Epidemia com trajetória crescente e Algarve na linha de alerta

Reunião do Infarmed agendada para terça-feira com país de novo com tendência para subida de contágios.

O Governo avalia esta semana a passagem à terceira etapa de desconfinamento, com a reunião do Infarmed prevista para terça-feira e algumas luzes de alerta a acenderem-se. O relatório de monitorização das “linhas vermelhas” adoptadas pelo Governo para avaliar o desconfinamento, publicado no fim de semana pela Direção Geral da Saúde, reforça alguns dados que já tinham sido publicados na sexta-feira pelo Instituto Ricardo Jorge no seu ponto de situação semanal sobre a situação epidemiológica. A epidemia volta a registar uma tendência de crescimento a nível nacional, ligeiro, e o último cálculo do RT feito pelo INSA aponta para um valor de 1,02 a nível nacional, mantendo-se a tendência de subida de transmissão que se verifica desde 10 de fevereiro, portanto agora há um mês.

Note-se no entanto que este valor de RT diz ainda respeito ao que os investigadores calcula que tenha sido o ritmo de contágios na semana da Páscoa e não reflete assim a situação epidemiológica na semana passada quando começou a segunda etapa do desconfinamento, reabriram esplanadadas e voltaram às escolas os alunos do 2o e 3o ciclo. Apenas no Alentejo se verifica um RT abaixo de 1, com uma ligeira diminuição, sendo que a região do Algarve é a única em que além de um RT superior a 1 (mas a desacelerar) e a incidência cumulativa a 14 dias por 100 mil habitantes atingiu na semana passada outro dos valores definidos como linha que pode travar o desconfinamento: 120 casos por 100 mil habitantes. A média nacional ronda os 66.

A indicação do primeiro-ministro antes do avanço da segunda etapa do desconfinamento foi de que as medidas seriam por concelho, tendo sido na altura sinalizados 19 concelhos em que, se a situação não melhorasse, poderia haver um travão. António Costa anunciou também que também os concelhos limítrofes poderiam ter medidas. Mas agora com uma região na zona laranja da matriz de risco, coloca-se em equação uma decisão a nível regional, além das medidas nos concelhos com maior contágio. Esta segunda-feira, como habitualmente, a DGS vai publicar o ponto de situação por município, mas ainda dados referentes à semana passada, quando o Governo deverá usar dados desta semana na avaliação em concelho se ministros.

Concelhos mais pequenos passam mais depressa a linha vermelha Os concelhos com menos população precisam de menos novos casos para passar a linha vermelha. A questão foi levantada na semana passada pelo autarca de Ribeira de Pena, um dos 19 concelhos sinalizados onde bastam 7 casos em 14 dias para se ficar acima dos 120 casos por 100 mil habitantes. O Nascer do SOL tentou perceber junto do Ministério da Saúde se irá ser ainda utilizada a proposta ser utilizada uma incidência municipal corrigida pelos concelhos limítrofes, que permitiria suavizar este aspecto, algo que a tutela tinha indicado que seria feito na semana anterior ao anúncio da segunda etapa do desconfinamento. O Ministério da Saúde respondeu que a “decisão de uma eventual paragem ou de um recuo do plano de desconfinamento deve atender a uma análise de risco local, considerando o concelho em causa e respetivos concelhos limítrofes, após uma dupla avaliação consecutiva”, não clarificando assim como estão a ser ponderadas estas diferenças entre concelhos maiores e mais pequenos. O i procurou também perceber se no caso de concelhos maiores, onde são precisos serem diagnosticados mais novos para se passar a barreira dos 120 casos por 100 mil habitantes, também serão tidos em conta dois períodos de avaliação (15 dias mais 15 dias) para adopção de medidas, não tendo tido resposta. Para Lisboa, o maior concelho do país, passar o patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes tem de registar 620 novos casos num período de 14 dias. No período que levou à primeira sinalização de 19 concelhos, registou 85 casos por 100 mil habitantes, o que corresponde a cerca de 430 casos neste período. Nesta última avaliação, no top 10 dos concelhos com mais casos em termos absolutos, só em sétimo lugar surge o primeiro concelho com mais de 120 casos por 100 mil habitantes, Portimão.

vacina menos eficaz contra variante sul-africana O acompanhamento da diversidade genómica do SARS-CoV-2 em Portugal já tinha mostrado que, além da variante inglesa representar agora mais de 80% dos casos, há indícios de que a variante sul-africana, que representou 2,5% dos casos em março, pode já estar a ter transmissão comunitária. Será um dos temas debatidos na reunião do Infarmed, que ao que o i apurou irá também abordar questões como a operacionalização da estratégia de testagem, que está a ser elaborada pela task-force dirigida pelo presidente do INSA, e ponto de situação sobre a vacinação depois da suspensação da vacina da AstraZeneca a menores de 60 anos na semana passada. Sobre a eficácia das vacinas contra variantes houve novos dados este fim de semana: um estudo feito em Israel, um dos países até à data com maior cobertura vacinal, sugere que a vacina da Pfizer parece ser menos eficaz contra a variante sul-africana. A diferença é significativa: o estudo analisou o genoma do vírus de 400 pessoas que testaram positivo à covid-19 14 ou mais dias após terem feito uma ou duas doses da vacina, comparando-as com 400 infetados “controlo” que ainda não tinham feito a vacina. E se no grupo de pessoas que apanhou a infeção sem ter feito a variante representou 0,7% dos casos, entre os vacinados a prevalência de infeções com esta variante foi oito vezes superior (5,4%). Apesar da amostra pequena, a equipa da Universidade de Tel Aviv acredita que o estudo sugere, com dados reais, que a proteção conferida pela imunização é inferior contra esta variante.