2020 já é o ano com mais mortes no país desde que há registos

Desde o início do ano morreram em Portugal 114 mil pessoas. Até aqui, o ano com mais mortes tinha sido 2018, com 113 mil óbitos.

A três semanas do final do ano já foi batido o máximo histórico de mortalidade no país, num ano marcado pela pandemia e em que se regista um aumento mais acentuado de óbitos na população mais idosa. Os dados disponíveis na plataforma do Ministério da Saúde que faz a vigilância de mortalidade a nível nacional (evm.min-saude.pt) revelam que até esta quinta-feira, 10 dezembro, morreram já mais de 114 mil pessoas em Portugal, mais do que em qualquer outro ano na história do país.

O número de óbitos tem vindo a aumentar ao longo dos anos, com o progressivo envelhecimento da população. Ainda assim, o ano com maior mortalidade tinha sido 2018 e não o ano passado. Morreram em 2018 em Portugal 113 051 pessoas, um registo agora já ultrapassado, ainda com 2020 por terminar – esta quinta-feira, ao final do dia, contabilizavam-se 114 600 mortes. Até esta quinta-feira já morreram no país mais 10 mil pessoas do que no mesmo período do ano passado e mais 2886 pessoas do que em todo o 2019.

Historicamente, janeiro e dezembro são os meses do ano com maior número de mortes, uma tendência associada a maior incidência de infeções respiratórias como a gripe sazonal e também à descompensação de doenças graves com o frio. Todos os anos morrem em dezembro 9 mil a 10 mil portugueses, quando nos meses de verão se registam em torno de 7 mil mortes. Nos primeiros dez dias do mês, em que segundo a avaliação disponível na plataforma a mortalidade tem estado “muito acima do esperado”, morreram em Portugal cerca de 4 mil pessoas.

Norte com maior pico de mortalidade Os dados disponíveis nesta plataforma a cargo da Direção Geral da Saúde, e que resultam dos certificados de óbito declarados no país e que passaram a ser emitidos por via eletrónica em 2014 – o que permitiu criar o que na altura foi um sistema pioneiro de vigilância de mortalidade em tempo real – mostram que o novo pico de mortalidade depois de períodos com mortes acima do esperado na primeira vaga da epidemia e durante o verão tem sido mais acentuado na região Norte, onde se viveu uma segunda vaga de covid-19 mais intensa e com o maior número de mortes. Há também mais mortes do que seria esperado na região Centro e na região de Lisboa.

O EVM indica que a mortalidade tem estado acima do esperado apenas na faixa etária dos 75 anos. A informação em bruto, que o i analisou, revela que já morreram este ano no país 81 954 idosos com 75 anos ou mais, mais 7443 óbitos nesta faixa etária do que no mesmo período do ano passado. São o grupo etário em que a covid-19 tem sido mais pesada mas o balanço da pandemia não explica todo o aumento de mortalidade, o que tem sido alvo de diferentes análises, incluindo do Instituto Nacional de Estatística, e de pedidos de mais informação e monitorização, da Ordem dos Médicos à associação de administradores hospitalares.

Até esta quinta-feira morreram no país 5278 pessoas infetadas com covid-19, sensivelmente metade do aumento mortes que verifica este ano face a 2019. Sem balanços fechados sobre a mortalidade global, a segunda onda de covid-19 representa agora muito mais perdas de vidas do que a primeira onda de infeções. No início do desconfinamento, a 4 de maio, tinham morrido infetadas com covid-19 no país 1063 pessoas. Abril tinha sido o mês com mais mortes: 820. Só em novembro a covid-19 foi associada a 2033 mortes, quase duas vezes mais do que nos primeiros dois meses da epidemia. Deste o início de dezembro e em apenas dez dias já morreram 701 pessoas infetadas.

Causas de morte: o que se sabe e o que não se sabe A DGS ainda não divulgou dados sobre as causas de morte este ano, que garantiu no entanto que seria codificadas mais cedo do que o habitual depois dos alertas para o possível impacto da quebra de cuidados de saúde não covid que se vive desde março. No pico de mortes do verão, essa hipótese acabou por ser afastada pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que associou o aumento de mortes às ondas de calor vividas em julho.

O i solicitou nas últimas semanas também um balanço ao Instituto Ricardo Jorge sobre o novo pico de mortalidade que se vive desde novembro, com um excesso de 616 mortes nos últimos sete dias, mas até ao momento não houve quaisquer esclarecimentos sobre os dados que estão disponíveis no sistema EVM, de acesso público e que vai servindo de barómetro de um ano de mortalidade agora sem precedentes. Permite perceber tendências gerais: das 114 mil mortes registadas no país, 102 mil foram por causa natural, onde se incluem todas as doenças. São mais 7729 do que no ano passado nesta mesma data, portanto mais do que as atribuídas à covid-19. Registam-se 1381 mortes por causa externas, ligeiramente menos do que em 2019 no mesmo período, um quebra que se deve essencialmente a uma redução de mortes na estrada – há registo de 299 vítimas de acidentes de trânsito quando até à mesma data em 2019 houve 384 vítimas mortais. Houve desde o início do ano 72 mortes em acidentes de trabalho, mais do que as 50 em 2019 no mesmo período. Há registo de 477 casos considerados no momento de óbito como eventuais suicídios e 36 de homicídio, uma realidade próxima da do ano passado. Os números de suicídio são anualmente superiores e o balanço acaba por ser feito mais tarde, quando as causas de mortes são codificadas, habitualmente mais de um ano depois – em janeiro serão à partida publicados pelo INE os dados de 2019. Ao todo há 11 mil mortes em investigação, mais do que as 9600 contabilizadas no ano passado até à mesma data.