EDP. Nova gestão com mesmo rumo

O novo plano estratégico será apresentado até maio, mas é previsível que a estratégia da elétrica se mantenha. Analista garante que nova liderança ‘deverá continuar a implementar o plano estratégico que já tinha sido desenvolvido pela anterior administração’.

EDP. Nova gestão com mesmo rumo

A nova liderança da EDP deverá manter inalterada a estratégia que tinha vindo a ser definida sob a anterior administração, de António Mexia. Apesar de o plano estratégico da empresa ser apresentado até março, ao que o Nascer do SOL apurou, a aposta nas energias renováveis continua a ser a palavra de ordem. 

Miguel Stilwell d’Andrade, novo presidente executivo da EDP e da EDP Renováveis, anunciou que vai apresentar um novo plano estratégico para a elétrica em breve. «Estamos a fazer uma reflexão estratégica, que já iniciámos nas últimas semanas, com vista a anunciar ao mercado um plano estratégico que vai materializar a nossa visão até 2025», disse numa conferência de imprensa que decorreu esta terça-feira.

O analista da XTB contactado pelo nosso jornal admite que «é expetável que a estratégia se mantenha muito semelhante, mesmo com a mudança de CEO da empresa». Para Henrique Tomé, não há dúvidas: «O novo gestor da empresa deverá continuar a implementar o plano estratégico que já tinha sido desenvolvido pela anterior administração e poderá dar ainda mais ênfase às energias renováveis, uma vez que as questões em torno das energias renováveis estão a ganhar cada vez mais destaque tanto no mercado nacional como no mercado global, nos últimos tempos, e também influenciadas pela questão da pandemia».

O responsável lembra que o novo CEO da empresa já manifestou a intenção de apresentar um novo plano estratégico, o que poderá acontecer até março, mas «pode-se esperar uma continuação de alguns pontos que a estratégia implementada pela anterior administração tem seguido, como a aposta nas energias renováveis, que poderão vir a ganhar mais destaque ao longo dos próximos anos, motivado pelo aumento da procura».

Em causa estão as metas traçadas na atualização da estratégia da elétrica até 2022, apresentadas em março de 2019, em Londres, pelo então CEO da EDP, António Mexia, as quais, como o novo líder relembrou, já foram praticamente cumpridas.

Na altura da venda, António Mexia anunciou a venda da concessão de seis barragens em Portugal, localizadas na bacia hidrográfica do rio Douro, totalizando 1689 megawatts (MW) de capacidade instalada, por 2,2 mil milhões de euros. 

A operação «permitia «antecipar em 74% as metas definidas no plano». Mas, na altura, o presidente da empresa esclareceu que não havia intenção de ir além dos objetivos anteriormente definidos. 
Ainda como interino, Miguel Stilwell d’Andrade anunciou o encerramento antecipado das centrais a carvão na Península Ibérica, a compra da espanhola Viesgo e o aumento do capital da elétrica em mil milhões.

Agora com funções oficializadas, garantiu que tanto no solar como no hidrogénio, a EDP está sempre disponível para analisar oportunidades de investimento. «Temos uma estratégia global para tudo o que seja transição energética, e obviamente que o solar e o hidrogénio fazem parte dessa iniciativa de descarbonização da economia». E não hesita: «Continuaremos a analisar oportunidades que possam surgir neste âmbito em Portugal, mas também noutras geografias».

De acordo com o responsável, o investimento que se prevê ao longo da próxima década, ou seja, na transição energética, «vai ser enorme» nas várias partes da cadeia de valor. «Na geração de eletricidade, vai ser muito focado nas renováveis. Vai haver um grande crescimento do solar, do eólico onshore e do eólico offshore. Todas as energias renováveis vão ter um enorme crescimento. A EDP está presente em todas. Somos muito fortes no onshore e temos vindo a crescer no solar. Mas também olhamos para o offshore. É uma área grande de crescimento da empresa e uma aposta da empresa», referiu. 

Stilwell destacou a meta de 7 GW de renováveis, atingida muito antes de 2022, a compra da Viesgo em Espanha, com portefólio de redes e também energias limpas, a venda de ativos em Espanha e nos EUA mais as seis barragens do Douro à Engie. «Com isto fechámos o plano estratégico que tínhamos até 2022. Olhando para o futuro, vamos continuar a investir muito em renováveis, em redes inteligentes, em inovação. Estes são os eixos que têm enquadrado a nossa liderança energética», disse o novo CEO.

CTG desinveste 

Estas mudanças na liderança da empresa ocorrem numa altura em que a China Three Gorges (CTG) tem anunciado a redução da sua participação na EDP. Henrique Tomé lembra que essa redução representa menos de 1% do capital social e dos direitos de voto da empresa. Ainda assim, a CTG continua a deter 19,03% de participações na elétrica.

A decisão não o surpreende. «Deve ter-se em consideração que a empresa chinesa, desde que tentou comprar a totalidade da elétrica nacional, tem vindo a reduzir a sua participação ao longo dos últimos anos», diz ao nosso jornal. E vai mais longe: «Estes recentes movimentos por parte da empresa chinesa poderão manifestar que pode ter desistido por completo da aquisição da elétrica nacional, podendo assim dar espaço para novos investidores no capital da empresa nacional».

Recorde-se que a China Three Gorges lançou uma oferta pública de aquisição à elétrica, em 2018, mas que acabou por ser chumbada, quase um ano depois, pelos seus acionistas. 
A operação previa a compra da totalidade do capital da elétrica, avaliando-a em 11,9 mil milhões, oferecendo 3,26 euros por ação – um valor considerado aquém pelos acionistas. 

Sindicato apela a valorização

A Fiequimental apela à nova administração para que valorize os trabalhadores. «Não podem querer uma empresa viável e produtora de riqueza esquecendo que a viabilidade e o sucesso estão diretamente ligados ao esforço dos trabalhadores», refere um documento a que o nosso jornal teve acesso.
E dá vários exemplos: «A justa e real valorização dos salários de todos os trabalhadores; tabela de ajudas de custo de valor único para todos (ajustada pelo valor mais alto); disponibilidade, descanso entre jornadas e prémio de chamada; atualização das tabelas de atos médicos, tanto nos valores como no tipo de atos incluídos; e melhorias nos sistemas de saúde do ACT», entre outras exigências.