Controlo de fronteiras dos EUA desafia Biden

O Presidente quis parar as deportações, mas foi ignorado pelo ICE, após um juiz texano, nomeado por Trump, bloquear as novas medidas.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, tenta desfazer as duras medidas contra a imigração do seu antecessor, Donald Trump, mas bateu de frente com o próprio Serviço de Controlo de Imigrantes e Fronteiras (ICE, em inglês). Esta agência federal – acossada por acusações de abusos contra imigrantes, cuja mera existência é desafiada por cada vez mais ativistas – ignorou uma moratória de 100 dias do Presidente que pretendia impedir deportações, exceto em casos de criminosos considerados perigosos ou indocumentados detidos na fronteira a partir de novembro.

Mal um juiz do Texas, um dos muitos nomeados por Trump, rejeitou a moratória de Biden, o ICE começou a deportar em massa, expulsando centenas de pessoas do país, avançou a Associated Press. O caso “marca o primeiro tiro numa ação de retaguarda jurídica de lealistas de Trump, dedicados a minar a agenda da administração Biden”, escreveu o correspondente do Guardian em Washington.

Não espanta que o ICE seja a ponta-de-lança desses esforços. Afinal, o National ICE Council, o sindicato que representa os trabalhadores da agência, apoiou abertamente as candidaturas de Donald Trump tanto em 2016 como em 2020 – aliás, tratou-se da primeira vez que a organização apoiou qualquer candidato presidencial. 

Entre as deportações mais polémicas está a de uma sobrevivente do massacre de El Paso, Rosa, cujo apelido não é conhecido para a proteger das ameaças que sofreu em Ciudad Juarez. Rosa assistiu ao assassinato de 23 pessoas num Walmart, em 2019, abatidas por um atirador que queria expulsar imigrantes do país, receoso de uma “invasão hispânica”.

Rosa concordara em testemunhar contra o atirador em tribunal, tendo-se até reunido com o procurador distrital. Muito provavelmente, não terá hipótese de o fazer – na quarta-feira passada foi parada numa operação stop devido a um farol fundido, detida por multas de trânsito de 2015 e imediatamente posta nas mãos do ICE, denunciou o seu advogado ao canal KTSM 9.

“Rosa ainda vive com o trauma do que viu no dia do tiroteio do Walmart de El Paso”, lia-se no Twitter dos serviços diocesanos locais, que exigem o regresso da paroquiana do seu violento país natal, segundo a NBC. 

 

Famílias separadas Contudo, a moratória não era a única aposta de Biden para desmontar a política de “tolerância zero” a imigrantes de Trump. A nova administração está a formar uma equipa para juntar as famílias de imigrantes separadas na fronteira dos EUA – as imagens de crianças enjauladas e mães desesperadas chocaram o mundo nos últimos anos. 

Além disso, a administração Biden solicitou ao Supremo Tribunal que retire da agenda o financiamento do muro e do programa conhecido como “Fiquem no México”. Este obriga os requerentes de asilo a aguardar resposta no país vizinho – umas 68 700 pessoas foram afetadas pelo programa, boa parte delas deixadas a viver em condições degradantes junto da fronteira, sujeitas ao perigo do crime organizado mexicano.

O pedido de cancelamento deste programa foi feito depois de o Presidente assinar uma ordem executiva para suspender a construção de um muro na fronteira sul do país, símbolo máximo da administração Trump.