PRR. “É preciso fazer mais, muito mais”, alerta associação empresarial

Críticas juntam-se às dos economistas que têm vindo a apontar o dedo às decisões do Governo. Plano será entregue esta semana em Bruxelas.

“É preciso fazer mais, muito mais, em benefício das empresas. Só assim é possível recuperar uma trajetória favorável em termos económicos e sociais”. Esta é a reação da Associação Empresarial de Portugal (AEP) ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que será entregue esta semana em Bruxelas, mas que já foi apresentado na sexta-feira e, está desde aí, nas mãos de Marcelo Rebelo de Sousa.

Em causa está uma verba de 7700 milhões de euros de apoios dedicados às empresas, em que a maior ‘fatia’ dos apoios diretos vai para a capitalização, que receberá 1550 milhões de euros, seguida da inovação, com direito a 1364 milhões. Mas abaixo dos mil milhões de euros de apoios estarão a descarbonização, que contará com 715 milhões de euros, a transição digital (650 milhões), a qualificação de recursos humanos (630 milhões) e a bioeconomia (145 milhões).

“A AEP, tal como o Governo, também defende um crescimento económico assente, fundamentalmente, no investimento e nas exportações, mas alerta para os sérios riscos diretamente ligados à implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que é a grande aposta na retoma da atividade, determinante para a sustentabilidade das contas públicas”, diz a associação liderada por Luís Miguel Ribeiro, em comunicado.

Em matéria de execução do investimento público, a AEP reafirma “a necessidade de se privilegiar o envolvimento de empresas nacionais ou instaladas em território nacional, contribuindo para a sua sobrevivência e para a criação de riqueza e a manutenção de emprego”.

Quanto às contas públicas elogia “a intenção de uma trajetória sustentável a médio prazo”, mas considera que, “a curto prazo, deveria haver uma aposta mais vincada no apoio às empresas, muitas em elevado risco de encerramento (outras já a encerrar), o que coloca limitações sérias em termos de retoma”.

Estas críticas não são novas. Ao Nascer do SOL vários economistas já tinham apontado o dedo ao Governo em relação às decisões do Executivo. Para João César das Neves, este plano “é para fazer brilhar ministros, não para criar dinâmica económica”. E vai mais longe: “Talvez a cereja em cima do bolo seja o facto de, em vez de apoiar o financiamento das empresas e a situação delicada dos bancos, o Estado preferir usar o plano para criar mais uma instituição nova, que ele controla, para ainda envolver mais a política na finança”.

Também para António Bagão Félix “trata-se mais de um plano do Estado e para o Estado, do que de um documento para potenciar rapidamente as energias de uma economia de mercado, assente na iniciativa privada”, chamando a atenção para o facto de a economia portuguesa ser composta maioritariamente por microempresas em setores tradicionais, com menor capacidade para assumirem os investimentos em tecnologia e em recursos humanos com o perfil necessário à sua penetração no mercado de vendas em linha.

Já Eugénio Rosa mostra-se mais preocupado com as empresas que serão beneficiadas com os projetos previstos no plano do que com o montante: “As mais beneficiadas não serão certamente as micro, pequenas e médias empresas que representam mais de 97% do tecido empresarial em Portugal”. Para o economista é necessário “inverter o movimento de desindustrialização do país que se verificou nas ultimas décadas e promover uma industria forte e baseada no conhecimento, visando também combater as vulnerabilidades do país e reduzir a elevada dependência externa”.