‘Aquilo que devemos promover é a boa utilização da máscara’

A procura por máscaras FFP2 cresceu 98% em Braga, 95% no Porto e 87% em Lisboa. Para o médico Rui Nogueira, estas só devem ser utilizadas em caso de inexistência de distanciamento social.

As medidas tomadas relativamente aos equipamentos de proteção individual em países como a Alemanha, a França ou a Áustria influenciaram os portugueses. Assim, na segunda quinzena de janeiro, a procura pelas máscaras FFP2 aumentou 90%.

O OLX levou a cabo um estudo, baseado em dados disponíveis na plataforma, através do qual analisou a evolução da procura e oferta por máscaras de proteção individual. As conclusões apresentadas dizem respeito à última quinzena do mês de janeiro deste ano e comparam-na com os primeiros 15 dias do mesmo mês.

Deste modo, conclui-se que a procura cresceu em 90% naquilo que concerne às máscaras FFP2, habitualmente designadas “bico-de-pato”, e em 63% relativamente às cirúrgicas.

Em termos específicos, Braga (+98%), Porto (+95%) e Lisboa (+87%) foram os distritos em que mais respostas se registaram a este tipo de anúncios das máscaras FFP2 neste período.

Estes dados não são de estranhar pois, atualmente, as regiões do Norte e de Lisboa são aquelas que registam um maior total acumulado de casos confirmados de covid-19, sendo de 313 161 e 276 464 casos, respetivamente.

Oferta desceu
Apesar da subida significativa da procura, a oferta deste tipo de artigo não correspondeu na mesma medida. No caso das máscaras em geral, Braga registou um aumento de 8%, o Porto de 4% e Lisboa verificou mesmo uma quebra de 1%. No caso específico das FFP2, Braga teve um aumento de 58%, Porto de 42% e Lisboa de 29% entre a primeira e a segunda quinzenas de janeiro.

Por outro lado, nos últimos 15 dias de janeiro, a procura por máscaras em geral cresceu 51% face à primeira quinzena. Em relação às regiões que mais se destacaram foram, mais uma vez, Braga (+90%), Lisboa (+72%) e Porto (+71%).

“São um adorno como um lenço ou um cachecol”
Na ótica de Rui Nogueira, médico de família e antigo presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, “as pessoas que já tinham cuidado são aquelas que continuam a tê-lo”, sendo “o mais preocupante o facto de existirem pessoas que usam máscaras comunitárias domésticas”.

“As pessoas podem usar máscaras reutilizáveis mas certificadas, porque têm uma exigência que é um pequenino filete de metal para adaptar ao nariz. Este não só ajusta como prende”, diz, opondo-se às “máscaras feitas em casa que, não tendo essa tira, dificilmente se prendem”.

Por outro lado, o profissional de saúde considera as “máscaras de pano reutilizáveis muito úteis para quem não tem tantas posses financeiras”, assumindo que “não devem ser descartadas, têm é de ser usadas tapando o nariz e a boca”.

Independentemente da utilização das máscaras cirúrgicas, comunitárias ou FFP2, Nogueira alertou que “têm de ser mudadas com frequência, não duram mais do que três ou quatro horas”, realçando que “uma pessoa que sai de manhã de casa e entra à noite tem de usar três”. “São um adorno como um lenço ou um cachecol. Só que esses acessórios duram o dia todo, e a máscara não”, comparou.

Para o médico, a utilização das máscaras FFP2 – que contêm um respirador com uma capacidade de filtração de partículas igual ou superior a 95% – não se justifica em todas as situações, mas sim “quando, por alguma razão esporádica, pela proximidade que temos de ter em determinadas circunstâncias, seja mais prudente usar uma máscara com maior poder de filtração”.

“Estas máscaras não têm indicação para serem usadas na comunidade em situações em que é possível manter o distanciamento social. Se num supermercado ou num transporte público existirem muitas pessoas aglomeradas, é prudente, se o distanciamento de dois metros durante menos de 15 minutos não estiver garantido”, continuou, salientando que “ainda assim, é necessário trocá-las no mesmo intervalo de horas e sempre que estiverem húmidas”. E explica que faz este aviso porque “há pessoas que sobreutilizam todo o tipo de máscaras, muitas das vezes por falta de dinheiro”.

“Aquilo que devemos promover é a boa utilização da máscara, não quer dizer que seja uma FFP2, até porque não podemos exigir isso pois o preço é elevado, acabaria por ser incomportável para a maioria das famílias”, esclareceu, adiantando que, ainda assim, “elas têm a vantagem de não entrarem em contacto com a boca de quem as usa e de serem mais herméticas, ajustando-se bem à face, e é um bom sinal que a sua procura aumente, pois isso significa que as pessoas são cada vez mais cuidadosas”.