Em 5400 escolas públicas existentes de norte a sul do país, apenas 13 estão de portas fechadas devido a surtos da pandemia de covid-19. E num total de 1 milhão e 140 mil alunos, 39 mil estão em isolamento. São estes os números que têm feito o primeiro-ministro, António Costa, resistir ao encerramento dos estabelecimentos de ensino durante o confinamento geral, decretado no passado dia 15 de janeiro, continuando a olhar para as escolas como locais seguros. Não é, porém, consensual o facto de estes estabelecimentos entrarem no lote de exceções e estarem abertos. Ao i, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, alertou que existem casos de covid-19 “em quase todas as escolas do país” – entre alunos, professores e funcionários – e que um dos principais problemas é a falta de rastreio, dizendo mesmo que “nada acontece” a quem tem contacto com alguém infetado em contexto escolar.
“Telefonou-me um colega meu de Cantanhede a dizer que outro colega com quem eles tinham estado a almoçar na escola, todos juntos, na sexta-feira, se tinha sentido mal no fim de semana. Fez o teste e estava positivo. Quem esteve com ele quis fazer o teste para saber como proceder, mas disseram-lhe que não e para continuar ao serviço”, começou por relatar, salientando que, devido a estes exemplos, a “situação atual nas escolas não se conhece”.
“Não rastreiam. Agora, há coisas que são inevitáveis. Quando há sintomas, não podem fazer outra coisa que não tomar medidas. E muitas das escolas não fecham porque, mesmo que haja muitos miúdos infetados, optam por mandar esses alunos para casa. Temos escolas na Guarda com seis e sete turmas em casa, mas continuam abertas, às vezes até com irmãos, que vivem na mesma casa, a terem aulas presenciais em turmas que não confinaram. Isto é um bocado absurdo”, atirou.
Para Mário Nogueira, aquilo que é detetado nas escolas passa apenas por aqueles que têm sintomas de covid-19 e no caso de haver situações de infeção na família dos alunos que, nesse caso, têm de ser testados. Exige, por isso, um “protocolo definido” para as escolas, com o objetivo de não haver “delegados de saúde a decidir de forma completamente diferente uns dos outros”.
“Às vezes temos turmas inteiras fechadas, em situações aparentemente menos graves, em que apenas um aluno apanhou covid-19, e outras em que há vários alunos infetados e só eles vão para casa, não havendo testes nem nada. Há uma incoerência completa no que diz respeito às escolas e como estão a ser tratadas”, concluiu, reforçando que, neste momento, o melhor seria o encerramento total destes estabelecimentos.
escolas que já fecharam portas Entre as escolas que encerraram devido a surtos de covid-19 estão o Centro Escolar Comendador Rui Nabeiro, em Campo Maior, distrito de Portalegre, e a escola secundária desse mesmo município. No total são mais de 400 alunos de Campo Maior que se encontram em isolamento, havendo também professores e funcionários que testaram positivo à covid-19. Os estabelecimentos fecharam na sexta-feira para os cerca de 1200 alunos de um total de 60 turmas, com o presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, João Muacho, a sublinhar que o confinamento é a melhor arma para travar a covid-19.
“Só surte efeito se todos cumprirmos. E neste caso em particular, cumprir é que, nas próximas duas semanas, os alunos se mantenham em casa, muito em especial os de ciclos letivos mais avançados (terceiro ciclo e secundário)”, escreveu na sua página de Facebook.
Já a Câmara de Torres Vedras vai pedir ao Ministério da Educação o encerramento das escolas do terceiro ciclo e ensino secundário do concelho devido à evolução da covid-19, segundo revelou ontem o presidente da autarquia, Carlos Bernardes. “Estamos a trabalhar com os agrupamentos e com o delegado de saúde no sentido de termos uma justificação técnico-científica para o encerramento das escolas do 7.o ao 12.o ano, para submeter a proposta ao Ministério da Educação”, adiantou.
No Agrupamento de Escolas da Portela e Moscavide, em Loures, as portas não estão fechadas a cadeado, mas mais de 500 alunos encontram-se em isolamento devido à covid-19. São 520 os alunos que estão isolados por terem estado em contacto com alguém infetado na comunidade escolar – há registo de 19 alunos com covid-19 e 12 professores. “Mais do que nunca, temos a obrigação de nos protegermos e acatarmos as orientações da Direção-Geral da Saúde para ficar em casa, saindo apenas o estritamente necessário”, escreveu, na sua página do Facebook, a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Secundária da Portela.
Mas há também quem proteste pelo facto de as escolas não terem ordem de encerramento por parte do Governo. Cerca de 30 alunos da Escola Secundária Padre António Vieira, em Lisboa, manifestaram-se ontem à porta do estabelecimento de ensino, exigindo ao Governo que pense no facto de se estar a lidar com vidas humanas e muitas famílias.