Assim, Portugal está condenado à pobreza

Como é que cidadãos naturais de um país que não consegue equilibrar o orçamento, que não produz o suficiente para as pessoas terem ordenados decentes, que vive há 25 anos dos dinheiros da Europa, têm o desplante de dizer que têm ‘vergonha’ do passado?

Na semana passada, escrevi que não devíamos envergonhar-nos do passado – devemos antes preocupar-nos com o presente.

Como é que cidadãos naturais de um país que não consegue equilibrar o orçamento, que não produz o suficiente para as pessoas terem ordenados decentes, que vive há 25 anos dos dinheiros da Europa, têm o desplante de dizer que têm ‘vergonha’ do passado?

Parece uma anedota.

Ainda por cima, esses grupos de pessoas que se dizem ‘envergonhadas’ do nosso passado são, muitas vezes, quem nos impede hoje de andar para a frente.

Porquê?

Porque têm uma visão errada do desenvolvimento.

Em vez de quererem premiar os que trabalham, os que têm iniciativa, os que criam emprego, preferem premiar os que não trabalham.

Podem fazê-lo com a melhor das intenções.

Podem defendê-lo por razões humanitárias.

Não ponho isso em causa.

O problema é que as políticas que privilegiam o que não é produtivo levam os países cada vez mais para o fundo.

Esses grupos de pessoas exigem o reforço do SNS, um maior investimento na escola pública, transportes tendencialmente gratuitos, a nacionalização de empresas ‘estratégicas’ (como a da TAP), o aumento dos funcionários públicos, o alargamento do subsídio de desemprego, o crescimento do rendimento mínimo garantido, a redução do horário de trabalho nas empresas privadas, agora os subsídios para todos os que têm de ficar em casa por causa da pandemia, etc.

Onde iremos parar com tudo isto?

Fazer aumentos de salários que não correspondam a um aumento da produtividade; investir em projetos que não tenham retorno; reduzir horários de trabalho; proporcionar serviços grátis; nacionalizar empresas improdutivas; pagar a muita gente que não trabalha – é o caminho seguro para o empobrecimento e a bancarrota.

Conheço pessoas que, tendo um emprego, preferiram ir para o desemprego – porque continuavam a ganhar sem trabalhar, sem gastar dinheiro em transportes e refeições, e até podendo fazer um ‘biscate’ e ganhar alguma coisita por fora…

Conheço pessoas que recebem propostas de trabalho mas preferem continuar no desemprego, pelas mesmas razões.

Conheço pessoas que recebem o rendimento mínimo e não procuram trabalho porque não pretendem mais.

A realidade mostra que pagar a quem não trabalha é um perigo.

E o Estado sai duplamente prejudicado: porque paga os subsídios e não recebe os impostos que essas pessoas pagariam se estivessem a trabalhar.

Já se pensou quantos portugueses – entre desempregados, gente com rendimento mínimo garantido, reformados, trabalhadores em regime de lay-off, funcionários com baixa médica, etc. – haverá em Portugal que estão a receber subvenções do Estado sem trabalhar?

E há ainda a situação dos presos.

Muitas destas pessoas – mesmo os reformados, em certas situações – poderiam fazer qualquer coisa de útil para a comunidade.

Receber sem trabalhar é muito pouco saudável.

Cria vícios e convida à inação.

Dir-se-á: mas os ordenados são tão baixos que não compensa trabalhar.

Ora, com essa mentalidade, entramos num círculo vicioso.

Quanto menos gente trabalhar, menos o país produz; e quanto menos o país produzir, mais baixos serão os ordenados; e quanto mais baixos forem os ordenados, menos incentivo haverá para trabalhar.

Acreditem: por este caminho, não sairemos da cepa torta.

Com esta mentalidade dos subsídios, do SNS universal e gratuito, da escola pública universal e gratuita, das nacionalizações de empresas falidas, etc., é impossível crescermos.

Este modelo pode ser muito bonito, muito humano, mas não conduz ao aumento da riqueza – conduz à perpetuação da pobreza.

De uma forma geral, não trabalhar e receber, ou utilizar um serviço e não o pagar, são maus princípios.

E colocam sobre o Estado um peso tal que se torna um travão ao desenvolvimento.

O nosso problema não é de governo – é de modelo.

O país tem de se libertar da dependência do Estado.

Tem de ser capaz de viver por si.

O Estado deve vir no fim, como árbitro e regulador, não deve vir no início, como empregador, como fonte do rendimento da maioria das famílias, como investidor, como prestador de serviços gratuitos.

Na última semana escrevi que precisamos de um assomo de orgulho nacional; hoje acrescento: e precisamos de um ‘choque liberal’.

Este sistema ‘assistencialista’ que temos não nos leva a parte nenhuma.

Já fomos ultrapassados por quase todos os países de Leste.

Por este caminho, vamos parar ao último lugar da Europa.