“Não sou culpada”, diz enfermeira acusada de desmembrar amigo no Algarve

Mariana Fonseca, de 24 anos, quis prestar declarações em tribubal sem a presença de Maria Davidachwili, alegando que “não se sente à vontade”. A enfermeira pediu “perdão por todos os atos” e diz que foi “movida pela emoção”.

Maria Davidachwili e Mariana Fonseca começaram esta quarta-feira a ser julgadas, no Tribunal de Portimão. A segurança e a enfermeira são acusadas de matar e desmembrar Diogo Gonçalves, um jovem de 21 anos, com o objetivo de ficarem com uma indemnização que o jovem recebera. 

Mariana Fonseca, de 24 anos, quis prestar declarações sem a presença de Maria Davidachwili, alegando que "não se sente à vontade". A antiga enfermeira do Hospital de Lagos pediu "perdão por todos os atos" e diz que foi "movida pela emoção". "Quero pedir perdão por todos os atos. Se pudesse voltar atrás, teria feito muitas coisas diferentes. Não estava a pensar com razão. Fui movida pela emoção. Não sou culpada da morte", afirmou, em tribunal.

Mariana revelou ainda que não tinha conhecimento dos 70 mil euros que Diogo recebera de indemnização pela morte da mãe e negou que ela e a ex-namorada, Maria, tivessem traçado um plano para assassinar o jovem. "Não havia plano", sublinhou.

Ao tribunal, explicou ainda que Maria disse que queria ir a casa de Diogo colocar umas colunas no carro e quando lá chegaram esta lhe pediu que permanecesse no carro, voltando três horas depois. "Acenou-me para sair. Pareceu-me que estava aflita e disse que precisava da minha ajuda. Entrei na moradia. Disse-me para esperar e, quando entrei, ele estava inconsciente no chão. Estava em cima de uma cadeira partida, amarrado", afirmou.

"Vi se tinha pulso e comecei a fazer compressões e fiz reanimação", continuou. Segundo relatou, Diogo recuperou os sentidos e empurrou-a. "A Maria disse-me para sair da sala. Só ouvi sons de uma luta entre eles os dois", afirmou. Perante o pedido da então namorada, Mariana permaceu no quarto "assustada" e "sem reação", e só saiu "quando os sons terminaram". "Ela veio ter comigo e perguntou-me se estava bem. Estava assustada e fui em direção da sala. Ele estava a ficar pálido, cheio de marcas no pescoço", relatou.

Quando confirmaram que Diogo estava morto, Maria perguntou a Mariana se esta ainda a amava e se a podia ajudar. Colocou o corpo de Diogo num cobertor e limpou a sala. Depois, terá tentado desbloquear o telemóvel da vítima, mas devido ao insucesso, cortou-lhe dois dedos e guardou-os num envelope. 

Mariana revelou ainda que, na noite após o crime, enquanto dormiam, Maria lhe terá apertado o pescoço. "Disse que teve um pesadelo, mas eu acho que me queria matar", contou ao tribunal. "Perguntei: 'O que é isto? E pensei: 'Sei demais. Olha, vou morrer".

A jovem afirma que só teve conhecimento nessa noite da indemnização que o jovem recebera e que Maria usava os dedos que havia guardado no envelope para aceder ao telemóvel da vítima e fazer transferências por MB Way para as suas contas. "Disse-lhe que não queria dinheiro na minha conta", afirmou.

Sobre o corpo da vítima, Mariana diz que "não estava presente" no momento do desmembramento, mas que "de certa forma" sabia o que estava a acontecer. "Sabia, de certa forma, mas achei que ela não era capaz. Disse-me que tinha de escondê-lo [o corpo]". 

"Sabia que o corpo estava no carro, não sabia em que carro estava. A Maria disse que se queria livrar do carro, queria livrar-se do corpo", conta. Mariana confirma que estava presente quando a namorada abandonou as partes do corpo em várias localidades, porque "ela estava muito sonolenta" por ter "fumado muitos charros". A jovem, que seguia num carro separado, diz que saiu do veículo e ficou a observar. "Saí do carro e fiquei a olhar para ela. Sabia que ela tinha partes do corpo do Diogo. Só queria que isto acabasse. Não estava em mim. Só a acompanhei. Só a segui".

Recorde-se que as jovens foram acusadas pelo Ministério Público dos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver, de dois crimes de acessos ilegítimos, um crime de burla informática, roubo simples e uso de veículo. Em março de 2020, mataram e desmembraram Diogo Gonçalves, colocaram as partes do corpo em sacos do lixo e transportaram-nas para Sagres e Tavira, antes de abandonar o veículo da vítima no cabo de São Vicente. 

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