PRR. Empresas questionam falta de visão estratégica do plano

Confederações patronais saíram insatisfeitas da reunião com o Governo sobre o Plano de Recuperação e Resiliência.

Para o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), não há dúvidas: o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) revela “um desequilíbrio claro entre o setor público e o privado”. E João Vieira Lopes pede maior investimento nas empresas. Ainda assim, admite que está a recolher a opinião das associações. “Devia haver maior investimento no tecido empresarial, por um lado, para evitar encerramentos maciços e desemprego e, por outro, para o relançamento da economia”, defendeu. 

De acordo com o responsável, há “um desequilíbrio muito grande entre setores”, acrescentando que “o único eixo setorial que existe com alguma sistematização é a reindustrialização e a descarbonização da indústria, e setores como o comércio e serviços, como até o turismo, são praticamente omissos”. “A palavra comércio aparece uma única vez em 143 páginas”, lembrou, afirmando que tal “é absurdo, tendo em conta que o comércio e serviços no seu conjunto representam mais de dois terços do emprego e do PIB [produto interno bruto]”.

A opinião é partilhada pela CIP, que defende que é preciso ter uma “visão integrada” do PRR, do quadro financeiro plurianual e do remanescente do PT2020. “É no conjunto destes três programas que a economia portuguesa tem de ser repensada“, afirmou António Saraiva. Tal como para João Vieira Lopes, para o presidente da CIP, a aposta do PRR no investimento público “compara mal” com a fatia dedicada às empresas privadas. “São 27% que serão diretamente canalizados para as empresas, se não considerarmos o eixo das competências e qualificações. Se o considerarmos, serão 35%, o que compara mal com os 65% da parte pública”, sublinhou Saraiva.

Recorde-se que o ministro do Planeamento, Nelson de Souza, admitiu que vai incluir alguns contributos dos parceiros sociais na versão final do PRR. Já esta segunda-feira, o primeiro-ministro apontou como desafio do Plano de Recuperação e Resiliência identificar projetos exequíveis até 2026 com impacto imediato na recuperação económica e no emprego e potencial de reforma estrutural.

António Costa referiu que o plano do Governo, que se encontra em consulta pública, tem “uma forte concentração temática”, pretendendo-se “acelerar a transição digital e a transição climática” e aumentar “a resiliência” sobretudo em três domínios: “Enfrentar as principais vulnerabilidades sociais, aumentar o nosso potencial produtivo e reforçar a nossa coesão territorial”.

Além disso, especificou os objetivos do Governo: “Responder aos desafios imediatos da reanimação económica e da criação de emprego resolvendo, simultaneamente, problemas estruturais que se arrastam há anos no país. Por exemplo, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), reforçar mesmo o SNS de proximidade, cuidados continuados, cuidados paliativos, saúde mental, meios de diagnóstico nos cuidados de saúde primários”.