Mortes estão a aumentar nos lares. Portugal com 178 surtos em estruturas residenciais de idosos

Portugal regista agora 178 surtos em lares. Não há balanço sobre total de infetados.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla inglesa) alertou para o aumento de mortes associadas à covid-19 em residentes em lares, chamando a atenção de que atualmente, perante a intensidade da epidemia, o risco é muito elevado para os idosos que residem em instituições ou estão em unidades de cuidados continuados. O relatório de avaliação rápida disponibilizado pelo ECDC não inclui informação sobre a situação em Portugal.

Já esta semana, a Direção-Geral da Saúde indicou ao i que atualmente estão sinalizados 178 surtos em lares (há três semanas, quando houve o último balanço, eram 107), não tendo fornecido informação sobre quantos idosos estão atualmente infetados. Desde o início do mês, os dados divulgados pela DGS revelam que já foram diagnosticados mais de 10 mil casos em idosos com mais de 70 anos. Só esta semana, de segunda-feira até ontem contabilizavam-se mais 2151 casos, com os idosos com mais de 70 anos a representarem 12,6% dos novos casos detetados no país.

A ministra da Saúde indicou que a taxa de letalidade acima dos 70 anos se situa nos 9,6%, o que faz antever um aumento acentuado da mortalidade nas próximas semanas, uma vez que as mortes têm vindo a ocorrer dez dias após o diagnóstico. O número de idosos infetados este mês já superou o balanço de outubro, quando foram diagnosticados 8500 casos em idosos com mais de 70 anos.

O relatório do ECDC assinala que, em relação à primeira vaga e de acordo com os dados disponíveis, tem havido um melhor prognóstico nos idosos internados, o que atribui a melhorias no tratamento clínico. A taxa de internamentos graves (de pessoas que precisam de cuidados intensivos, UCI, ou suporte respiratório) mantém-se no entanto estável no grupo dos 70 aos 79 anos e aumentou nas pessoas com mais de 80 anos face ao que aconteceu na primeira onda. "Isto pode resultar de haver mais camas de UCI disponíveis, e/ou maior consciencialização de espetro de sintomas apresentados por pessoas idosas, mudanças nas políticas e práticas de referenciação para cuidados de saúde e equipas  de profissionais de especializados", admite o organismo.

Perante o risco elevado, recomenda medidas com a testagem regular dos funcionários de lares que se situem em zonas com transmissão comunitária, admitindo a utilização de testes rápidos de antigénio para esse efeito e bem como procedimentos rigorosos internos, incluind protocolos para readmitir doentes quando têm alta hospitalar ou para proporcionar visitas aos residentes.

A Ordem dos Médicos considerou esta semana que tem havido demora na intervenção das brigadas de intervenção rápida, criadas pela Segurança Social para apoiar a intervenção clínica nos lares com surtos ativos. Um alerta que também já tinha sido feito esta semana ao i pelo presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social, que considerou um erro não ter havido um reforço de recursos humanos nos lares.

"Instalações maiores têm maior movimentação, pois têm mais residentes, mais funcionários e mais visitantes (por exemplo, saúde profissionais e familiares), aumentando a possibilidade de introdução do COVID-19 na unidade e seus moradores. Na UE, as equipas geralmente trabalham em mais de uma instalação, o que leva a que os surtos tenham o potencial de afetar o funcionamento regular de várias LTCFs (estruturas residenciais para idosos) por meio do aumento do absenteísmo", pode ler-se no relatório do ECDC, que faz uma sistematização sobre a informação e evidência disponível sobre como a covid-19 afeta lares e outras estruturas de cuidados continuados e alerta por exemplo para o risco de introdução da doença em lares por trabalhadores assintomáticos.

"Pessoas que vivem com demência apresentam maior risco direto e indireto relacionado ao COVID-19. Estão em risco por razões que podem incluir uma capacidade reduzida de aderir às recomendações de saúde pública e medidas de controlo de infeção, incluindo isolamento", assinala a autoridade europeia, apresentando alguns dados que também não têm estado disponíveis em Portugal: "a proporção de casos fatais de COVID-19 entre residentes de estruturas residenciais para idosos na UE e  Reino Unido que viviam com demência variou de 29% na Irlanda a 61-75% na Espanha, semelhante à prevalência de demência nessa população. Tendo em conta todos os casos fatais a nível nacional, a proporção de casos fatais de residentes com demência variaram de cerca de 19% dos casos fatais na Itália a 31% no Reino Unido-Escócia. No Reino Unido – Inglaterra e País de Gales – entre 19.394 mortes de residentes de casas de repouso envolvendo COVID-19', 90,4% tinham pelo menos um condição pré-existente com demência e doença de Alzheimer sendo as mais comuns".