Coimbra tem uma das mais antigas Universidades do Mundo, a Biblioteca Joanina, a Sé Velha, o Mosteiro de Santa Clara, o Museu Machado de Castro, o Jardim Botânico, o Choupal, o Penedo da Saudade… mas já não tem o glamour que teve até ao século passado.
No país, foi perdendo a exclusividade de cidade dos estudantes de capa e batina pelos fenómenos de imitação e cópia barata que começaram por ser patéticos em Lisboa, no Porto, em Braga, na Covilhã, em Évora ou Faro, por aí fora, e acabaram aceites e banais, roubando àquela Coimbra parte do seu encanto único.
No Mundo, a Universidade cresceu, é um facto, mas perdeu Escola e influência com seus feudos, ultrapassada pelos novos conceitos e pelas business schools da moda, a que Coimbra também aderiu mas é só mais uma.
Por muito que custe às elites que ainda lhe sobejam, Coimbra já não é o que era. E se o foi. Sobretudo no Direito e na Medicina, ou nas Leis e nas Ciências.
E não que não lhe restem pergaminhos, que ainda os tem.
Mas os resultados do inquérito aos estudantes feito pela Associação Académica em plena pandemia – nos últimos dias do mês de janeiro – é a prova de todo um gigantesco desencanto com a cidade do conhecimento. E uma lição, que merece estudo mais aprofundado e reflexão. Em Coimbra, e na sua Universidade, e no país.
Pode lá conceber-se que mesmo neste annus horribilis nove em cada dez jovens universitários se confessem emocionalmente fragilizados?
Ou que três em cada quatro estudantes a frequentar a faculdade tenham pensado em desistir do curso?
Ou que um em cada cinco tenham tido pensamentos suicidas?
Não será certamente por causa da falta da Latada ou da Queima das Fitas, da Serenata Monumental (que em 2020 teve uma versão reduzida mas ainda assim de uma beleza incomum) ou dos Efe-Erre-Às que ficam por gritar.
Coimbra pode não ter perdido toda a cagança, mas tem cada vez menos pujança e, pelos vistos, já não tem de todo o espírito académico que a fazia diferente.
Mais grave é se este inquérito levado a cabo pela Associação Académica e que incluiu cerca de 1500 estudantes das oito faculdades daquela Universidade é também um retrato do que se passa em todo o país, nas outras cidades universitárias, e se a nossa juventude mais qualificada, afinal, está mesmo tão fragilizada e doente.
Filhos de uma geração que passou a infância e adolescência na rua, os tecnodependentes, que não saem dos quartos agarrados aos computadores, ipads e smartphones, pelos vistos deprimem quando obrigados a um confinamento que se prolonga no tempo.
A irreverência da juventude e em particular a dos estudantes universitários faz parte da História (e Coimbra tem essa tradição) e não tem nada a ver com este cenário depressivo e deprimente.
Já era uma evidência que o confinamento obrigatório aceite como cura para a covid-19 tem efeitos secundários gravíssimos, quer económicos, quer sociais, quer na saúde mental dos confinados, independentemente da idade.
Mas que provocasse perturbações nos jovens estudantes ao ponto que nos revela este estudo da Associação Académica de Coimbra é surpreendente.
Pela negativa.
Não se pode ignorar nem menosprezar.
Até porque a realidade dos alunos mais novos, dos ensinos secundário e básico, também não será muito diferente, como muitos especialistas já publicamente afirmaram.
É, pois, dramático.
Se já temos um país e um continente demasiado envelhecidos, com cada vez menos jovens e menos crianças, era só o que nos faltava que esta nossa juventude estivesse cada vez mais deprimida ou doente.
E, pelos vistos, está.
Ora, não pode ser.
Não podemos nada dizer nem nada fazer quando os jovens estudantes confessam o seu desânimo e admitem que até já pensaram em desistir dos seus cursos ou das suas vidas.
Não pode ser.
A Coimbra com mais encanto é a que não se conforma, a que não baixa os braços, a que resiste e que canta.
Como continuar sem fazer nada?