes continuam a chegar e a refugiar-se na província de Sofala, onde as autoridades estão a distribuir terras para acolher famílias deslocadas.

“O processo [de distribuição de terras] já foi terminado. As pessoas já têm talhões, já montámos lá tendas e abrigos temporários. Cada família está no seu espaço”, disse à Lusa o delegado do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Sofala, Teixeira Almeida. “Ao todo chegaram a esta província 180 pessoas de 36 famílias”.

Segundo o INGC, Sofala alberga um total de 4625 pessoas deslocadas (925 famílias), juntando pessoas que fogem aos ataques de grupos armados com as vítimas do ciclone Idai.

Subir a parada Grupos ligados ao Estado Islâmico intensificaram os ataques no norte de Moçambique e têm aterrorizado a população local.

Em abril do presente ano, mais de 50 pessoas foram alvejadas e decapitadas numa vila em Cabo Delgado após terem recusado juntar-se ao intitulado Estado Islâmico. No início deste mês, na mesma região, um novo ataque resultou em nove pessoas decapitadas.

Os autores destes ataques estão ligados ao grupo Estado Islâmico, que tem vindo a adquirir cada vez mais influência no sul do continente africano. Aproveitam a pobreza e o desemprego local para recrutar jovens de forma a estabelecer um “califado” islâmico nesta zona.

Desde 2017, cerca de duas mil pessoas foram mortas e quase 430 mil ficaram desalojadas em Cabo Delgado, uma província maioritariamente muçulmana.

Zona rica em gás Cabo Delgado é uma zona rica em petróleo, e a presença da petrolífera multinacional francesa Total é uma das razões para o crescimento da insurgência islâmica.

Muitos dos residentes reclamam que não beneficiaram das indústrias de combustível da província e tornam-se, por isso, alvo fácil do Estado Islâmico, que recruta soldados entre a população mais desfavorecida.