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Um exercício de futurologia sobre as presidenciais

Marcelo ganhará à primeira volta, mas com fuga de votos do centro-direita, que gostariam de ver o Presidente mais longe do primeiro-ministro António Costa.

Um exercício de futurologia sobre as presidenciais

As eleições têm sempre consequências, por isso vou arriscar um prognóstico, não só porque gosto de correr riscos («a política sem risco é uma chatice…»), mas também porque creio que os leitores gostam de confirmar se os analistas conseguem analisar bem as eleições, candidatos e a realidade política…

A primeira nota que quero deixar é sobre mediatismo. Dos sete candidatos, os posicionados nos três primeiros lugares são Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes e André Ventura. Estes três são justamente os ‘candidatos mediáticos’, ou seja, candidatos feitos na tarimba das TVs, com espaços de comentário destacado (Marcelo anos a fio na TVI, Ana Gomes na SIC e André Ventura na CMTV). Esta é uma tendência que veio para ficar. As TVs ao darem tempo de antena a determinados políticos, estão obviamente a dar-lhes uma vantagem competitiva.

Esta campanha, determinada pela pandemia, foi praticamente reduzida aos debates na TV, e depois replicada nas redes sociais dos candidatos, muito pouca rua e poucos contactos pessoais.

Isto quer dizer que as campanhas políticas têm de se reinventar, não contam com comícios, jantares e arruadas, os partidos têm de preparar os seus candidatos para debates e para terem a capacidade de se posicionarem e marcarem a agenda. O público eleitor pareceu gostar e deu boas audiências aos candidatos.

A segunda nota é sobre renovação partidária. Cinco dos sete candidatos estão na casa dos quarenta anos, por oposição a Marcelo rebelo de Sousa e Ana Gomes. Estes dois veem de antes do 25 de Abril, e vão disputar as suas últimas eleições, todos os outros são do pós 25 de abril e têm muito tempo e eleições pela frente.

Marcelo Rebelo de Sousa ganhará à primeira volta, mas com fuga de votos do PSD e CDS por parte daqueles eleitores de centro-direita que gostariam de ver o Presidente mais longe do primeiro-ministro António Costa. André Ventura e Tiago Mayan Gonçalves serão os dois beneficiários desses votos. Aliás, acredito que estes dois candidatos terão mais votos do que as sondagens expressam.

O que nos leva à quarta nota: o robustecimento dos dois partidos a que pertencem esses candidatos, Chega e Iniciativa Liberal, levam a uma recomposição da Direita, pois estes dois partidos crescem às custas do PSD e do CDS.

A quinta nota é que também à esquerda vamos assistir a uma recomposição: a candidatura de Marisa Matias veio por a nu o mau momento que o BE vive depois de ter chumbado o orçamento e ter passado a ser oposição.

O PCP enviou o seu candidato João Ferreira para a rua, ao mesmo tempo que forrou o país com 450.000 euros de cartazes para tentar segurar o resultado que lhe permita ser o viabilizador de orçamentos de António Costa e acautelar as eleições autárquicas que são já daqui a 10 meses.

Ficará completamente demonstrado pelo resultado somado de Ana Gomes, Marisa Matias e João Ferreira que o PS deixou de ter oposição à sua esquerda.

Ou seja, se estas eleições parecem não ter muita história com Marcelo Rebelo de Sousa eleito à primeira volta, se olharmos com atenção, vemos que no dia 25 de janeiro vamos acordar com um novo cenário partidário: o futuro ciclo político.

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