Variante inglesa do Sars-CoV-2 pode ser até 70% mais transmissível

O alerta é do ECDC, que ontem pediu aos países europeus para serem testadas pessoas provenientes das áreas de afetadas. Vários países suspenderam voos do Reino Unido este domingo. Portugal proíbe entrada de estrangeiros vindos de Inglaterra e pede teste a portugueses.

Os receios em torno da nova variante do SARS-Cov-2 descoberta em Inglaterra intensificaram-se este fim de semana após novas informações do Reino Unido e a confirmação da identificação dos primeiros casos noutros países europeus. Os riscos em torno dos convívios e viagens pelo Natal e Ano Novo agravam-se com mais esta incerteza, numa altura em que a epidemia volta a registar subidas de casos em alguns países europeus, com mais um fator a ter em conta nos diferentes países onde não há sinais de que a variante esteja a circular, mas os dados genéticos são também em menor quantidade do que aqueles de que dispõem as autoridades inglesas.

Reações a diferentes velocidades Os Países Baixos foram o primeiro país europeu a confirmar a deteção da variante este domingo, num dia em que o Governo britânico assumiu que a epidemia não está controlada, o que levou ao cancelamento do alívio das restrições programado para o período do Natal – em Londres e no Sul do país vive-se um novo confinamento com lojas não essenciais fechadas e não poderá haver reuniões de vários agregados familiares no Natal. No resto do país só poderá haver convívios no dia 25 e caíram por terra os cinco dias de folga até aqui previstos e discutidos à exaustão nas últimas semanas.

Depois de confirmar casos, Amersterdão avançou com a suspensão de voos oriundos do Reino Unido, decisão que viria a ser tomada ao longo do dia primeiro por Bélgica, depois por Itália e Áustria. Da parte da tarde por França e Alemanha, que fizeram diligências junto de Bruxelas para uma posição conjunta, e Irlanda. Em Portugal, o Ministério dos Negócios Estrangeiros descartou pela manhã avançar de imediato para uma suspensão de voos e começou por aguardar uma decisão conjunta europeia, tal como Espanha. Ao final do dia anunciou no entanto medidas: fica proibida a entrada de estrangeiros provenientes do Reino Unido e apenas poderão desembarcar os passageiros de voos provenientes do Reino Unido que sejam cidadãos nacionais ou cidadãos legalmente residentes em Portugal. Neste caso, passam a ter de apresentar, à chegada a Portugal, comprovativo de realização de teste laboratorial para rastreio da infeção por SARS-CoV-2, com resultado negativo. Se não tiverem feito o teste, têm de fazer cá e ficar em isolamento.

18 voos de Londres este domingo. ECDC recomenda testes Só ontem chegaram aos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro 17 voos provenientes de Londres e até aqui o desembarque no continente de voos oriundos de países europeus ou espaço Schengen não obriga a ter um teste negativo. Apenas viagens para a Madeira e Açores estão sujeitas à apresentação de um teste negativo feito nas 72 horas anteriores.

Na semana passada, quando o Governo britânico fez o primeiro alerta sobre a nova variante, o i questionou a Direção-Geral da Saúde sobre se estavam a ser equacionadas novas medidas de vigilância e quantos casos diagnosticados no país nas últimas semanas tinham ligação ao Reino Unido, mas até ao momento não houve um balanço.

Já este domingo a Organização Mundial de Saúde e Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças(ECDC na sigla inlesa) reforçaram os alertas e o organismo europeu publicou a avaliação rápida de ameaça que começou a ser preparada na semana passada com as autoridades britânicas, o que até aqui só tinha acontecido quando surgiram os primeiros casos de covid-19 e nos últimos meses quando se percebeu que existiam casos de reinfeção.

O ECDC não recomendou a suspensão de voos mas reforçou que são desaconselhadas viagens não essenciais. Recomenda para já que pessoas com ligação epidemiológica a doentes com esta variante ou com historial de viagem às áreas afetadas devem ser “identificadas imediatamente” para serem testadas, isoladas e ser feito o seguimento dos seus contactos para travar a disseminação, o que agora acontecerá nos futuros voos mas não se sabe se será aplicado em quem chegou ao país nos últimos dias, ainda sem a nova regra.

Por trás dos receios estão os dados reportados por Inglaterra à autoridade europeia: estima que esta variante tem potencial para aumentar o RT (o índice de transmissão que os países têm tentado empurrar para baixo) em 0,4 e que poderá ter uma transmissibilidade até 70% superior. “Um aumento da transmissibilidade de até 70% significa que uma pessoa infectada com esta nova variante tem até 70% maior probabilidade de infectar outra pessoa. São números comunicados pelas autoridades de saúde pública do Reino Unido. São preliminares e, portanto, devem ser tratados com cautela, e mais investigações são necessárias para verificar os resultados. O Reino Unido avaliou sua confiança nessas estimativas como ‘moderada”, indicou ontem ao i fonte oficial do ECDC.

O ECDC admite que esta época de maiores encontros e viagens pode ser propícia à disseminação desta variante. E a confirmar-se a transmissibilidade, pode tornar-se dominante, adverte. “Qualquer aumento na transmissibilidade aumentaria a probabilidade de o vírus se espalhar, particularmente se os convívios familiares sociais e familiares tradicionais nesta época não forem reduzidos e, para fora do Reino, especialmente se as viagens não essenciais não forem reduzidas ou evitadas de todo, o que poderia eventualmente levar a que esta variante substitua as que estão atualmente a circular na maioria da UE.” .