Digitalizar como solução para a crise

O Forum Europe reuniu um conjunto de ‘stakeholders’ ativos no panorama da transição para uma economia digital. O consenso foi absoluto: acelerar o processo permitirá uma recuperação económica mais célere.

A Europa espera cumprir a ambição de implementar uma economia digital sustentável e inteligente, que possa também servir como solução para ultrapassar a crise económica, que o contexto pandémico veio agravar. Os pontos fortes e fracos dos modelos de economia digital escolhidos por cada Estado-membro são, porém, distintos. O que significa que – pese embora a estratégia coordenada a nível europeu – o caminho para a concretização da digitalização das sociedades e negócios terá, numa fase embrionária, de ser trilhado de forma solitária, adaptando-se a nova realidade a cada contexto específico.

A web conference ‘Acelerar a transição para a Economia Digital’ abordou precisamente este tema. A sessão, moderada por Paul Adamson, chairman do Forum Europe, contou com a participação de Thibaut Kleiner, director for policy strategy and outreach da Comissão Europeia, Minna Kivimäki, membro da representação permanente da Finlândia junto da União Europeia (UE), Ricardo Castanheira, conselheiro técnico para o digital da representação permanente de Portugal junto da UE (REPER), Andrew Williamson, vice-presidente para global government affairs and economic adviser da Huawei, e Michele Geraci, ex-subsecretário de Estado para o Desenvolvimento Económico de Itália. Neste momento de incertezas impostas pela pandemia, que abalou os alicerces económicos e sociais à escala global, as dúvidas avolumam-se e procuram-se respostas. E foi nesse sentido que o Forum Europe decidiu reunir nesta conferência um conjunto de representantes de organismos públicos e entidades privadas com o objetivo de debater a transição para a economia digital.

À medida que a Europa vai traçando o seu caminho rumo a uma economia digital ambientalmente sustentável e, sobretudo, inteligente, a pandemia, que continua a assolar o mundo, não só adiciona complexidade à necessária transição digital, mas também cria oportunidades. Thibaut Kleiner frisou que todos os agentes, sejam eles políticos, económicos ou sociais, «devem aproveitar este momento para dar um forte impulso à recuperação económica e assim tornar a economia mais eficiente», ainda acrescentando que «é absolutamente necessário encorajar os Estados-membros da UE a fazer uma boa utilização dos fundos comunitários» que vão ser disponibilizados.

Alinhado com estas afirmações proferidas pelo responsável da Comissão Europeia, Andrew Williamson, vice-presidente para global government affairs and economic adviser da Huawei, salientou que «os países mais digitalizados vão recuperar mais rapidamente», alertando, porém, que as empresas «precisam de um sinal dos Governos de que há um verdadeiro compromisso no investimento na transição para uma economia digital», em prol de uma recuperação contínua e consistente. «Investir nas tecnologias de informação e comunicação será a melhor maneira de garantir um futuro mais próspero», disse o executivo da Huawei.

Com uma visão mais abrangente, Ricardo Castanheira, conselheiro técnico para o digital da REPER, garantiu que na presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, que se inicia no dia 1 de janeiro de 2021, haverá três pilares fundamentais a ter em atenção para atingir o pleno da democracia digital, nomeadamente «a capacitação e inclusão digital das pessoas para o seu empoderamento, a transformação digital do tecido empresarial, para o tornar mais competitivo, e a digitalização do Estado». E estes objetivos «não podem resumir-se a Portugal ou à União Europeia, também temos de olhar para o resto do mundo» para se atingir uma recuperação sustentável da economia à escala global, concluiu Ricardo Castanheira.

No entanto, apesar da absoluta necessidade de digitalizar a economia e acelerar a recuperação económica, as necessidades de cada país da UE diferem. Daí que Michele Geraci, ex-governante italiano, tenha destacado que, embora urgente, a gestão e aplicação dos fundos destinados à transição digital «não será uma realidade multilateral, têm de ser os países a gerir» este processo de forma individual – a título de exemplo, recorde-se que Portugal prevê alocar à transição digital cerca de três mil milhões de euros em subvenções recebidas do mecanismo europeu de recuperação e resiliência.