Autoridades indianas podem estar a esconder número de mortos

Fornecer dados errados sobre a pandemia pode trazer consequências na distribuição de recursos e na criação de estratégias de vacinação.

O cenário de pesadelo continua na Índia com o país a bater mais uma vez o recorde diário de mortes por covid-19: 3689 óbitos provocados pela pandemia, entre sábado e domingo.

Este é o quarto dia consecutivo em que o país regista mais de 3 mil mortes, numa altura que a segunda vaga da pandemia está a arrasar o sistema de saúde indiano, sobrelotado e com falta de oxigénio. A somar a este elevado número de mortes e infeções, a comunidade internacional está preocupada com o facto de as autoridades indianas estarem a branquear a situação, depois do ministro da saúde, Harsh Vardhan, ter “insistido” que a taxa de mortalidade neste país ser uma das “mais baixas do mundo”, cita o Guardian.

No último mês, os crematórios na cidade de Bangalore reportaram o dobro do número de mortes devido à covid-19 quando comparado com os relatórios divulgados pelo governo. Segundo o jornal inglês, providenciar informações erradas sobre a pandemia irá trazer implicações negativas para a Índia, não só porque irá ilustrar um quadro irrealista sobre como a pandemia afetou o país, mas também porque irá afetar a distribuição dos recursos pelas autoridades locais e vai complicar a criação de uma estratégia de vacinação. “Se não tivermos os dados para perceber totalmente o que está a acontecer agora com a pandemia, como é que a Índia se pode preparar para o futuro?”, disse Murad Banaji, matemático responsável por investigar o estado da pandemia na Índia, ao Guardian.

Bloqueio para controlar pandemia Numa entrevista à imprensa indiana, Anthony Fauci, principal epidemiologista norte-americano, revelou que a Índia deverá impor um confinamento de várias semanas para conter a pandemia. O Governo de Narendra Modi tem hesitado em voltar a confinar o país depois do confinamento posto em prática no ano passado que provocou sérias mossas na economia do país. No entanto, o epidemiologista americano referiu que não é necessário fechar o país novamente durante seis meses. “Ninguém gosta de ver um país confinado (…), mas se se fizer isso por apenas algumas semanas pode ter um impacto significativo na dinâmica da epidemia”, acrescentou.

Ajuda internacional A comunidade internacional está atenta à situação na Índia e diversos países já disponibilizaram a sua ajuda, enviando tudo aquilo que possa apoiar o país. Este domingo, chegou à Índia um avião que com cerca de 28 toneladas de equipamentos médicos de origem francesa, reportou a AFP.

Entre o equipamento é possível encontrar oito geradores de oxigénio de grande capacidade, destinados a produzir oxigénio medicinal a partir do ar para os hospitais. Estes geradores permitirão que cada central possa abastecer continuamente um hospital indiano com 250 camas sem interrupção por uma dezena de anos. “A Índia ajudou-nos no ano passado nos hospitais franceses, quando a necessidade de medicamentos era enorme. O povo francês lembra-se disso”, disse Emmanuel Lenain, embaixador da França na Índia.