Por favor, ajudem-nos todos!

Há mais de uma semana – ainda não tínhamos fechado o país na totalidade – ficou a ecoar em mim a voz da Ministra da Saúde no Parlamento português. As palavras eram de um pedido, mas o som que delas imanava dizem mais do que posso alguma vez imaginar. Sim, porque as palavras também têm som…

Marta Temido, diante dos deputados, faz um pedido que lhe vem da alma, quando confrontada pelas medidas e as falhas das medidas. O som daquelas palavras diz bem o que ela nos está a pedir, porque já trabalha para o bem comum, no meio do pior cenário que alguma vez algum governo pudesse pensar. Ela dizia, fortemente: «Por favor, ajudem-nos todos!».

Não posso, nem quero, ficar indiferente a este pedido, porque o senti realmente verdadeiro no som e na palavra. Nós temos mesmo de ajudar quem nos governa, a lidar com esta situação ou não sairemos de casa nos próximos meses. Conforme também iremos ter de ajudar o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro da Economia e das Finanças e todos os outros ministros a erguer o país nos próximos tempos.

A verdade é apensa uma: ou nos unimos para vencer esta pandemia e, no futuro, erguer a economia ou ficaremos sentados no sofá no próximo ano até apodrecermos de fome, porque não há governo, nem finanças, nem economia que estejam preparados para tamanha catástrofe.

É evidente que somos todos primos do Velho do Restelo: só sabemos dizer mal. Somos velhos desde que nascemos, porque nascemos já com a alma velha, rezingona e refilona.

É, para mim, evidente que muitas coisas poderiam ter sido feitas e não foram. É evidente que estamos a abrir camas nos hospitais que já deviam estar abertas. É evidente que as escolas deveriam estar preparadas a qualquer momento para voltar ao ensino online.

Tudo é evidente! Somos uns moralistas! Sabemos tudo! Sabemos falar sobre tudo e sobre todos! Sabemos olhar para tudo e para todos! Nós com a língua até conseguimos governar o país. O problema é que muitas vezes temos solução para tudo, mas não conseguimos ter solução para a nossa vida. Há pessoas que eram capazes de governar o país, mas não conseguem governar a sua própria vida.

Gostava sempre de ouvir as explicações de merceeiro que cada um dava sobre a América e o Brasil. Quando se ouviam os números de infetados e de mortos do Estados Unidos da América ficava tudo impressionado e seguia o refrão: a culpa é do Trump! Quando se ouviam os números do Brasil o refrão também era parecido: a culpa é do Bolsonaro!

Então e agora de quem é a culpa para Portugal estar nesta situação?

A culpa, provavelmente, não é nem de Trump, nem de Bolsonaro, nem de Costa, porque os grandes culpados nós sabemos quem são: nós!

Sim, nós!

Digam-me uma coisa: o primeiro-ministro não tem a culpa de tudo isto por nos ter deixado passar o Natal em família? Não é preciso responder, porque António Costa já confessou que sim!

Digam-me outra coisa: não vos soube bem? Não gostaram de comer e beber livremente com as famílias do Norte e do Centro e do Sul? Porque é que não renunciaram a essa liberdade para o bem de todos?

Os culpados somos nós, sim! Porque mesmo estando confinados, com medidas altíssimas, ainda continuamos a sair como se nada fosse. Pois é, em Lisboa ainda continuo a ver pessoas a passearem e a tirarem fotografias. De quem é a culpa? Eu sei o que estão todos a pensar: dos polícias que não multam!!!

Se continuarmos a pensar que o é preciso é que não sejamos apanhados – como pensam os adolescentes –, seguramente não teremos país no próximo ano. Respondendo ao pedido da ministra da Saúde, devemos continuar a pensar no que ela nos disse: «Por favor, ajudem-nos todos!».