A questão vem de muito longe. Todos os que pensaram seriamente o país chegaram à mesma conclusão: Portugal só progredirá se o ensino conseguir formar pessoas melhores. Mais capazes. Mais cultas e portanto, também, mais educadas. Mas a escola tem-se vindo paulatinamente a degradar.
Se antes do 25 de Abril, por excesso de dirigismo, o ensino era mau, agora, por completa ausência de disciplina, é péssimo.
Chegou-me às mãos uma folha de ‘registo de comportamento’ de alunos de uma escola secundária, de que reproduzo alguns extratos:
«Depois de várias vezes advertido, o aluno continuou a desrespeitar as regras de sala de aula, não acatando o que a professora pediu, entrou em conflito com uma colega, acabando por atirar a caneta da colega pela janela. É um comportamento regular deste aluno o desrespeito pelas regras de sala de aula. Depois de várias vezes advertida, a aluna continuou a desrespeitar as regras de sala de aula, (…) acabando por atirar a mochila de um colega pela janela. É um comportamento regular desta aluna o desrespeito pelas regras de sala de aula. A aluna resolveu falar ao telemóvel – estaria a fazer um áudio. Pedi-lhe mais do que uma vez que desligasse o telemóvel, tendo-me respondido: «Vá passear». No decorrer da aula, usou linguagem grosseira e imprópria. Por outro lado, é necessário estar constantemente a dizer-lhe para colocar corretamente a máscara. A aluna, apesar de ser sensibilizada para corrigir a sua postura, teima em não a alterar. A aluna falou ao telemóvel no decorrer da aula. O professor pediu-lhe que desligasse a chamada, mas a aluna ignorou o pedido e continuou a conversa. Foi-lhe dada ordem de saída da sala. A aluna já foi chamada várias vezes à atenção por causa do telemóvel. Pedi à aluna para preencher a ficha de trabalho resolvida no quadro e esta levantou o dedo do meio da mão atrás da folha de papel, mas eu vi. O aluno foi avisado acerca do telemóvel. Foi convidado a sair e recusou-se. Foi necessária a presença da auxiliar para a saída do mesmo. A aluna, depois de várias vezes chamada à atenção, não colocou a máscara, tendo respondido mal à professora. A aluna recusa-se a colocar a máscara quando solicitada para o fazer. Passa as aulas sem máscara e a fazer gravações de voz no telemóvel. Não acata nunca os vários avisos da professora e costuma comer nas aulas. A situação descrita verifica-se desde o início do ano letivo. Já foram dadas várias hipóteses à aluna para corrigir a sua postura. Chamada repetidamente à atenção para colocar corretamente a máscara, tendo dado sempre resposta ao professor. Envolveu-se em conflito verbal com outra colega. Este comportamento repetiu-se algumas vezes durante a aula, mesmo após ter sido chamada à atenção e avisada que iria ser convidada a sair se repetisse o comportamento. Ao continuar com este conjunto de comportamentos foi convidada a sair. A aluna teve um comportamento desadequado à sala de aula, cantando em voz alta sempre que terminava uma tarefa. Mexeu várias vezes no telemóvel. Entrou em conflito verbal com uma colega, tendo mesmo feito ameaças à sua integridade física. Levantou-se para se dirigir à colega, coisa que não chegou a suceder pois o professor se colocou entre as duas. Foi convidada a sair imediatamente da sala, ordem que não aceitou. Saiu largos minutos depois com a ajuda de dois funcionários».
Uma professora desta escola, completamente desanimada, fez o seguinte desabafo:
«Estou cansada de corrigir comportamentos que não têm correção… Até começa a faltar a respiração para falar, como se a nossa voz fosse abafada. Só com polícia à porta da sala de aula. Até o professor mais paciente e que nunca levanta a voz começa a gritar, a berrar e a descontrolar-se. Estive toda a semana com dor de cabeça. É só ver os professores a adoecer com alunos destes, que não respeitam nada nem ninguém. Somos agredidos diariamente e ofendidos na nossa integridade física e moral. Ontem, uma aluna desta turma estava aos beijos com um aluno de outra turma quando entrei na sala de aula. Estavam semideitados um em cima do outro e ele a apalpar a miúda na zona da vagina. É isto que temos e não vejo as coisas mudar, só a piorar de dia para dia. Metade da turma tinha a máscara para baixo porque estavam a comer chupa, já que não tinham tido a aula de Matemática, anterior à minha. Enfim… Que Deus nos valha mesmo!».
Estes lamentos falam por si. Com a escola neste estado, o país não irá a lado nenhum. Os professores não resistem, desanimam e adoecem, os alunos desaprendem e regridem.
Desejo a todos os leitores um ano de 2021 um bocadinho melhor.