Continuamos à espera que Portugal mude sozinho

Está na altura de tomar a responsabilidade em nossas mãos e deixar queixumes para quem não quer mudar.

por Pedro Fernandes Antunes

Estamos quase no fim de 2020. Um ano muito duro para a maioria das pessoas. Pela primeira vez o mundo globalizado enfrenta uma pandemia. Ouvem-se muitas críticas sobre concorrência entre os países ricos e pobres pelo acesso à vacina. A realidade é que nunca o mundo viu tanta cooperação. As vacinas, tal como a própria pandemia, são uma consequência clara de um mundo mais globalizado, mais cooperante.

Não é a primeira vez e não é só em pandemias. A colaboração entre países tem vindo a crescer. A interdependência entre economias criou riqueza como nunca antes. Décadas disto.

Por isso é o mundo todo a respirar de alívio, nestes últimos dias de 2020, pelas vacinas desenvolvidas em tempo record. Temo, no entanto, que a crise esteja apenas no seu começo.

Tenho lido muito acerca das consequências económicas da pandemia. Desde que foi uma conspiração chinesa para acabar com o mundo ocidental, até ao facto de que a maioria dos países desenvolvidos estarem a tomar as devidas medidas. A realidade é que no médio-prazo as coisas acabam por se resolver. Há demasiada cooperação internacional para que isso não aconteça.

Para nós, em Portugal, a questão que fica é se queremos que as coisas se resolvam e evoluam para uma mediocridade, ou se queremos usar esta crise para uma evolução mais sustentada no tempo.

Temos muita coisa importante a acontecer em 2021. Eleição presidencial, que terá uma abrangência de soluções ideológicas mais alargada que as anteriores. Desde candidatos despesistas do PCP, a populistas do Chega e da esquerda, passando pelo incumbente pseudo-frugal (décadas de comentário televisivo investidas) e o liberal desconhecido. Até temos um “homem do povo” que os canais excluem dos debates. Além disso temos a bazuca europeia (lá para meados 2021?), que só mostra a nossa dependência de subsídios ao nível nacional. Por fim, perspetiva de uma recuperação económica, cuja força condicionará as autárquicas.

Por isso 2021 é um ano de expectativas elevadas para Portugal. Apesar disso não estou especialmente confiante. Ora vejamos as soluções até agora:

O governo quer aumentar o salário mínimo; em ano de crise dos pequenos negócios que mal se sustentam, criar mais esta barreira fica bem na fotografia, mas tenderá a envelhecer mal. A bazuca europeia, e isto é aposta minha, vai ser absorvida pelo Estado, para substituir investimento; mais uma vez teremos crowding-out pelo Estado, na banca para projetos privados (2011 novamente?). O governo voltou a nacionalizar prejuízos privados (só na TAP já se calculam 4 mil milhões) para salvar a face; mas já está a pensar vender aos alemães. A esquerda acena com o papão da extrema-direita, para criar um inimigo que todos gostam de poder odiar. Até tivemos um partido da oposição a sondar uma novidade (Santana para a CML, uff!).

Tudo isto é infantil, mas a culpa é só nossa, do eleitor.

Está na altura de os portugueses crescerem, tomarem em si a responsabilidade de olhar para partidos que se foquem em ideias novas. Está na altura de os portugueses crescerem e participarem mais na vida das suas cidades, das suas freguesias, das associações.

Está na altura de tomar a responsabilidade em nossas mãos e deixar queixumes para quem não quer mudar.